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Sistema MPB do IAC tem resultados superiores ao obtido no plantio de cana tradicional

A ciência reúne, dentre os seus benefícios,a geração de novos e eficientes modos de fazer o que já vem sendo realizado pela humanidade. Na trajetória da pesquisa científica são esperadas respostas inéditas, novas soluções e modernos mecanismos que chegam para facilitar a vida ou tornar melhor o que já existe. Plantar cana-de-açúcar, por exemplo. Considerada a atividade agrícola mais antiga no Brasil, desde sempre o seu plantio foi feito da mesma maneira. Até que em 2009, o Instituto Agronômico (IAC) desenvolveu o Sistema de Mudas Pré-Brotadas (MPB), que transforma um conceito de séculos de plantio ao retirar o colmo-semente da linha de cultivo e introduzir uma planta — a muda pré-brotada.
Criada a nova tecnologia, o passo seguinte foi compartilhá-la com o setor de produção. Em 2015, deu-se início à transferência do pacote tecnológico a agricultores, que passaram a ser treinados pelo IAC, por meio do Projeto de Validação do Sistema de Mudas Pré-Brotadas (MPB). Este ano, começou a ser feita a mensuração de desempenho. Os resultados comprovam as altas taxas de multiplicações, chegando a 1:77, o que significa que o método inovador de plantar cana-de-açúcar é até 20 vezes superior ao plantio tradicional mecanizado. Com esse desempenho, 100 metros de mudas originam 7.700 metros multiplicados a partir do MPB. “Na forma tradicional de plantio de cana, a multiplicação tem sido de 1:5. Isto é, ao plantar 100 metros, o produtor alcança 500 metros de mudas”, explica o pesquisador do IAC e coordenador do trabalho, Mauro Alexandre Xavier.
O sistema desenvolvido pela ciência paulista representa uma inovação no modo de plantar cana. Trata-se deuma tecnologia que associa produção rápida de mudas, com elevado padrão de fitossanidade, vigor e uniformidade de plantio. O MPB também reduz volume de mudas na operação de plantio e proporciona ganhos com boa gestão da população de colmos, além de melhorar aspectos de qualidade. Um dos grandes benefícios do sistema MPB está na redução da quantidade de mudas levadas a campo. Para a instalação de um hectare de cana, o consumo de mudas cai de 18 a 20 toneladas, no plantio convencional, para 1,8 a 2 toneladas no MPB. Portanto, uma redução de até 90% em material de propagação. “Isso significa que 18 toneladas que seriam enterradas como ‘mudas’ irão para a indústria produzir etanol, açúcar e energia elétrica, transformando-se em ganhos ao produtor”, afirma Xavier.
A taxa de multiplicação, considerada uma das metas do projeto, passou a ser quantificada em março de 2016, quando os primeiros resultados já confirmaram as expectativas. No início do trabalho, cada participante tinha 100 metros de mudas de cada uma das quatro variedades IAC que integram o pacote tecnológico transferido aos participantes. Plantadas em março deste ano, começaram a render uma área de plantio que variava, dependendo da variedade adotada, de 4.000 a 6.666 metros. “Esta área alcançada é o equivalente a um hectare”, diz o pesquisador.
Esses dados são usados para avaliar o processo em cada um dos sete polos produtores de MPB, que participam do Projeto de Validação, considerando que existe uma meta a ser alcançada em cada etapa. “O MPB está direcionado para aumentar a eficiência e os ganhos qualitativos na implantação de viveiros, replantio de áreas comerciais e renovação de canaviais”, completa Xavier.

Validação do MPB

O Projeto de Validação do Sistema de Mudas Pré-Brotadas (MPB) objetiva reduzir o tempo de adoção das novas variedades desenvolvidas pela pesquisa agronômica e oferecer treinamento ao canavicultor, capacitando-o para a retomada da gestão sobre o seu plantel varietal. Iniciado em março de 2015, o projeto chegou, após um ano, à fase de produção efetiva de mudas pré-brotadas. Em março e abril de 2016, foram feitos os primeiros plantios com mudas originárias das variedades IAC adotadas na validação. “O MPB pode ser trabalhado dentro de um novo sistema de produção de cana, ele é uma engrenagem que está lá no início do processo”, esclarece o pesquisador.
A interação entre os participantes é o ponto alto deste projeto piloto. A equipe do IAC se junta aos canavicultores, por intermédio da Cooperativa Agroindustrial (Coplana) e da Associação dos Fornecedores de Cana de Guariba (Socicana), entidades que lançaram o programa +Cana, direcionado ao treinamento de produtores para uso da tecnologia desenvolvida pelo Instituto Agronômico, da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo.
“A colaboração do Programa Cana IAC está alicerçada na pesquisa, por meio do lançamento criterioso de variedades de cana e de novas tecnologias para o manejo da cultura. A Coplana e a Socicana têm o papel de dar suporte e difundir essas tecnologias do IAC, principalmente através da capacitação de recursos humanos e assistência técnica diferenciada”, diz o presidente da Coplana, José Antonio Rossato Junior.
Nesse trabalho, o pesquisador vai até o agricultor, conhece suas necessidades e dificuldades, interage e propõe soluções tecnológicas compatíveis com a realidade local. O canavicultor escolhe a variedade em função do ambiente de produção, de acordo com a estratégia de regionalização varietal, que orienta onde cada material deve ser plantado. Foram disponibilizadas quatro variedades do Instituto Agronômico — IAC 91-1099, IACSP95-5000, IACSP95-5094 e IACSP97-4039. Esses materiais são adaptados às regiões dos polos de produção participantes, localizados nos municípios paulistas de Pradópolis, Dumont, Guariba, Jaboticabal, Taquaritinga, Catanduva e José Bonifácio.
“O principal motivo para eu fazer parte do projeto foi o acesso a novas variedades de cana, com maior potencial produtivo. Com o MPB, o produtor rural tem em sua propriedade acesso a novas variedades, mais produtivas e livres de pragas, com custo de plantio mais baixo”, afirma Ricardo Bellodi Bueno, produtor de cana em Jaboticabal.
O pesquisador do IAC destaca o comprometimento e a organização dos sete associados selecionados pela Coplana para participar do projeto +Cana. “O que me levou a entrar no projeto piloto foi a inovação e a busca por maior produtividade. A dificuldade em escolher as variedades para o lugar correto, a sanidade e a qualidade das mudas me levaram a buscar essa tecnologia do MPB”, diz Sérgio Donizete Pavani, canavicultor em José Bonifácio.
O empenho dos usuários das tecnologias, somado à dedicação dos pesquisadores, tem resultado na superação de expectativas ao longo da execução do projeto piloto, previsto para ser concluído em março de 2017. “A característica de simplicidade não pode ser confundida com fazer de qualquer jeito, porque tem metodologia, protocolos e princípios; daí a importância de haver treinamento e acompanhamento”, diz o pesquisador.
Pavani sugere a outros produtores que adotem o MPB, pois, para ele, é preciso ser independente e conhecedor de novas tecnologias na canavicultura. O acesso a esse programa deve ser feito por meio de associações e cooperativas. Há solicitações de diversos grupos para o estabelecimento de parcerias, mas é necessária a existência de estrutura para atender adequadamente a novos interessados. “Após a validação, é natural que o trabalho seja replicado para outros associados. A tendência é que se expanda”, diz Xavier.

