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Um futuro sustentável passa pelos biocombustíveis

Entre prognósticos de um futuro inviável para a sobrevivência humana e de alternativas sustentáveis e economicamente acessíveis de geração de energia, especialistas, estudantes, representantes do poder público e do setor privado discutiram nesta terça-feira (16/10) a política nacional de biocombustíveis, com foco no programa RenovaBio. O evento, realizado no Teatro Asklepiós, da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Goiás (FM/UFG), integrou a programação do 15º Congresso de Pesquisa, Ensino e Extensão (Conpeex).

O RenovaBio é um programa do governo, aprovado em 2017, que tem como objetivo o cumprimento das metas de descarbonização firmadas pelo Brasil no Acordo de Paris. Ele pretende incentivar o desenvolvimento e a inovação do setor dos biocombustíveis a partir de uma política de longo prazo que valorize os combustíveis mais eficientes em termos de redução das emissões.

O primeiro painel do evento reuniu pesquisadores que abordaram o cenário dos biocombustíveis em diferentes aspectos. O diretor do Departamento de Biocombustíveis da Secretaria de Petróleo e Gás do Ministério de Minas e Energia (MME), Miguel Ivan de Oliveira, apresentou os problemas provenientes da emissão de gás carbônico na atmosfera. “Se parássemos hoje de cortar qualquer árvore e de usar petróleo, só em 600 anos conseguiríamos ter os mesmos níveis de gás carbônico de 1923”, revelou.

A solução, segundo o diretor, é produzir energia e absorver esse gás poluente, o que é possível com os biocombustíveis. Um dos entraves é o mercado do petróleo, que pratica preços mais competitivos e torna a produção de etanol, por exemplo, pouco competitiva. “O futuro são os biocombustíveis. O carro, no futuro, será movido a combustível produzido pela biomassa, que tira gás carbônico e transforma em energia, tratando lixos e resíduos orgânicos. Para o Brasil, isso é essencial”.

O coordenador do Núcleo de Pesquisa e Extensão em Tecnologias de Processos Sustentáveis do Instituto Federal de Goiás (IFG), Joachim Werner, apresentou as potencialidades do biogás, com exemplos de reatores instalados e em funcionamento no mundo e no Brasil, incluindo Goiás. O biogás é produzido por micro-organismos por meio da decomposição da matéria orgânica, como esterco, lodo dos esgotos, resíduos domésticos e efluentes industriais.

Importância da ciência

A UFG possui pesquisas relacionadas à produção de biocombustíveis. No evento, o professor do Instituto de Química e coordenador da Rede Brasileira de Tecnologia de Biodiesel do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC), Nelson Antoniosi, apresentou os avanços científicos obtidos na instituição. Um deles é a produção de biodiesel a partir de microalgas, com capacidade de produção maior que a da soja. O resultado também foi obtido a partir da borra de café, que também demonstrou ter propriedades de filtragem da água.

“Goiás é um dos grandes produtores de bioenergia do país, e o RenovaBio tende a impulsionar esse setor. Esperamos que muito em breve o Estado seja muito mais rico do que é. Mas não adianta só Goiás enriquecer. Um programa de energia e de desenvolvimento econômico precisa de distribuição de renda”, afirmou.

Já o superintendente da União Brasileira do Biodiesel e Bioquerosene, Donizete Tokarski, falou sobre a expectativa de utilização desses combustíveis em relação ao diesel fóssil. Atualmente, 44% da matriz veicular usa o tipo fóssil, enquanto apenas 3,7% são movidos a biodiesel. Existe, portanto, uma janela de oportunidade para o combustível limpo, mas que, segundo o superintendente, depende de vontade política. “Seria possível, por exemplo, aumentar a mistura de biodiesel na frota dos ônibus do transporte coletivo”, comentou.

O painel foi finalizado com a participação do coordenador-geral de Desenvolvimento e Inovação em Tecnologias Setoriais do MCTIC, Rafael Silva Menezes, e do coordenador-geral de Inserção de Novos Combustíveis Renováveis do MME, Marlon Arraes.

Diálogo

Na abertura do evento, a coordenadora do Núcleo de Estudos Globais da UFG, Laís Forti Thomaz, destacou a importância do diálogo entre a academia, o setor privado e a sociedade. Ela considerou o RenovaBio uma política de Estado que atende demandas antigas do setor. “Temos muito o que aprender e entender como o governo a concebeu e os desafios relacionados à regulamentação e à implantação dessa política”.

O reitor da UFG, Edward Madureira Brasil, ressaltou a envergadura nacional do evento, dada a importância de seus participantes. “Esse tema é vital não só para a economia goiana ou do Brasil, mas também para o futuro da nossa existência”, atestou. Para o reitor, o Estado deve estar presente em questões estratégicas relacionadas à ciência e à tecnologia, que também devem ser incorporadas pelo setor privado como possibilidade de investimento, com perspectiva real de resultados e com responsabilidade e sustentabilidade.

 Secom/UFG

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