Avanço nas pesquisas com microalgas para produção de biocombustível

O biocombustível de microalgas tem uma vantagem importante: diferente de outras matérias-primas de fontes renováveis: como cana-de-açúcar, soja e milho não precisa de grandes áreas para a produção. Mesmo sem uma previsão de quando será possível produzir o biocombustível de microalgas em larga escala, os estudos têm sido intensificados. De acordo com o pesquisador da Embrapa Bruno Brasil, a viabilidade técnica de produzir biocombustível a partir das microalgas já é conhecida há algumas décadas e as pesquisas se iniciaram nos EUA. “Nós tivemos programas de utilização de microalgas para biocombustíveis que foram conduzidos durante as décadas de 80/90 nos Estados Unidos e no Japão, que desenvolveram boa parte da tecnologia que nós temos disponível hoje”, afirma.

No final da década de 90, o preço do barril de petróleo despencou e vários países deixaram de investir em fontes de combustíveis renováveis para reduzir os custos. No começo dos anos 2000 o interesse em combustíveis que não são fósseis voltou e com grande intensidade.
As inúmeras possibilidades de utilização das algas para a produção de biocombustível atraíram o interesse de grandes conglomerados comerciais, laboratórios e institutos de pesquisa, que passaram a desenvolver novas tecnologias.

Microalgas e as pesquisas
No Brasil, algumas iniciativas começaram de forma tardia e descentralizada. Segundo o pesquisador da Embrapa, hoje já existem grupos de pesquisadores trabalhando no cultivo de microalgas para produção de biomassa com destaque para algumas universidades. “Há quinze anos poucas universidades e institutos de pesquisa tinham um programa de pesquisa em microalgas. Hoje já existem algumas instituições, mas ainda são poucas as que têm uma planta piloto para produção de biomassa”, diz.
Dentre as universidades e centros de pesquisas brasileiros que possuem programas ligados ao desenvolvimento de biocombustível de microalgas destacam-se as Universidades Federais do Paraná (UFPR), da Bahia (UFBA), do Rio de Janeiro (UFRJ), a do Rio Grande do Norte (UFRN), a de Santa Catarina (UFSC) e a Universidade Federal do Rio Grande (FURG)”, afirma o pesquisador.

Petrobras, Finep e Embrapa
Entre os programas de pesquisa em rede sobre microalgas no Brasil o primeiro foi o da Petrobras. A empresa estabeleceu uma rede de pesquisas com algumas universidades e, desde 2005, vem trabalhando em parceria com as instituições. O segundo projeto foi financiado por um edital do Fundo de Financiamento de Estudos de Projetos e Programas (Finep), que em 2008 teve a participação de dez universidades. A coordenação desse grupo pertence à Universidade Federal de Goiás (UFG). Já o terceiro programa pertence à Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa).

Os avanços da Embrapa
A pesquisa da Embrapa começou em 2013 e conta com a parceria de quatro instituições sob a coordenação do pesquisador Bruno Brasil. Sobre as redes de pesquisas ele afirma: “Eu diria que as redes de pesquisas estão bem estruturadas porque têm equipes multidisciplinares, bem qualificadas e que dispõe de infraestrutura laboratorial para as diversas etapas do processo, não é só produção de biomassas. A desconstrução da biomassa e a produção de combustível vêm antes de realizar o cultivo da alga; a seleção de algas, o melhoramento genético das algas, todo esse trabalho tem que ser feito em força conjunta. É isso que estamos tentando aqui na Embrapa.”
Para o coordenador de Pesquisa de Agroenergia da Embrapa, Bruno Brasil, o mais importante é não ficar na dependência de uma única matéria-prima para a fabricação de biodiesel. “A demanda energética vai sempre aumentar, quanto mais fontes complementares, melhor. A ideia é diversificar a matriz energética para não dependermos só de uma fonte”.

Microalgas podem causar desequilíbrio ambiental?

As microalgas podem ser cultivadas em pequenos espaços, diferentemente de outras fontes renováveis como soja, mamona ou cana- de-açúcar. O Chile, por exemplo, tem uma grande área de deserto e apostou em cultivar microalgas ao invés de plantar alimentos como soja, cana-de-açúcar.
De acordo com o pesquisador Bruno, cultivar algas para produção de biocombustível não causa desequilíbrio ambiental. “Não é retirar algas que já existem no ambiente. Elas vão ser cultivadas em um processo agroindustrial, parecido com o que se usa para aquicultura em tanques. Não é um processo extrativista da natureza. Além disso, elas possuem várias características que as tornam mais sustentável do ponto de vista ambiental, muito menos nocivas do que as matérias-primas usadas para a primeira e segunda geração, cana, soja ou mesmo a celulose para o etanol,” informa.
As microalgas contribuem positivamente na emissão de carbono para atmosfera e efeito estufa. Elas não são utilizadas como alimento, via de regra, e não têm a limitação que o etanol e a soja têm, com relação ao rendimento por hectare. As algas têm o rendimento e produtividade por hectare muito maior quando se compara com as produções tradicionais.

Produção comercial de Microalgas
Segundo a Finep, nos últimos anos foram investidos no Brasil R$126,36 milhões em projetos de pesquisa em biocombustível. Mesmo com os avanços tecnológicos no País ainda não é possível produzir o biocombustível de microalgas em larga escala. Sobre esse assunto o pesquisador Bruno comenta: “Os biocombustíveis, em geral e principalmente os que ainda estão em pesquisa são dependentes do mercado de combustíveis fósseis. Nos EUA, por exemplo, já existem empresas que cultivam algas e que já produzem biodiesel de algas para fornecer para o exército americano. Mas para chegar à bomba, comercialmente, isso só deve acontecer a médio prazo. No Brasil não tem como precisar o tempo necessário”.
Atualmente os maiores produtores de biocombustível de microalgas do mundo são China, Japão, EUA e Índia, com 90% da produção mundial. A maior parte das microalgas cultivadas para comercialização utiliza lagos e circuitos de alto fluxo com agitação mecânica.

Canal-Jornal da Bioenergia

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