Eólica offshore está conectada à agenda ESG do setor elétrico

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* Paulo Mantovani

 Com a perspectiva de o Brasil realizar o seu primeiro leilão de energia eólica offshore, o país se destaca mais uma vez por ter fontes inesgotáveis para geração de energia renovável. O Brasil tem capacidade para produzir 700 gigawatts, num litoral com sete mil quilômetros de extensão, segundo o Ministério do Meio Ambiente — potencial 20 vezes maior do que a média mundial.

A Agência Internacional de Energia Renovável (Irena, na sigla em inglês) prevê que, até 2050, a energia eólica se tornará a principal fonte do mundo, fornecendo mais de 30% das necessidades elétricas globais. A energia limpa está conectada à agenda ESG. A eólica offshore vem a colaborar com a transição energética no mundo. O Brasil se destaca no cenário internacional pelo alto índice de fontes renováveis em sua matriz. E segundo dados do PDE 2031, a previsão é de termos um futuro com mais geração de fontes renováveis na matriz brasileira.

 As melhorias tecnológicas, cadeias de fornecimento competitivas e economias de escala continuarão reduzindo os custos do modelo eólico offshore, posicionando-o como condutor da transição do setor elétrico. A localização de parques eólicos offshore tem muitas vantagens. Contudo, conforme a transição energética avança e a tecnologia evolui, os investidores e os mercados seguradores estarão focados nos seguintes desafios:

Localização – A consistência do vento é a chave para otimizar o desempenho do parque eólico. São necessárias abordagens melhoradas à tecnologia eólica, tais como plataformas flutuantes e cabos de maior tensão para alcançar eficiência na transmissão. Os riscos relacionados com a localização podem incluir:

  • Custos de construção mais elevados;
  • Maior exposição a condições climáticas extremas ou a eventos de catástrofes naturais;
  • Aumento dos custos de manutenção;
  • Disponibilidade limitada de empreiteiros de construção experientes.

Falhas de equipamento – As falhas podem levar à perda de receitas e afetar o retorno do investimento. As falhas comuns de equipamento podem incluir:

  • Falhas nas juntas em cabos de maior comprimento;
  • Danos nos cabos causados pelo seu movimento sobre a proteção contra a erosão do leito, exacerbados pela pesca e pela atividade oceânica;
  • Paragens prolongadas causadas por falhas no transformador.

Ampliação da tecnologia – O tamanho das turbinas está aumentando à medida que os investidores procuram maximizar a produção da geração. Os mercados de seguros têm uma abordagem cautelosa aos avanços não comprovados, o que se reflete na sua capacidade e taxas. A fabricação muitas vezes retarda a procura, e as peças de reposição podem exigir prazos de entrega mais longos.

Manutenção – Como os parques eólicos são construídos em águas mais profundas e mais longe da costa, a acessibilidade restrita do local pode causar atrasos na manutenção e reparos de falhas. Os padrões meteorológicos sazonais podem limitar o acesso e os horários de manutenção. A disponibilidade limitada de embarcações apropriadas e tripulações experientes pode causar atrasos. Os regulamentos locais definem requisitos para empreiteiros e equipes de manutenção, por exemplo, a Jones Act nos EUA exige que os transportadores locais prestem serviços a ativos em jurisdições definidas.

Financiamento de projetos e Seguros – A maioria dos projetos eólicos offshore são financiados por financiadores, com estruturas contratuais complexas. Para assegurar o capital, os investidores devem considerar:

  • Requisitos de seguro de todas as partes interessadas.
  • Um modelo apropriado de alocação de riscos.
  • Prováveis cenários de perda máxima.

Ilustrando a importância da análise sistemática de risco em todo o processo (projeto, construção e operação), traremos para a análise um case recente da proprietária de um parque eólico offshore no Mar do Norte, perto do Reino Unido. O seguro representava de 30% a 40% dos custos operacionais da companhia, que foram reavaliados pela seguradora.

Após uma análise consultiva mais apurada, utilizando dados e análises avançadas chegamos a um perfil de risco mais factível e realista. Essa abordagem reduziu em 28% o benchmark de perda máxima estimada e identificou que a empresa estava adquirindo uma cobertura de seguro maior que a necessária. Com isso, a companhia reduziu seu prêmio em 20% ao ano.

O papel das empresas do mercado de seguros é justamente oferecer mais controle sobre riscos a curto e longo prazo, elaborando programas de transferência de risco abrangentes e com boa relação de custo-benefício; envolver mercados seguradores globais e especializados; gerir a complexidade em todas as fases do seu projeto; e otimizar seu custo total de risco.

Essa abordagem metodológica sistemática assegura o alinhamento entre a transferência de riscos contratuais, os requisitos de seguro das partes interessadas e o perfil de risco específico de cada projeto. Uma análise factível reduz significativamente o custo do seguro em qualquer tipo de operação, inclusive na geração elétrica offshore.

Um seguro bem dimensionado e colocado de maneira eficiente garante que a matriz energética seja confiável e mantem os padrões de qualidade exigidos pelo sistema elétrico brasileiro. Com uma estratégia ESG bem definida, os termos de financiamento tem a possibilidade de ficarem mais competitivos e as seguradoras e resseguradoras, certamente, terão mais apetite (capital disponível e interesse) nos projetos de energia eólica offshore.

*Paulo Mantovani é Diretor de Energia e Mineração da Marsh Brasil

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