Trator T6.140 Biometano da New Holland durante a 39ª Expointer, que ocorre entre os dias 27 de agosto e 04 de setembro de 2016 no Parque de Exposições Assis Brasil, em Esteio/RS. FOTO MARCOS NAGELSTEIN/ZAP

Uso de biometano em frota de veículos pesados

Uso de biometano em frota de veículos pesados é realidade. O biometano é um biocombustível oriundo do biogás, que é produzido a partir da decomposição da matéria orgânica. Seu uso em frotas de veículos pesados contribuiria ambiental e economicamente, podendo minimizar a dependência de combustíveis fósseis, já que emite 85% menos gases de efeito estufa em relação ao diesel e pode suprir 44% da demanda do país, com pegada negativa de carbono.

Especialmente quando comparado com a substituição de diesel, o biometano reduz em até 300% as emissões de gases do efeito estufa, além de ser economicamente mais vantajoso. “Soma-se que o biometano é um combustível limpo e renovável e se fosse aproveitado integralmente, poderia abastecer quase 25% da frota nacional”, explica a secretária executiva da Associação Brasileira do Biogás e do Biometano (ABiogás), Camila Agner D’Aquino.

O diesel brasileiro é importado e tem a maior emissão de gases de efeito estufa (GEEs) dos combustíveis atuais. “A sua substituição por biometano resultaria em aumento de arrecadação dos governos com a produção local desse energético, criação de empregos, redução das emissões, melhoria da qualidade do ar – reduzindo os gastos com saúde pública – e, ainda, destinação adequada dos resíduos hoje descartados incorretamente. Esse passivo ambiental seria visto como um produto para geração de energia limpa e sustentável”, diz Camila. Além disso, o biometano possui pegada negativa de carbono, tem estrutura de preço estável, não sofre com oscilações cambiais e variação do preço internacional e tem competitividade frente ao diesel.

Perspectivas

Conforme esclarece Camila Agner D’Aquino, o Brasil tem potencial para produzir 80 milhões de metros cúbicos por dia de biometano, o que significa a substituição de quase 50% do diesel consumido no país. “A ABiogás acredita que seu uso não apenas pode se tornar real em larga escala, mas que isso deva ocorrer até 2030, com todas as iniciativas atuais (Renovabio, Gás para Crescer, Combustível Brasil etc.). Para que possa se tornar realidade, as linhas de financiamento e o preço desse energético devem refletir suas externalidades positivas, de maneira a chegar em um nível de amadurecimento da tecnologia que permita sua inserção definitiva na matriz brasileira”, finaliza.

A Itaipu Binacional já desfruta de algumas opções disponíveis para garantir que suas atividades tenham impacto ambiental reduzido. Atualmente, com o projeto Mobilidade a Biometano, 21 camionetas modelo Mitsubishi L200 e 57 veículos leves são abastecidos com o combustível. O consumo por veículo é variável, dependendo do uso do veículo. De acordo com a assessoria de imprensa do Centro Internacional de Energias Renováveis–Biogás (CIBiogás), no ano de 2017 foram abastecidos aproximadamente 12 mil metros cúbicos de biometano.

A utilização de biometano gerou uma economia no ano de 2017 de aproximadamente 17 mil litros de etanol. O projeto tem o objetivo de fomentar a mobilidade a biometano, produzido a partir de resíduos gerados no complexo Itaipu Binacional e dejetos de animais da região oeste do Paraná. O uso do biometano evita a poluição em duas frentes: como o metano é separado do gás carbônico, utilizando uma biorrefinaria, este deixa de ir para a atmosfera e vai parar a câmara de combustão dos motores dos veículos, lá sendo queimado para produzir energia e movimentar o veículo. A queima de metano no motor de combustão gera apenas uma menor quantidade de CO2.

Conforme explicou a assessoria da Itaipu Binacional,  algumas dificuldades ainda precisam ser superadas. Um delas é a oferta reduzida de serviços de vistoria a serem feitos nos veículos. Elas estão disponíveis, geralmente, apenas em regiões onde o GNV já é difundido/ofertado. Desta forma, se a utilização dos veículos ocorre na parte mais interiorana do país, há a necessidade do deslocamento até as regiões com empresas que prestam esses serviços. Contudo, além das vantagens de economia no consumo de combustível (o biometano pode chegar ser a 30% mais eficiente em relação ao etanol), há uma redução do IPVA para veículos movidos a GNV/Biometano.

