Entrevista/A hora e a vez da energia solar

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Rodrigo Lopes Sauaia, Presidente-Executivo da Absolar é Doutor em Engenharia e Tecnologia de Materiais pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC- RS), com colaboração internacional na área de energia solar fotovoltaica realizada no Fraunhofer Institut für Solare Energiesysteme (Fraunhofer ISE, Alemanha). Tem mestrado em Energias Renováveis com especialização em Energia Solar Fotovoltaica na Loughborough University e na Northumbria University, no Reino Unido, com colaboração internacional realizada no ETH Zürich, na Suíça, além de bacharelado e licenciatura em Química pela Universidade de São Paulo (USP).

Canal: Qual o panorama da energia solar fotovoltaica no Brasil?

Rodrigo Lopes Sauaia: O Brasil tem um valor imenso e a maior parte deste potencial ainda está inexplorado. Existe um grande espaço de desenvolvimento para o país. Só em usinas de grande porte, o nosso potencial técnico segundo a Empresa de Pesquisa Energética (EPE) representa mais de 28.500 gigawatts, isso é equivalente, a 200 vezes toda a matriz elétrica brasileira que atualmente é de 150 gigawatts somando todos os tipos de fonte de energia.

Nos sistemas domiciliares, isto é, nos telhados das residências, segundo mapeamento técnico e teórico da EPE , temos um potencial inexplorado de 164 gigawatts, mais que todo o potencial instalado no Brasil. Assim, só os telhados residenciais do país seriam capazes de suprir a demanda de mais de duas vezes dos domicílios brasileiros.

No que depender de recurso solar, o Brasil está muito bem posicionado no âmbito internacional para se tornar uma referência em energia solar fotovoltaica. Mas grande parte deste potencial ainda não está aproveitada. Atualmente o Brasil possui aproximamente 80 megawatts operacionais da fonte solar fotovoltaica na sua matriz. Este horizonte está mudando rapidamente nos últimos anos. Em 2016, tivemos um crescimento de 320% da geração distribuída solar fotovoltaica no ano. É um volume bem expressivo, saímos de 1.827 sistemas para mais de 7.600 sistemas de micro e mini gerações no Brasil. E a expectativa para os próximos anos é que esse crescimento continue acelerado.

 

Canal: Em Goiás qual é o cenário?

Rodrigo: Olhando especificamente em Goiás, o Estado teve e continua tendo papel estratégico para o desenvolvimento da energia solar fotovoltaica no Brasil, tendo inclusive tomado a liderança com algumas medidas importantes para o avanço e desenvolvimento da fonte no país.

Uma delas foi quando o Estado liderou, junto com São Paulo e Pernambuco, a adesão dos Estados a um convênio do ICMS, chamado de Convênio 16 de abril de 2015, que permite aos Estados isentar deste tributo a energia de micro e mini geração distribuída, tornando-a mais competitiva e, consequentemente, barateando a energia solar fotovoltaica para a população.

Além disso, Goiás estruturou, por meio da Agência de Fomento de Goiás (GoiásFomento), uma linha de crédito específica chamada Crédito Produtivo Energia Solar, que disponibiliza financiamento para micro empresas, empresas de pequeno porte e até mesmo empreendedores individuais que quiserem instalar energia fotovoltaica no seu negócio.

Para esta linha de crédito temos a expectativa que as condições de financiamento possam ser melhoradas para os próximos anos, já que depois do lançamento tivemos em outras regiões do Brasil avanços importantes nas áreas de financiamento.Cabe destaque para o Nordeste, que estabeleceu uma linha de crédito chamada FNE SOL, no qual o Banco do Nordeste traz recursos a uma taxa de juros de 6,5% a 11% ao ano para pessoas jurídicas – empresas de qualquer porte ou perfil – e em um prazo de amortização de 12 meses e carência de até um ano para investir em energia solar fotovoltaica.

