Entrevista com Leonardo Rezende, secretário de Agricultura, Pecuária e Abastecimento de Goiás

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Pedro Leonardo de Paula Rezende é secretário de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Servidor de carreira da Agência Goiana de Defesa Agropecuária (Agrodefesa). Ele foi presidente da Emater Goiás de março de 2019 a abril de 2023. Também é vice-presidente do Conselho Nacional dos Sistemas Estaduais de Pesquisa Agropecuária (Consepa) e membro do Conselho de Administração da Agência Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural (CDA/Anater). Nessa entrevista ao Canal-Jornal da Bioenergia, o secretário analisa os cenários atuais e futuros da agropecuária.

Canal – Jornal da Bioenergia:  Qual a sua avaliação dos cenários atuais e futuros da agropecuária no Brasil?

Pedro Leonardo: Apesar das oscilações dos preços nos mercados internacionais e do aumento dos custos de produção, o agro brasileiro vai muito bem sob muitos pontos de vista. Temos colhido grandes resultados na produção de grãos e nas exportações. Não tenho a menor dúvida de que o futuro é extremamente promissor. O Brasil já é um grande player internacional no setor de alimentos e será cada vez mais. Para usar uma expressão já consagrada, nosso desafio é qualificar nossa produção para que sejamos não apenas celeiro do mundo, mas supermercado do mundo, ou seja, agregar valor ao nosso produto.

E, claro, não dá pra falar de futuro do agro sem falar de sustentabilidade. Vejo o Brasil muito bem posicionado neste tema também. O setor está discutindo e avançando rápido no desenvolvimento e na adoção dos bioinsumos, por exemplo.

Pesquisas apontam que os negócios com biológicos crescem a uma taxa anual superior a 30% no País. Também temos grupos trabalhando em temas como Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF), com experiências bem-sucedidas. Há, inclusive, incentivos financeiros para isso por meio de programas como o Plano ABC+ (Agricultura de Baixo Carbono), com uma linha de crédito específica dentro do Plano Safra. Enfim, o setor está se movimentando muito nesta direção e este é um caminho sem volta. Sustentabilidade hoje significa acesso a mercados. Não é uma escolha para quem quer crescer no agro.

Canal: Como Goiás se posiciona nessa área e quais segmentos são destaques nacionais?

Pedro Leonardo: Goiás se destaca tanto na pecuária, com o segundo maior rebanho bovino do país, quanto na agricultura. Somos os maiores produtores nacionais de sorgo e girassol, e devemos ficar na terceira posição no ranking dos maiores produtores de grãos em geral na Safra 2022/2023.

No tomate, Goiás deve responder por quase um terço da produção brasileira em 2023, segundo o IBGE. Outro produto goiano que sempre chama a atenção é a cana-de-açúcar. De acordo com a Conab, Goiás deve fechar o ciclo 22/23 como segundo maior produtor de cana do País.

Mas, voltando à questão da sustentabilidade agropecuária, vale dizer que Goiás foi o primeiro Estado a criar uma legislação específica para os bioinsumos. A Lei nº 21.005, sancionada pelo governador Ronaldo Caiado em maio de 2021, criou o Programa Estadual de Bionsumos. Esta iniciativa se tornou uma referência para outras unidades federativas que estão em processo de criação e implantação de legislações próprias, contribuindo para o avanço do tema no País. Atualmente, o Governo de Goiás está trabalhando na implantação de uma rede de 13 biofábricas que vão possibilitar mais pesquisas sobre insumos biológicos e também maior difusão destas tecnologias para os produtores goianos, especialmente os pequenos. Nosso objetivo é fazer de Goiás o maior polo de inovação em bioinsumos do Brasil.

Canal: Quais os maiores desafios que a agropecuária tem pela frente em termos nacionais e regionais?

Pedro Leonardo: Além dos desafios do dia a dia, que são aqueles relacionados aos custos de produção, aos preços nos mercados internacionais e aos gargalos de infraestrutura, penso que o agro brasileiro tem alguns desafios estratégicos. Um deles é combater a imagem negativa que se criou a respeito do agronegócio e ressaltar sua importância econômica, social e cultural.

Todos nós estamos ligados ao agro porque consumimos produtos que vieram diretamente do campo ou que são derivados deles. Além disso, nossas famílias têm raízes no campo. O agronegócio cria empregos, ajuda a fixar pessoas no campo. Movimenta a economia, gera divisas. É um setor cada vez mais profissional e tecnológico. Claro, precisamos avançar no tema da sustentabilidade, como o mundo todo precisa. Mas estamos caminhando. Não há evento do agro hoje em dia que não tenha palestra ou workshop com tema relacionado à sustentabilidade. Estamos empenhados em avançar e estamos avançando.

O agro hoje deve ser visto como um aliado da causa ambiental, não um inimigo. E também temos o desafio de qualificar nossa produção. Não vamos parar de vender a soja em grão, mas podemos vender cada vez mais o óleo de soja. Podemos vender o pequi in natura, mas podemos vender o pequi em conserva também.

Canal: O que o Governo vem fazendo hoje para solucionar os maiores gargalos que a agropecuária enfrenta em Goiás?

Pedro Leonardo: São muitos programas e ações. Já citei o Programa Estadual de Bioinsumos, que está fazendo a diferença no tema da sustentabilidade e da redução da nossa dependência de insumos químicos convencionais, muitas vezes importados e dolarizados. Vale citar também o Fundeinfra, fundo criado recentemente para obras de infraestrutura com foco prioritário em demandas do setor produtivo. Quem decide onde os recursos serão aplicados é um conselho gestor formado por representantes do Governo de Goiás e de entidades do agronegócio, da indústria e do cooperativismo.

Também nesta área de infraestrutura, nos últimos quatro anos adquirimos mais de 800 máquinas e equipamentos que foram cedidas às prefeituras goianas para melhoria de estradas vicinais e apoio a atividades da agricultura familiar. Os recursos foram destinados pelo Governo Federal, a partir de emendas da Bancada Federal goiana, com contrapartida estadual. Estamos lançando o Programa de Aquisição de Alimentos Estadual (PAA Goiás), que adquire produtos da agricultura familiar para doação a famílias carentes atendidas por instituições sociais, atacando justamente o gargalo da comercialização que afeta o segmento.

Não posso deixar de citar o Projeto de Fruticultura Irrigada do Vão do Paranã. Este é um grande projeto que estamos desenvolvendo com parceiros estaduais e federais para criar oportunidades no Nordeste Goiano, uma das regiões mais carentes do Estado. Numa etapa inicial estamos implantando kits de irrigação em 150 propriedades da agricultura familiar e oferecendo assistência técnica para produção de manga e maracujá. O objetivo é criar ali um polo de fruticultura semelhante ao que existe em Juazeiro-Petrolina, uma experiência bem-sucedida que transformou aquela região. Enfim, queremos transformar a vida das pessoas por meio da inclusão produtiva.

(Canal-Jornal da Bioenergia)

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