Artigo/ Preços construtivos e fundamentos do mercado de açúcar

 

Passada uma importante mudança fundamentalista ao final de 2015, com a precificação do maior aperto na relação de oferta e demanda global de açúcar, as cotações da commodity seguiram a trajetória de valorização no decorrer desse ano, acumulando ganhos importantes na bolsa da ICE-NY#11. Analisando o histórico recente, apenas no segundo trimestre de 2016 as cotações dolarizadas em bolsa subiram 31% no contrato corrente, aproximando-se de 21.00 c/lb (nível não negociado desde 2012).

O principal motivo por detrás dessa forte alta continua baseado na visão de fundamento deficitário no balanço de produção/consumo de açúcar no mercado internacional por duas safra seguidas, as quais são estimadas pela INTL FCStone em -9,3 milhões de toneladas em 2015/16 (finalizada agora em setembro/16) e de -7,8 milhões de toneladas na 2016/17. Uma vez confirmado, isso traria uma forte redução na relaçao estoque/uso (para ao redor de 34%), níveis próximos da safra 2010/11, período no qual vimos preços máximos de 36.00 c/lb (com média da safra internacional de 28.20 c/lb). Nesse sentido, na visão da concretização desse cenário, houve uma enorme aposta dos fundos especulativos na valorização do mercado de açúcar, causando uma rápida explosão para as cotações e afetando as relações comerciais externas e internas. Para se ter ideia, do começo de Mar/16 ao final de Jun/16 a posição net long dos especuladores saltaram de 52 mil para 334 mil contratos, a qual representa quase 17 milhões de toneladas de açúcar (praticamente metade do volume esperado na safra 2016/17 inteira do Centro-Sul brasileiro, principal produtor mundial).

  Ainda, suportando a valorização do mercado, os canaviais de SP e PR sofreram com excesso de chuvas ao final de maio e começo de junho (dificultando a moagem da cana-de-açúcar) e agora preocupam também por ocorrência de geadas em algumas regiões. Contudo, a retomada e estabilização do clima seco por um mês (e projeção de continuidade) voltou a acelerar a realização e expectativa de processamento da matéria-prima e consequente produção de açúcar, a qual apresenta maior incentivo frente ao etanol, dado o elevado diferencial de preços (limitada tecnicamente pela capacidade industrial/liquidez financeira). No entando, a permanência do clima muito seco com ocorrências pontuais de geadas traz uma dúvida quanto à finalização da safra, que poderá sofrer com perda de produtividade.

Em relação ao mercado físico nota-se que após a formação do recorde nominal do indicador CEPEA-ESALQ (R$ 88,13/saca ao final de junho), as negociações voltaram a recuar, sinalizando uma expectativa de maior oferta no curto-prazo que já atinge negócios no spot. Mesmo assim, esses preços giram atualmente ao redor de R$ 82,00/saca (a depender de volume e qualidade), ainda muito altos frente ao mesmo período de 2015, quando negociavam ao redor de R$ 48,00/saca. Tal disparidade se justifica pelo elevado ritmo das exportações brasileiras (32% acima no comparativo anual até final de junho) e demanda importadora aquecida, dado a quebra de produção em importantes países do hemisfério-norte, como Índia, Tailândia e China (consequência do forte El Niño em 2015).

Concluindo, nesse trajeto construtivo para os preços, é de suma importância acompanhar os principais fundamentos do mercado de açúcar no âmbito internacional para maior apuração do resultado e proteção de margens de lucro, aproveitando-se de janelas de oportunidade. Ressalta-se, ainda, que em momentos de balanço internacional deficitário as arbitragens e correlações entre os preços internos e externos ficam mais sucetíveis à convergência em caso de novos avanços da bolsa, afetando diretamente as empresas com exposições financeiras à commodity.

Murilo F. Aguiar
é Consultor em Gerenciamento
de Risco – Açúcar & Etanol da
INTL FCStone- Artigo para Canal-Jornal da Bioenergia

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