Irrigação em tempos de crise hídrica

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Henrique Fonseca Elias de Oliveira é engenheiro agrícola e possui graduação em Engenharia Agrícola pela Universidade Estadual de Goiás (UEG) (2006), Mestrado (2008) e Doutorado (2012) em Engenharia Agrícola, na área de concentração Engenharia de Água e Solo, pela Universidade Federal de Lavras.

Tem experiência na área de Engenharia Agrícola, com ênfase em Engenharia de Água e Solo, atuando principalmente na linha de Pesquisa de Tecnologias de Irrigação (Automação de sistemas de irrigação, manejo da irrigação e uso de drones na agricultura). Atualmente é professor efetivo no Instituto Federal Goiano – Campus Ceres, ministrando aulas das disciplinas das áreas de hidráulica e irrigação, nos cursos Técnicos, Graduação e Mestrado. Contabiliza cinco orientações e oito coorientações de Mestrado Profissional concluídas. Na graduação tem seis orientações de Trabalho de Curso (TC) concluídas. Na Iniciação Científica (IC) orientou 23 estudantes, sendo 11 bolsistas CNPq e 12 bolsistas IF Goiano, dos quais três foram bolsistas do Programa de Bolsas de Iniciação em Desenvolvimento Tecnológico e Inovação (PIBIT). Atua em projetos em parceria com empresas do setor produtivo a fim de desenvolver soluções tecnológicas voltadas à Agricultura Irrigada. Foi coordenador do curso de bacharelado em Agronomia desta Instituição (2013-2015) e Coordenador do Programa de Pós-Graduação (Mestrado Profissional) em Irrigação no Cerrado do IF Goiano (2015 – 2021).

Canal – Jornal da Bioenergia: Estamos vivendo uma crise hídrica no país. Isso influencia na abrangência e no uso da irrigação em geral?

Henrique: Sim, há influência. As alterações geográficas e temporais na distribuição da água podem afetar a disponibilidade da mesma para a irrigação, acarretando prejuízos consideráveis aos perímetros irrigados brasileiros. Faz-se necessário a busca constante por métodos de irrigação e tecnologias que permitam o uso da água, sempre, da forma mais eficiente, focado na economia de recursos econômicos e ambientais.

Canal:    Qual a importância da irrigação na agricultura?

Henrique: Junto a outras técnicas de produção, a irrigação é ferramenta indispensável para a produção agrícola, garantindo altas produtividades em regiões com má distribuição das chuvas e mesmo em locais com veranicos recorrentes. Como toda técnica de produção a mesma deve ser executada de maneira eficiente e responsável, aliada a tecnologias inovadoras, cada vez mais comum no setor produtivo. Daí o papel importante das instituições de ensino e pesquisa, as quais têm como objetivo difundir as metodologias corretas de uso da irrigação, assim como atuarem em pesquisas que possam permitir o uso cada vez mais racional da água, atrelado ao retorno econômico da atividade agrícola em comunhão com a preservação ambiental.

Canal:    Qual o impacto da irrigação na crise hídrica atual? Pode-se dizer que o uso não influencia?

Henrique: Quando se fala em irrigação, devemos antes identificar se a técnica está sendo exercida conforme preconizam as normas de uso da água, caso contrário é irregular. No caso de a prática ser exercida de forma lícita, são respeitados os limites de uso dentro de cada corpo d’água, garantindo o fluxo contínuo ao longo dos cursos hídricos.

Canal:    Na cana-de-açúcar, quais as principais tecnologias de irrigação para esta cultura?

Henrique: Na cana-açúcar destacam-se os sistemas pivô central, autopropelido (carretel enrolador) e o sistema de gotejamento subterrâneo. Os dois primeiros podem alcançar alta eficiência de uso, no entanto, por se tratarem de métodos de aspersão, onde a água é aplicada na forma de uma “chuva artificial”, podem ter eficiência de aplicação da água reduzida, quando operado sob condições climáticas mais severas, tais como sob ventos fortes.  Já o sistema de gotejamento subterrâneo é uma tecnologia que tem ampliado muito sua utilização, possibilitando o uso mais eficiente da água.

Canal:    Há alguma tecnologia que permite a irrigação, mas não influencia na captação dos rios, afluentes e afins?

Henrique: Grande parte das lavouras de cana-de-açúcar, por exemplo, são irrigadas com vinhaça, o resíduo que sobra após a destilação fracionada do caldo de cana  fermentado, para a obtenção do etanol. A fertirrigação com uso racional da vinhaça, permite aumento da produtividade agrícola, redução no uso de fertilizantes químicos, redução da captação de água para irrigação e consequentemente melhor uso dos recursos ambientais disponíveis. Outra prática bastante difundida e utilizada, sobretudo em países desenvolvidos é o uso de águas residuárias, oriundas tanto de uso doméstico, comercial ou industrial.

Canal:    A qualidade e quantidade dos produtos podem variar de acordo com as técnicas usadas de irrigação? Qual o impacto positivo e negativo que a irrigação pode causar em uma lavoura se usada de forma correta e errada?

Henrique: Os índices quantitativos e qualitativos da produção agrícola estão diretamente relacionados com as técnicas de irrigação utilizadas. Em síntese, independentemente do método de irrigação, o produtor deve estar atento a “quanto” e “quando” irrigar e para tal diversas ferramentas encontram-se disponíveis. Ao empregar técnicas de irrigação adequadas, o produtor tem economia de água, energia e fertilizantes, com um consequente incremento financeiro da atividade. Ao contrário, ao não utilizar a técnica de forma correta, há prejuízos financeiros, ambientais e sociais.

Canal:    A água é um elemento essencial para a irrigação. Como o correto uso dela pode aumentar a produtividade do irrigante?

Henrique: Tendo a água como um elemento essencial à atividade agrícola, o produtor deve estar atento não somente ao “durante a irrigação”, mas principalmente ao antes, trabalhando como “produtor de água”, através da proteção ambiental, preservação das nascentes, matas ciliares e demais áreas de preservação permanente.

Canal:    Na última edição do Atlas Irrigação é apontada que o setor de irrigação foi responsável por 49,8% da captação de água no Brasil em 2019. A tendência é que a irrigação no Brasil continue crescendo, mesmo em um momento de crise?

Henrique: Primeiro ponto a se destacar é que em grande parte, a agricultura irrigada utiliza, porém não consome a água, pois a mesma é devolvida a atmosfera, seja pela evaporação direta, seja pela transpiração das plantas. A área irrigada no Brasil, tem capacidade para dobrar de tamanho e desde que este processo seja realizado de forma consciente, com o emprego de técnicas adequadas – cultivos sob déficit hídrico controlado, automação, sistemas de irrigação eficientes, desenvolvimento de variedades mais tolerantes à seca – a irrigação continuará sendo a ferramenta capaz de alavancar a produção agrícola e manter os índices produtivos cada vez mais altos.

 

Cejane Pupulin-Canal-Jornal da Bioenergia

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