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Entrevista/Biodiesel e a economia brasileira

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Juan Diego Ferrés é Diretor Industrial da Granol e presidente do Conselho Superior da União Brasileira do Biodiesel e Bioquerosene (Ubrabio). Desde os anos 1990, liderou  ações para implantar no Brasil o uso do biodiesel, fazendo uma verdadeira peregrinação junto ao Poder Executivo e ao Congresso Nacional para apresentar esse combustível, o que resultou, anos mais tarde, no Programa Nacional de Produção e Uso do Biodiesel (PNPB).

Em 2019, recebeu o prêmio 100+ Influentes da Energia, o “Óscar do Setor” promovido pelo Grupo Mídia, na categoria Entidades Setoriais.

Canal – Jornal da Bioenergia: Como a pandemia afetou ou está afetando o setor de biodiesel?

Juan Diego Ferrés: As dificuldades que o setor de biodiesel brasileiro vem enfrentando atualmente, como a queda da oferta desse biocombustível frente à demanda, estão diretamente vinculadas à questão da soja. Parte dos problemas que estamos passando se relacionam, justamente, às atuais distorções que ocorrem no ambiente global, no qual a China cobra um imposto diferenciado – menor para importar a soja brasileira e maior para importar os produtos feitos a partir dela.

O fato de a maior parte da produção de soja ser destinada à exportação ainda em grãos acaba causando impacto na produção de biodiesel, criando problemas para retenção de matéria-prima para o esmagamento brasileiro, do qual dependem o programa de biodiesel e a indústria de farelo de soja para as cadeias de produção de proteínas, do qual dependem também o Programa de Biodiesel (PNPB) e os leilões, além do desabastecimento de farelo de soja para a cadeia de produção de proteínas animais.

Canal: Qual a contribuição do biocombustível para a retomada da economia?

Juan: O Programa de Biodiesel (PNPB) implica em um ciclo vicioso, na quebra de paradigmas para uma sociedade mais exigente no pós-pandemia em relação a sua sustentabilidade e também qualidade de vida – implicando na respirabilidade do ar nas cidades- motivando o crescimento do programa. Além da transição energética e a descabornização, desenvolvida pelo RenovaBio, uma ferramenta moderna do Governo com a contribuição da Embrapa , que mede a eficiência energética das diferentes fontes de biocombustíveis.

O setor de biocombustíveis é também uma janela de oportunidades que tem um grande potencial de gerar empregos. Além de cumprirem sua finalidade de sustentabilidade, os biocombustíveis representam uma extraordinária oportunidade de desenvolvimento da nação.

Assim, os biocombustíveis também devem ser entendidos como uma espécie de ponte de acesso do Brasil para a Bioeconomia. Essa nova era marcaria uma ruptura com a era do petróleo, na qual não apenas os combustíveis, mas tudo é produzido a partir desse óleo. A bioeconomia é a proposta para que tudo o que está baseado no petróleo possa ser substituído, do século XXI em diante, por matérias-primas agrícolas e florestais produzidas pela fotossíntese, que captando a luz solar, criam moléculas e que essas podem ser processadas em biorrefinarias e desenvolver uma grande cadeia, similar a da petroquímica atual, que seriam os braços da bioeconomia.

O Programa de Biodiesel de identifica com o desenvolvimento sustentável  e deixa de ser apenas uma opção para ser uma obrigação.  Uma vez identificadas as catástrofes devido as trajetórias não sustentáveis  passa a ser uma obrigação , que requer políticas públicas com previsibilidade para que deixa de ser uma obrigação inexequível  e assim, a bioeconomia fará o restante, com uma trajetória sustentável.

Canal: E a matéria-prima?

Juan: Aproximadamente, 70% do biodiesel produzido no Brasil vem da soja, o que torna esse biocombustível extremamente vulnerável às oscilações de disponibilidade e, consequentemente, de preço do grão no mercado. Diante desse cenário, buscar alternativas para ampliar a oferta de matérias-primas, aproveitando a biodiversidade brasileira, é um desafio que une o governo, a indústria e a comunidade científica.

O dendê, por exemplo, produz muito mais óleo que a soja, mas a segunda alimenta o mundo. A proporção da soja é 20/80, isso é, a 20 toneladas de soja tem 80 toneladas de farelo, que alimenta as cadeias de produção de proteína animal.

Atualmente, das 125 mil toneladas de soja produzidas em solo brasileiro, 80 mil são exportadas e 43 mil passam pelo processo de esmagamento, que é a primeira grande frustração, pois parece muito pouco. O complexo de soja se distribui simplesmente seguindo esse fluxograma (Gráfico 01)

Canal: E o mercado de exportações?

Juan: A proposta para 2030 deve começar imediatamente. O Brasil exporta 78% do grão para um único cliente, a China, que representa um risco enorme. Já as exportações de farelo já tem uma dispersão maior, mas não ainda ideal, temos quase metade entre a União Europeia e a Ásia. (Veja no gráfico 02).

Lembrando que a Ásia – sem a China – é um continente com muitos países, como Malásia, Índia, etc. A ideia é quando você exporta produto há diminuição do risco mercadológico.

Mas se olharmos o consumo, com o de carne bovina, as fatias das exportações brasileiras são mais divididas: China (41%), Oriente Média (14,5%), União Europeia (11,4%), Hong Kong (11%), África (9,4%) e Américas (8,9%).  Esse mercado é mais estável, há mais clientes. O mesmo pode ver nas exportações de carne de frango. A medida que agrega valor e industrializa, faz um grande avanço de dispersão em termo de risco país.

Canal: E para o futuro?

Juan: Temos a necessidade da realização de ajustes no Projeto de Lei 3.887/2020, que trata da criação da Contribuição Social sobre Operações com Bens e Serviços (CBS). O imposto substituirá o PIS/Pasep e a Cofins e faz parte da proposta de Reforma Tributária em andamento no Brasil.

A partir da realização de emendas na Reforma Tributária é possível gerar 17.900 empregos diretos e outros 89.500 indiretos, no setor de biocombustíveis nacional até o ano de 2030. Numa ação diretamente ligada a uma política de agregação de valor.

 

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