Inovação contempla o produtor de cana, independentemente do porte

Ao longo de um ano de trabalho prático, os participantes do +Cana tiveram encontros de treinamento no Centro de Cana do IAC, em Ribeirão Preto, e na Coplana, em Guariba, no interior paulista. Além desses momentos, cada polo produtor também foi recebido individualmente no Instituto Agronômico, no treinamento chamado Dia do Produtor Dentro do Centro de Cana. Nestes eventos, a equipe do IAC orientou, particularmente, cada grupo e, ao final do dia, entregou o kit de pré-brotação, desenvolvido pelo IAC, que inclui um cortador de minirrebolos, um equipamento de tratamento químico, o material genético e um protótipo da câmara de brotação.
O produtor conduziu as variedades, em viveiro, durante nove meses, sob a orientação do Instituto. Na segunda etapa do trabalho, foi entregue o kit de pré-brotação e feita a replicação das variedades recebidas. O projeto será usado também para validar o kit de pré-brotação de mudas diretamente junto aos usuários, em suas realidades.
“Esta tecnologia vem para facilitar o trabalho do produtor de cana, pretendo dar continuidade ao sistema em minha propriedade. Com absoluta certeza, o MPB vem para ficar”, opina Bueno.
Segundo o pesquisador e líder do Programa Cana IAC, Marcos Guimarães de Andrade Landell, o Programa tem por princípio a interação com o setor sucroenergético. Esta nova parceria, porém, diferencia-se por transferir, além de variedades, tecnologia e informação de modo bem didático. “Elaboramos cada passo com base no conhecimento que temos do universo do setor e, sobretudo, cientes das realidades existentes nas grandes estruturas e nas pequenas propriedades. Conhecer as dificuldades é fundamental para propor a solução adequada, na medida para ser efetivamente incorporada no cotidiano da canavicultura”, avalia Landell.
Com essa transferência de informações e de pacote tecnológico pretende-se contribuir para a autonomia do canavicultor em relação à produção de mudas. No modelo vigente, o fornecedor de cana tem grande dependência em relação à estrutura das usinas, caracterizadas por grandes escalas em suas dinâmicas. Outra importante contribuição dessa ação está na redução do tempo para o agricultor adotar as novas variedades desenvolvidas pelo IAC. Esse resultado deverá ser alcançado graças ao modelo projetado pelo Programa Cana IAC, em que o canavicultor recebe o material genético dos mais recentes materiais do Instituto e ele mesmo multiplica as mudas, com garantia da autenticidade varietal.
A equipe avaliou que o tempo para o setor adotar cultivares recém-lançadas tem sido superior ao prazo necessário para se chegar ao desenvolvimento uma nova variedade. “Isso nos alertou para agir no sentido de quebrar essa distância entre a pesquisa e a adoção”, diz Xavier.
De acordo com Landell, o sistema MPB já está devidamente incorporado pelas usinas, que tão logo compreenderam as vantagens da tecnologia, inseriram-na em seus núcleos de produção. No interior paulista, o sistema já é usado nas usinas São Martinho, em Ribeirão Preto, e Abengoa, em Mococa. Em solos goianos, está na Jales Machado, em Goianésia, na Goiasa, em Goiatuba, e na usina Denusa, em Jandaia. Também está na usina Miriri, em João Pessoa, na Paraíba. Usinas da Bunge, com unidades no Norte paulista e Tocantins, também já adotaram.

Parceria com o setor

A Coplana e Socicana são parceiras do Programa Cana IAC há anos. Nesse caso específico, foi reunida a geração de soluções tecnológicas do IAC com o poder de disseminação das entidades representativas.
Para participar do projeto, a Coplana e a Socicana selecionaram canavicultores associados. Ao todo, 23 se inscreveram. Entre os participantes, há os que produzem 200 hectares de cana e também os que plantam cinco mil hectares. “Isso mostra que essa inovação independe da escala de produção. Ela pode ser utilizada por todos”, afirma Xavier, responsável pelo sistema. Após a validação, todos os produtores parceiros da Coplana e Socicana terão acesso ao processo de produção de MPB.

Assessora de imprensa – IAC

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