Um novo estudo reacende um debate que o Brasil conhece bem, mas o mundo ainda insiste em subestimar: quando o assunto é clima, nem todo elétrico é tão “limpo” quanto parece — e o etanol brasileiro está longe de ser coadjuvante. A pesquisa, conduzida por especialistas em bioeconomia, mostra que veículos flex — especialmente os híbridos abastecidos com etanol — podem apresentar emissões menores que carros elétricos internacionais quando se considera o ciclo completo de vida, da fabricação ao uso.
O resultado derruba a ideia de que eletrificar tudo automaticamente significa reduzir emissões. O estudo aponta que o grande calcanhar de Aquiles dos elétricos é a produção de baterias, um processo intensivo em energia e emissões, somado à origem da eletricidade usada no país onde o carro é produzido ou recarregado. Em muitos mercados, essa matriz é bem mais poluente que a brasileira.
No outro lado da balança aparece um velho conhecido: o etanol feito da cana, que carrega uma pegada de carbono baixa e uma cadeia consolidada. Quando entra no motor de um híbrido, essa combinação cria um efeito poderoso: eficiência energética somada a combustível renovável. O estudo mostra que, nesse cenário, híbridos flex chegam a emitir menos que alguns modelos elétricos populares fabricados lá fora.
Pesquisadores também chamam atenção para outro ponto: as políticas climáticas internacionais têm tratado biocombustíveis tropicais como solução de segunda categoria, muitas vezes aplicando regras que não refletem a realidade brasileira. Isso acaba ignorando um ativo que o país domina há décadas: produzir energia limpa a partir da cana, com tecnologia madura e infraestrutura já instalada.
Para o Brasil, esses números reforçam algo que o setor sucroenergético repete como mantra há anos: a rota da descarbonização não é única. Em países com vocação agrícola, sol abundante e matriz elétrica relativamente limpa, soluções híbridas com biocombustíveis podem ser tão — ou mais — sustentáveis que a eletrificação pura.
Em um momento em que o mundo corre atrás de metas climáticas cada vez mais apertadas, o estudo é uma lembrança oportuna: inovação não é só o que vem de baterias e cabos. Às vezes, ela nasce do que sempre fizemos bem — e o Brasil pode, mais uma vez, ditar o ritmo da transição energética com a força discreta, eficiente e cada vez mais relevante do etanol.
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