Entrevista:Odilon Francisco Pavón Duarte/Novos horizontes para as renováveis

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Odilon Francisco Pavón Duarte é graduado em Engenharia Elétrica – Eletrotécnica com mestrado em Engenharia Elétrica – Energia e Meio Ambiente pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). Atualmente é coordenador do Laboratório de Eficiência Energética (LABEE) e do Centro de Demonstração em Energias Renováveis (CEDER) da PUCRS. Possui experiência na área de planejamento e desenvolvimento energético, atuando principalmente em gestão e uso sustentável da energia, aplicação de tecnologias de alta eficiência energética e aproveitamento de fontes renováveis de energia.

Canal: Qual a perspectiva para o setor de energias renováveis neste governo?

Odilon: Empresários que investem no setor elétrico em energias renováveis estão confiando mais no governo Temer e estão se sentindo mais seguros para voltar a investir no Brasil. Para Alan Zeralo, presidente da Focus Energia, o governo Temer pode trazer medidas que resgatem a credibilidade no país. Já André Dorf, presidente da CPFL renováveis, acredita em uma redução na incerteza a um médio prazo.

Para conseguir cumprir as metas estipuladas pela COP21, que ocorreu em Paris no ano passado, o novo ministro de Minas e Energia deverá ampliar os investimentos em fontes renováveis. A biomassa deve ser o principal foco do governo, seguido pelas energias eólica e solar.

Além disso, o presidente Temer analisou a necessidade de aumento na produção de eletricidade e deverá focar na geração hídrica. Sabe-se que, no Brasil, a energia hídrica é a fonte mais barata no país e, em tempos de crise financeira, sempre se quer menores custos. Portanto, acredita-se que a hídrica será a fonte de energia com maior crescimento no país. No seu primeiro leilão relativo a energia elétrica com interessados, que ocorreu no dia 23 de setembro, o governo tinha a intenção de leiloar a produção de 641 MW (menos que a capacidade de produção de uma turbina de Itaipu, que produz 700 MW). Todavia o governo conseguiu apenas 248 MW segundo a Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE). Tal informação mostra que a confiança no setor ainda levará um tempo para voltar de modo pleno.

Canal: Com relação às pesquisas do setor, os investimentos têm sido suficientes?

Odilon: O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) aprovou um aumento de até 80% no financiamento para projetos de energia solar, em Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP). Antes esse valor era de até 70%.

As novas condições de financiamento do Banco para o setor de energia elétrica vão manter em até 80% sua participação em projetos de eficiência energética e define o mesmo nível de participação para projetos de iluminação pública eficientes.

As mudanças foram divulgadas, no início de outubro de 2016, pela diretoria do BNDES e refletem a estratégia do banco para o setor de energia em cooperação com o Ministério de Minas e Energia e Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).

A Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) e o BNDES vão destinar até R$ 3,58 bilhões para o Plano de Apoio ao Desenvolvimento e Inovação da Indústria Química (Padiq) e o Plano de Desenvolvimento, Sustentabilidade e Inovação no Setor de Mineração e Transformação Mineral (Inova Mineral).

Canal: Como avalia o Projeto de Lei do Senado nº 696, de 2015 que prevê o uso obrigatório, pelas empresas do setor elétrico, de recursos em pequisa de fontes limpas e alternativas de energia?

Odilon: O Projeto de Lei, que ainda está em tramitação, é de grande valia para o desenvolvimento do setor energético do país. Tendo em vista que as reservas de petróleo e outros combustíveis fósseis se esvairão em aproximadamente 50 anos, é urgente a busca por fontes alternativas de energia para que o Brasil se mantenha atualizado perante as tecnologias atuais e, assim, alcance a competitividade do mercado mundial. Renomadas empresas, como a Petrobrás, abandonaram o foco apenas em petróleo para abranger toda a indústria de energia.

Além disso, o maior investimento em investigação de fontes renováveis traz novas oportunidades de fomento à pesquisa e principalmente à inovação, capacitando técnicos da área e dando a possibilidade para a descoberta de grandes ideias que antes não seriam possíveis. Há argumentos contra o Projeto que citam que a pesquisa por fontes renováveis de energia não está no “core-business” da indústria petrolífera. Por outro lado, poder-se-ia pensar que esse setor é, na verdade, o mais ligado a esses meios alternativos, já que as empresas que lucram com a exploração das fontes tradicionais deveriam, nessa hipótese, ser as maiores investidoras de projetos que tornassem o uso das fontes de energias limpas viável em grandes escalas. Há países em que as empresas que utilizam os seus recursos naturais são obrigadas, por lei, a possuírem um setor destinado ao desenvolvimento de projetos de eficiência energética para o ambiente e a sociedade onde estão inseridas. Em 2015, a França criou uma regulamentação na qual novos prédios comerciais devem escolher entre a instalação de placas solares ou a implementação de um telhado verde. Dessa forma, o Projeto de Lei nº 696 é imprescindível para que as indústrias elétricas e petrolíferas comecem a investir na promoção de estudos de tecnologias mais sustentáveis.

