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O papel do biometano e do biogás de vinhaça para a sustentabilidade da matriz energética

Além de utilizar o caldo, o bagaço e a palha da cana-de-açúcar para produzir etanol e bioeletricidade, que em 2016 representaram 17,5% de toda a energia ofertada no Brasil, o setor sucroenergético poderá contribuir ainda mais para a segurança e a sustentabilidade da matriz energética nacional ao aproveitar todo o potencial da vinhaça, um subproduto do etanol largamente utilizado como fertilizante na lavoura, para produzir biometano e o biogás. Ou seja, outro tipo de biocombustível e/ou bioeletricidade.

Para o consultor Ambiental e de Recursos Hídricos da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (UNICA), André Elia Neto, trata-se de uma excelente oportunidade diante do aumento na demanda por fontes renováveis no futuro, principalmente por conta das metas de “descarbonização” a serem cumpridas pelo Brasil até 2030 (Acordo de Paris).

O especialista, que no dia 14/09 participou de um workshop realizado pela Associação Brasileira de Biogás e Metano (ABBM) na sede da Pontifícia Universidade Católica (PUC), em Campinas, projeta a contribuição que a vinhaça poderia dar nos próximos 13 anos.

“Somente o biogás responderia, sozinho, por 1% da matriz, superando fontes não renováveis como urânio e querosene, por exemplo. Já o biometano geraria energia suficiente para atender 5% da demanda nacional de gás natural, representando no estado de São Paulo cerca de 15% do que atualmente é atendido pela rede canalizada”, ressaltou o especialista.

André Elia também apresentou estimativas dos benefícios ambientais e econômicos do uso do biometano de vinhaça na indústria sucroenergética. “Ele poderia praticamente zerar a emissão de gases de efeito estufa pelo setor como substituto do gás natural de origem fóssil ou mesmo do diesel na frota veicular da usina, tendo em vista o desenvolvimento da tecnologia de motores pesados a gás, uma realidade em alguns países”, explicou.

Convidado para integrar o primeiro painel do congresso, ao lado do subsecretário de Energia e Mineração do Estado de SP, Antonio Celso de Abreu Junior, e do presidente da Associação da Industria da Cogeração de Energia (COGEN), Newton José Leme, o consultor da UNICA enfatizou a importância de se implementar políticas públicas que alavanquem a produção e o uso do biogás/biometano no segmento canavieiro.

“O setor vem pesquisando o assunto há várias décadas, investindo em plantas demonstrativas e unidades pilotos. Até o momento a tecnologia não apresenta viabilidade econômica”, avaliou André. Em sua visão, para que isso mude será preciso que o governo adote medidas que diferenciem a energia verde da fóssil. Ou seja, políticas públicas que reconheçam, na prática, os benefícios socioeconômicos (emprego e renda) e ambientais (redução das emissões) proporcionados pelas fontes limpas.

Elia elenca três ações urgentes neste sentido: implementação do decreto 58.659/2012, que prevê a obrigatoriedade de mistura do biometano na rede de distribuição de gás no Estado de SP (percentual ainda não estabelecido); definição de um preço mínimo atrativo para a comercialização do biometano e da bioeletricidade sucroenergética; e a efetivação do Programa RenovaBio, que estimulará a redução das emissões de CO2 nos transportes com o incentivo aos combustíveis renováveis”, conclui.

O Workshop promovido na PUC, por iniciativa do presidente da ABBM, José Antonio Sorge, faz parte da 19ª Semana Integrada do Centro de Ciências Exatas, Ambientais e de Tecnologia (CEATEC), jornada focada em novas tendências, tecnologias e inovações de mercado, entre elas o biogás/ biometano. Além de representantes da UNICA da COGEN, o evento promovido pela PUC e ABBM teve a presença de executivos das empresas CPFL, Grupo SOLVI, AUMA, Geotech, Awite Bioenergia, AgE Tecnologias Meio Ambiente, Saneamento & Ambiência, CHP Brasil, Pentair, Ágora Energia e CHP Brasil.

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