Veículos

 A Scania trouxe para o país um ônibus movido a biometano em 2014. Em 2016, a empresa apresentou um veículo similar nacional, o primeiro nesta configuração no Brasil. O motor é movido com GNV, biometano ou uma mistura dos dois, em qualquer proporção, uma solução de mobilidade sustentável.  O ônibus oferece redução de poluição sonora e emissões. Em comparação com um veículo similar a diesel, ele emite 85% menos gases poluentes, se abastecido com biometano.

Eduardo Monteiro, gerente de desenvolvimento de mercado Scania, explica que a produção do veiculo veio em meio a um processo de desenvolvimento de ônibus movido a gás, seja fóssil ou não, desde os anos 1940. “Ao longo do tempo, dificuldades foram sendo superadas em função de novos recursos. Essa versão do ônibus faz ajustes nos componentes de forma que o veiculo esteja sempre entregando a melhor performance. As dificuldades que existiam lá atrás foram superadas graças à quantidade de tecnologia.” Ele relembra que, no passado, a rede de distribuição de gás não era tão extensa como é hoje, o que era também um limitador.

Hoje, ao menos nas capitais, essa distribuição de gás está melhor estruturada. Entretanto, em relação ao biometano, Eduardo considera que existe dificuldade por não haver ainda sua oferta em grandes quantidades. “A produção de biometano ainda é pequena, não suficiente para tocar grandes frotas, mas percebemos que existe um potencial enorme. Ele está nos objetivos de boa parte das grandes cidades, que são aquelas que mais geram dejetos. Naturalmente existe uma preocupação com relação a isso: se não fizerem nada, isso vai poluir, contaminar solo etc. As grandes cidades têm voltado olhar para essa produção.” Sua perspectiva é que esse cenário mude num prazo de 10 anos.

A opção possui custo operacional menor frente aos demais modelos tradicionais, movidos a diesel. Seu custo, entretanto, é em torno de 20 a 30% superior, dependendo da característica da aplicação local. “Todo esse investimento se paga no segundo ou terceiro ano de aquisição. É importante que essa comparação leve em consideração que o motor movido a biometano já é melhor que o Euro 6. O Euro 6 a diesel, quando vier, imagino que será mais caro. Nesse momento estaríamos comparando veículos de mesma complexidade”,  diz Eduardo, fazendo referência aos padrões estabelecidos pelo governo, que exige que veículos emitam nível de poluidores classificados como Euro 5, uma norma internacional. A partir de 2022 (previsão ainda não certa), os veículos deverão diminuir o número de emissões, será o Euro 6. Hoje operam no Brasil ônibus e caminhões Euro 5, com níveis tecnológicos diferentes.

A New Holland também apresenta um veículo pesado movido a biometano: um trator conceito construído usando como base os protótipos anteriores do T6 movido a metano. Seu motor possui 6 cilindros, desenvolve 180 hp e 740 Nm: mesma potência e torque que o equivalente a diesel. O trator possui a mesma durabilidade e intervalos de serviços e uma operação mais silenciosa, com nível de ruído reduzido em até 3 dBA, ou seja, diminuição de cerca de 50% no ruído. O diretor de marketing de produto da New Holland, Eduardo Kerbauy, comenta que a nova versão tem potência maior, além de aumento da performance em termos de torque. “Ele pode fazer qualquer trabalho que o motor movido a diesel faria. A autonomia dos dois é a mesma.”

O grande diferencial do modelo é com relação aos custos e poluentes. O custo operacional estimado é de até 30% menos com relação ao movido ao diesel, percentual variável devido ao custo do combustível fóssil em cada região. Já a emissão de poluentes é 80% menor do que motores movidos a diesel, sendo 10% menos de emissões de CO2.  O desempenho ambiental melhora ainda mais quando alimentado por biometano produzido a partir de restos de colheitas e resíduos de culturas energéticas de origem agrícola, o que resulta em emissões de CO2 próximas a zero.  “Além disso, há a independência energética do agricultor, caso ele possua um biodigestor em sua propriedade”, comenta Eduardo Kerbauy.

Ana Flávia Marinho-Canal-Jornal da Bioenergia

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