Canal: Por que, no Brasil, a utilização das energias renováveis ainda não é tão ampla? Isso se deve à viabilidade econômica?

Odilon: As tecnologias de produção de energia eólica e solar estão em desenvolvimento no país, porém, ainda, são pouco exploradas. Por outro lado, a geração hídrica, também é uma fonte de energia renovável mas, nesse caso, representa mais de 60% da matriz energética nacional.

Nas gerações de energia solar (principalmente) e eólica, os maiores empecilhos para o aumento do seu emprego em larga escala são os altos impostos sobre todos os equipamentos que compõem os sistemas, visto que ainda não existe uma forma mais econômica de fabricar essas tecnologias. Outro fator impactante é a carência de regulamentações que dificultam a implementação. Além disso, para projetos e execuções de parques e usinas, há um grande tempo de espera devido aos licenciamentos ambientais, cuja demora gera desinteresse dos investidores.

Apesar de tudo isso, há uma perspectiva de fomento dessas tecnologias para os próximos anos devido à redução da cobrança de impostos sobre essas.

Canal: Que tecnologias nacionais têm sido desenvolvidas para ampliar o aproveitamento dos recursos naturais brasileiros?

Odilon: Temos vários projetos sendo desenvolvidos na PUCRS. Somente na área de células solares fotovoltaicas, destacam-se três iniciativas: desenvolvimento de Células Solares Eficientes em Lâminas de Silício – Tipo n;  células solares bifaciais em substratos finos e com Região P+ localizada e desenvolvimento e análise de processos industriais para fabricação de células solares com passivação.

O desenvolvimento de células solares eficientes em lâminas de Silício – Tipo n tem como objetivo geral melhorar os processos de fabricação de células solares em lâminas de silício cristalino tipo n, visando o aumento da eficiência ou a redução no custo do processo. Este tipo de silício é potencialmente mais estável que o atualmente utilizado que é de tipo p, mas as regiões altamente dopadas com boro que formam a junção pn em substratos tipo n podem apresentar problemas que limitam a eficiência dos dispositivos. Os objetivos específicos resumem-se em: simulação e otimização de células solares n+np+ e p+nn+ em substratos de Si-Cz, Si-FZ e Si-Mc, dopados com boro/fósforo; análise da junção flutuante n+ sobre o emissor p+ em células p+nn+; análise de emissores seletivos na região p+; comparação de células solares n+np+ fabricadas com boro e com alumínio como dopante; comparação de técnicas de melhoria das regiões p+; comparação entre filmes antirreflexo de óxido de titânio depositado por evaporação e APCVD; fabricação e caracterização de células solares p+nn+ e n+np+; fabricação e caracterização de dez módulos fotovoltaicos; análise dos custos dos processos desenvolvidos. Há uma tendência entre os principais grupos de pesquisa em energia solar fotovoltaica de realizar atividades em conjunto. Neste sentido, outro objetivo desta proposta é iniciar a execução de trabalhos em conjunto com centros europeus e norte-americanos reconhecidos internacionalmente e que possuem atividades no desenvolvimento de células solares em silício tipo n ou na melhora da qualidade das lâminas de silício.

O objetivo do projeto sobre células solares bifaciais em substratos finos e com Região P+ localizada é desenvolver um processo de fabricação de células solares bifaciais utilizando lâminas de silício muito finas, da ordem de 120 micrômetros, com elevada passivação de superfícies. Esta passivação é obtida pela difusão de fósforo e oxidação das superfícies da lâmina e difusão localizada de alumínio na face posterior. Os objetivos específicos resumem-se em: otimização teórica da estrutura bifacial com espessura de 100-150 micrômetros; obtenção de lâminas de diferentes espessuras; implementação dos processos de texturado, difusão, deposição de filmes antirreflexo e metalização; análise da passivação das superfícies e fabricação e caracterização de células solares.

Há também o desenvolvimento e análise de processos industriais para fabricação de células solares com passivação. A maioria das células solares fabricadas pela indústria é processada em substratos de silício cristalino tipo p, com formação do campo retrodifusor pela deposição de pasta de alumínio e queima em forno de esteira.Com esta tecnologia visa-se a obtenção de células solares de alta eficiência com processo de baixo custo.

 

Ana Flávia Marinho-Canal-Jornal da Bioenergia

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