Etanol é caminho mais direto para Brasil cumprir meta ambiental

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O Brasil tem uma posição única no presente e no futuro da sustentabilidade energética, defendem especialistas. Com uma frota superior a 40 milhões de veículos flex que suportam etanol, o país não precisa esperar uma revolução da oferta de veículos elétricos para estar na vanguarda da descarbonização. Para avançar na agenda da redução de emissão de gases do efeito estufa, contudo, falta o país ampliar sua produção de álcool nos próximos anos.

O Brasil é o segundo maior produtor mundial de etanol, atrás dos EUA. A média anual de produção do país é de 30 bilhões de litros, com potencial para aumentar no mínimo 50%. “A expectativa oficial da Empresa de Pesquisa Energética (EPE) indica crescimento dessa produção para até 46 bilhões de litros em dez anos.

Há potencial significativo de expansão da oferta de etanol. Trata-se de um produto agroindustrial, e havendo interesse e demanda por um mercado mais amplo do etanol, há alternativas para o produtor agrícola e para os grupos industriais responderem a esse sinal”, introduzem a professora Suani Coelho e o doutorando Danilo Perecin, do Instituto de Energia e Ambiente da Universidade de São Paulo (USP).

A estimativa da EPE é factível e depende somente de mais investimentos, avalia o presidente da Associação das Indústrias Sucroenergéticas (Siamig), Mário Campos. Só com a capacidade atual das indústrias brasileiras, o volume poderia aumentar 20%, se houver demanda dos consumidores, diz. “Para que tenhamos mais incentivos à produção e ao consumo, precisamos sair da questão econômica e ir para o lado ambiental”, pontua.

Campos lembra que a Petrobras é a maior empresa do Brasil, com expertise acumulada por décadas, portanto não há margem para que os combustíveis fósseis sejam abandonados abruptamente. Ao mesmo tempo, a produção em escala de veículos elétricos no Brasil não é viável rapidamente. Nesse cenário, ele coloca os biocombustíveis no cerne da sustentabilidade no país: “aliada a questões econômicas e a manter a industrialização do Brasil, a tendência de ter os biocombustíveis no centro da descarbonização na área de mobilidade é muito grande”.

O diretor presidente da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), Evandro Gussi, também pondera que o etanol não é a única ferramenta para o Brasil atingir suas metas de descarbonização — pelo Acordo de Paris, de redução de 43% das emissões até 2030, em relação às de 2005. Mas a realidade brasileira precisa ser respeitada, sublinha Gussi: “enquanto política pública, o Brasil não pode fazer escolhas equivocadas e muito menos que copiem a de outras nações. Os veículos elétricos terão sua penetração no mercado, não há dúvida. Agora, o etanol é uma maneira de o consumidor descarbonizar economizando”.

O etanol é uma aposta para a descarbonização porque, em primeiro lugar, a substituição da gasolina pela alternativa reduz de 70% até 90% a emissão de gases de efeito estufa. Ele é fundamental porque as plantações absorvem o CO² emitido pelo combustível.

 O uso de etanol nos veículos flex, somado à mistura obrigatória de 27% do álcool à gasolina, reduziu as emissões de gases do efeito estufa brasileiras em 630 milhões de toneladas entre 2003 (lançamento dos flex) e 2022, segundo estimativa da Unica. Isto é equivalente à soma das emissões totais da Coreia do Sul, que tem mais de 51 milhões de habitantes.

Ao mesmo tempo, o etanol é uma opção mais viável para o bolso dos brasileiros, lembra Gussi, da Unica. “Em várias praças do Brasil, é muito mais barato usar etanol do que gasolina, além da vantagem para o meio ambiente e para a saúde pública, pois o etanol é muito melhor para a qualidade do ar”. Em Minas Gerais, por exemplo, o preço médio do etanol é R$ 3,48, cerca de 63,3% do valor da gasolina, R$ 5,50.

A ampliação da oferta de etanol no país depende de estímulos ao desenvolvimento de tecnologias, defende Gussi. “É necessário fazer uma produção maior nas mesmas áreas, como novas variedades de cana que entregam mais produtividade, incremento de etanol de milho para áreas de segunda safra e novas técnicas de plantio. O Brasil já tem índices extremamente relevantes de redução de emissão, mas a grande beleza disso é que ele pode ir além com ganho de produtividade”, continua o representante da Unica.

Tramita no Congresso o Projeto de Lei (PL) 4516/23, o “Projeto Combustível do Futuro”. Ele define eixos de incentivo a combustíveis verdes no Brasil, em consonância com outras metas de sustentabilidade do país, como o Rota2030, programa do governo federal de incentivo à inovação na indústria. “Vamos sair desse sobe e desce, de incentivos esporádicos, para algo mais concreto, com previsibilidade. Naturalmente, o setor privado responde a esse estímulos de forma rápida”, conclui Mário Campos, da Siamig.

Montadoras investem em etanol para descarbonizar

Com a infraestrutura da indústria do etanol consolidada no Brasil, montadoras apostam no combustível para suas estratégias de descarbonização no país. A Stellantis, por exemplo, tem um plano de investimento de R$ 8,5 bilhões em seu complexo em Betim, na região metropolitana de Belo Horizonte, até 2025. O objetivo é reduzir emissões de gases de efeitos estufa e acelerar a descarbonização.

O etanol está no centro desse projeto. A empresa lançou a plataforma Bio-Electro, que pesquisa e desenvolve alternativas mais limpas de mobilidade. A realidade brasileira, avalia a empresa, ainda não comporta a produção em escala de veículos 100% elétricos. Mas ela desenvolve um tipo de motor que alia etanol e propulsão elétrica.

A Toyota também estuda a possibilidade de descarbonização com etanol no Brasil. Em parceria com a Shell e com a Universidade de São Paulo (USP), ela testa o uso de hidrogênio verde à base de etanol no Toyota Mirai. O hidrogênio verde tem esse nome porque é obtido a partir de fontes renováveis — habitualmente, a origem é fóssil. Geralmente, ele é obtido por meio de energia solar ou eólica, mas, com a tecnologia testada, o etanol é a fonte.

O TEMPO

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