Essas são condições muito competitivas e a Absolar tem trabalhado com o apoio do Governo do Estado de Goiás para desenvolver, em conjunto com a Sudeco, a linha de financiamento FCO SOL – que ainda está em desenvolvimento. A ideia é oferecer uma linha de financiamento nos mesmos moldes e com condições equivalentes ou melhores do que as que já existentes na Região Nordeste, trazendo financiamento de qualidade não só para Goiás, mas para os outros estados da Região Centro-Oeste e inclusive o Distrito Federal, de forma que se possa acelerar a adoção da energia solar fotovoltaica nas empresas.

Fora isso, Goiás foi o primeiro Estado a lançar e colocar em prática em 2016, um programa para que o uso de energia solar fotovoltaica junto à habitação popular. O trabalho desenvolvido pela Agência Goiana de Habitação (Agehab) mostra o engajamento do poder público para trazer mais economia e simultaneamente mais sustentabilidade para a população de baixa renda. 2017 será um ano importante para a consolidação desta iniciativa.

 

Canal:  Quais as expectativas para este ano?

Rodrigo: Temos um horizonte de muitas possibilidades para o desenvolvimento da fonte solar fotovoltaica ao redor de todo o Estado. Nas áreas urbanas, juntos aos edifícios, a nossa expectativa é que cada vez mais seja competitivo inserir energia solar fotovoltaica com investimentos da população e das empresas goianas, uma vez que a tecnologia continua tendo uma redução de custo ano a ano. Para se mensurar nos últimos anos tivemos mais de 80% de redução no custo da tecnologia e, ao mesmo tempo, existe uma pressão de aumento nas taxas das tarifas elétricas, em especial este ano serão incorporadas nas tarifas de energia elétrica dos consumidores o rateio das indenizações das transmissoras de energia elétrica em valores bilionários que serão arcados pelos consumidores.

Além disso, estamos na expectativa de mais ações do Governo do Estado. Uma ação que poderia ser muito positiva seria um programa de conscientização e divulgação da tecnologia para a população. Infelizmente ainda o brasileiro conhece pouco da energia solar fotovoltaica, apesar de eventualmente já ter ouvido falar, ele conhece muito superficialmente a metodologia. Por isso, uma campanha de informação e de divulgação teria um papel estratégico para motivar a população a se envolver mais com essa fonte e investir mais nessa tecnologia que pode trazer uma série de benefícios sinérgicos para os brasileiros e goianos.

 

Canal:  Quais são os benefícios da energia solar fotovoltaica?

Rodrigo: São três os principais eixos de benefícios. Na esfera socioeconômica temos a atração de empregos locais e de qualidade, lembrando que a energia solar fotovoltaica é uma fonte de grande geração de empregos, são criados aproximadamente de 25 a 30 empregos diretos para cada megawatt instalado em um ano. É um volume bastante elevado quando se pensa no setor energético brasileiro, e é uma das fontes que mais gera emprego por megawatt instalado.

Por outro lado temos a oportunidade de desenvolver uma cadeia produtiva fabricando equipamentos de alto conteúdo tecnológico. Ajudando a aquecer as economias de municípios e dos estados brasileiros. Já na área ambiental temos uma fonte que é reconhecidamente limpa, renovável e de baixo impacto ambiental. A energia solar fotovoltaica também pode contribuir para a redução das emissões de gases de efeito estufa do nosso país e dos nossos estados, fazendo com que o Brasil consiga caminhar para cumprir a sua meta de redução de emissões de gases de efeito estufa, estabelecido pelo Acordo de Paris em 2015. O acordo foi ratificado no final do ano passado. Por ser uma tecnologia robusta, o sistema fotovoltaico opera sem partes móveis, sem ruído e com baixíssima manutenção. É uma tecnologia sem dor de cabeça para a população, fácil de usar, de entender e que não toma muito tempo, nem esforço e energia da população para operar.

Por fim, temos os benefícios estratégicos. Quando um governo estadual investe em energia solar fotovoltaica, como o goiano, ele promove uma maior autonomia energética do Estado  e ao mesmo tempo diversifica o seu suprimento energético, ficando  menos dependente de uma só fonte e incluindo uma fonte renovável na matriz. Com isso, adquire uma maior segurança de suprimentos de energia elétrica para a população e para as empresas crescerem na região.

