Imagem ilustrativa

UFSCar quer usar tecnologia da Unicamp para identificar leveduras em usinas de etanol

Uma tecnologia desenvolvida na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), capaz de identificar de forma mais rápida e barata as linhagens de leveduras usadas na produção de etanol, foi licenciada para a Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). Os pesquisadores querem, com isso, oferecer um serviço especializado às usinas de cana-de-açúcar para detecção das linhagens que sejam mais eficazes para o setor sucroenergético. O trabalho poderá resultar numa oferta maior de leveduras no mercado para diversas áreas, como o de cerveja e pães.

Atualmente, a indústria de etanol utiliza leveduras já conhecidas e estabelecidas no mercado, como a CAT 1 e a Pedra 2. Porém, muitas vezes, elas são sobrepostas e o processo é dominado por outras leveduras que chegam com a própria cana-de-açúcar, o que reduz a capacidade de produção nas usinas.

A proposta do Laboratório de Bioquímica e Genética Aplicada da UFSCar é usar a tecnologia da Unicamp para fazer um mapeamento das leveduras existentes nas usinas e, com isso, identificar quais linhagens são mais eficientes para a produção do etanol.

“Será possível atender as usinas de forma personalizada e nosso laboratório está preparado para isso. Ao longo da safra conseguiremos identificar qual levedura domina o processo na usina, produzi-la industrialmente e usá-la na produção do etanol”, afirma o professor Anderson Ferreira da Cunha, coordenador do Laboratório de Bioquímica e Genética Aplicada da UFSCar.

A tecnologia,  desenvolvida no Laboratório de Genômica e Bioenergia do Instituto de Biologia (IB) da Unicamp, utiliza a técnica Reação em Cadeia da Polimerase (PCR), que consiste na amplificação de uma região específica de DNA da levedura, de modo que o teste é feito em porções específicas, como se fosse um teste de paternidade. Também permite identificar trechos da levedura com mais precisão, o que possibilita às usinas utilizarem linhagens mais eficientes.

O método é mais barato do que o utilizado atualmente para esse tipo de trabalho: a cariotipagem. Nessa técnica, é feita a separação de cromossomos dentro da levedura. Trata-se de um método mais tradicional, caro e demorado. Com a tecnologia desenvolvida pela Unicamp é possível obter o resultado dentro de dois dias.

“A tecnologia consegue fazer o isolamento de uma massa de levedura, por exemplo, que está na dorna de fermentação. Ao separá-la por grupos é possível identificar quais deles são iguais e diferentes entre si. Isso possibilita, na sequência, analisar a qualidade e as características dessas linhagens e para o que são mais apropriadas”, explica Gonçalo Amarante Guimarães Pereira, professor  do Laboratório de Genômica e Bioenergia da Unicamp. Ele é um dos autores da invenção, junto com o também professor do IB, Marcelo Falsarella Carazzolle.

A contaminação por leveduras inadequadas ocasiona, muitas vezes, a paralisação da produção de etanol nas usinas, o que envolve a produção de cerca de 1 milhão de litros de etanol por dia.

“Se a usina começar a produção da safra com a linhagem predominante, o processo produtivo será mais estável. Também será possível antever quando a levedura não adequada predominar sobre o processo e adicionar, no momento certo, a linhagem mais eficiente, prevenindo prejuízos”, disse o professor da UFSCar.

A expectativa é que, em duas ou três safras – o equivalente a dois ou três anos – seja possível  identificar qual levedura é predominante e mais eficiente para ser usada em cada usina. arceria com a Unicamp resultou em um banco de linhagens
A obtenção do licenciamento da tecnologia foi feita por meio da Agência de Inovação Inova Unicamp. Mas, antes disso, um experimento colaborativo entre a Unicamp e o laboratório da Ufscar resultou na obtenção de um banco de leveduras com aproximadamente 500 linhagens diferentes. O trabalho foi realizado por meio de uma linha de pesquisa da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), na Usina São Luiz, em Ourinhos (SP).

“O meu propósito dentro da Usina São Luiz foi fazer a identificação da linhagem para aplicação no processo industrial e ampliar a oferta de leveduras para o setor sucroenergético”, disse Cunha, que foi aluno do professor Pereira na Unicamp e trabalha com essa temática desde seu mestrado e  doutorado.

Agora, estão sendo avaliados os dez anos de pesquisa para identificar qual linhagem é predominante nesta usina. “Nosso objetivo é aproveitar a experiência da Usina São Luiz para adentrar o setor sucroenergético”, afirma o pesquisador da UFSCar.

O valor desse trabalho custaria cerca de R$ 20 mil a R$ 30 mil por safra para as empresas. Além dos royalties obtidos pela Unicamp por esse licenciamento, a prestação de serviço pela UFSCar gerará renda para o seu laboratório.

Descoberta de linhagens para outras áreas

O trabalho junto às usinas poderá contribuir também com a identificação de linhagens adequadas e interessantes para serem usadas em outras áreas para além do etanol, como para pães e vinho, por exemplo. “Hoje temos linhagens que foram isoladas, no processo de produção de etanol, e serão usadas para a produção de cerveja pelos seus compostos aromáticos”, disse o pesquisador da UFSCar.

A tecnologia da Unicamp contribui para o avanço deste mercado, pois permite que os pesquisadores tenham uma visão micro da levedura, identificando pequenas diferenças nas leveduras, o que não seria tão eficaz na cariotipagem.

“O licenciamento da tecnologia para universidades tem se mostrado muito importante, pois elas, as universidades, têm capacidade de desenvolver processo e ser uma referência para empresas e setores diversos”, disse o pesquisador da Unicamp. Inova Unicamp

Veja Também

Projeto obriga governo federal a abastecer veículos da administração publica com etanol

O Projeto de Lei 3013/24 obriga a administração pública federal a abastecer a frota própria …