A energia solar fotovoltaica também pode ajudar a reduzir ou postergar investimentos em transmissão e distribuição de energia, já que esses sistemas quando são instalados de forma distribuída junto das unidades consumidoras, como por exemplo, nas próprias residenciais, comércios e indústrias, reduzem as perdas elétricas        e com isso traz mais eficiência econômica e técnica para o sistema.

Todos esses benefícios múltiplos, a população brasileira ainda não conhece de forma abrangente, em especial a economia que esta tecnologia pode trazer. Acima de tudo, quem investe em energia solar fotovoltaica passa a gerar no seu telhado uma energia mais barata do que estava comprando de terceiros.

É um alivio financeiro para a população e mais dinheiro no bolso para investir em saúde, educação, qualidade de vida. E, para as empresas, representa mais competitividade do negócio.

 

Canal:  Qual é a participação da energia fotovoltaica na matriz energética? Quais as expectativas para os próximos anos?

Rodrigo: Atualmente a energia solar fotovoltaica representa 0,02% da matriz elétrica brasileira. Ainda é uma fração pequena. No entanto, a nossa expectativa que até 2024 a fonte passe a representar 4% da matriz, que é um crescimento de 200 vezes em um período de menos de dez anos. E até 2030, que a fonte passe a representar pelo menos 10% da matriz elétrica nacional, na nossa visão é aumentar o mercado de 80 megawatts para uma potência de mais de 25 mil megawatts.

 

Canal:  E as contratações de energia solar?

Rodrigo: O Brasil já contratou 3.300 megawatts da fonte solar fotovoltaica de usinas de grande porte, pensando nesses 25 mil megawatts até 2030. Essa energia entrará em operação este ano e no próximo,

 

Canal: E em Goiás?

Rodrigo: Infelizmente, ainda é uma parcela muito pequena destas usinas em Goiás. Destes, 3.300 megawatts apenas 10 megawatts são no estado. Isso significa que Goiás é o décimo lugar entre os estados brasileiros no que diz respeito a usinas de grande porte, isso é, de geração centralizada. Ou seja, temas espaço para melhorar.

Existem algumas ações que podem ser tomadas pelo Estado para acelerar a adoção desta tecnologia na região. Na área de geração de pequeno porte, cabe dizer que Goiás tem espaço para crescer, estando como 13º no ranking de geração distribuída.

 

Canal: Quais as recomendações da Absolar para incrementar o uso desta tecnologia?

Rodrigo: Apesar das iniciativas pioneiras do Estado de Goiás, ainda há espaço para avançar. A nossa primeira recomendação é o desenvolvimento de uma linha de financiamento FCO Sol, que o Estado já está em movimentação. O segundo ponto importante é a realização de uma ação coordenada de divulgação da energia solar fotovoltaica para a população.

O Governo também pode estabelecer uma meta estadual, por exemplo, quantos mil sistemas o Estado gostaria de desenvolver até 2020. A Absolar sugere 50 mil telhados fotovoltaicos até 2020.

Além disso, desenvolver um  processo de licenciamento ambiental simplificado para atrair as usinas de grande porte a se estabelecerem no Estado. Também se pode incentivar a adoção de energia solar fotovoltaica em prédios da administração pública, como universidades, escolas, hospitais, unidades de saúde, parques. Os próprios prédios da administração podem ser exemplos para a população de investir e ser sustentável, reduzindo os gastos com energia elétrica.

Outra sugestão é aprimorar os incentivos tributários a fonte. Essas ações comporiam um programa estadual coordenado para o desenvolvimento da energia solar fotovoltaica e impulsionaria o desenvolvimento desta tecnologia e atração de investimentos e empregos para o Goiás.

 

Canal: Algum estado segue todas essas recomendações?

Rodrigo: Cada Estado avança na sua própria rota e velocidade. Alguns já possuem programas estaduais, o mais recente é Tocantins, com o Programa Pró- Solar. Minas Gerais, Rio de Janeiro, Pernambuco, Rio Grande do Sul tem programas neste sentido.

 

 

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