Cana-de-açúcar em Goiás tem cenário positivo na safra 2017/18

Goiás é o segundo maior produtor de cana-de-açúcar do Brasil, perde apenas para São Paulo, e há estimativa de melhora nos patamares de produtividade em relação à safra 2017/2018, um crescimento de 7,5% e uma produção que pode chegar a 70 milhões de toneladas, conforme estimativa da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Um dos motivos para esse cenário positivo é a maior quantidade de chuva.

O analista técnico do Instituto para o Fortalecimento da Agropecuária de Goiás (Ifag) e da Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás (Faeg), Alexandro Alves, explica, no entanto, que para um resultado melhor que o registrado na safra passada (67 milhões de toneladas) é preciso ainda aguardar o resultado das chuvas e o comportamento da produtividade para que a colheita não termine mais cedo e se tenha o resultado esperado.

Um impulso que se refletirá em toda a cadeia e na economia, já que Goiás responde por mais de 10% da produção nacional. Por outro lado, é preciso considerar, como pondera, que houve atraso no início pleno da colheita este ano em função do prolongamento das chuvas e a área a ser colhida também caiu 3%, passou de 962 mil hectares para 930 mil hectares. “O que compensa é a expectativa de aumento de produtividade”.

Ele afirma que o Estado está entre os que possui as condições mais favoráveis para o plantio. “São mais de 12 milhões de hectares aptos e o clima facilita com período bem definido de chuva e seca, tem a questão da declividade, áreas planas que facilitam a colheita, além de terras relativamente baratas ao se comparar com São Paulo e Minas Gerais. Há condições de crescimento e é líder em investimentos”, descreve.

Já esse movimento de redução de área, segundo a Conab, tem relação com o fato de que as áreas de expansão para a cultura têm diminuído a cada safra, principalmente próximo às áreas de esmagamento. Isso porque há procura de áreas de terceiros e há renovação com variedades mais produtivas e resistentes a pragas e doenças.

Açúcar e etanol

Na distribuição do mix da produção, a destinação para fabricação de açúcar teve aumento de 14%, bem maior do que para o etanol nesta safra, que registou variação de 0,9%. “A produção de açúcar deve passar de 2,1 milhões de toneladas para 2,3 milhões de toneladas em função de que no começo do ano o preço estava interessante no mercado internacional e muitas usinas firmaram contrato com clientes externos”, pontua Alves. A produção goiana de açúcar é a quarta maior do Brasil.

O etanol terá decréscimo de 2%, o que o analista considera leve e pontual. Caiu de 4,4 bilhões de litros para 4,3 bilhões de litros. “Goiás é o segundo maior produtor de etanol, que é a maior produção, 75% da matéria-prima vai para o etanol e 25% para o açúcar”. O presidente dos Sindicatos da Indústria de Fabricação de Açúcar e de Etanol do Estado de Goiás (Sifaeg/Sifaçúcar), André Rocha, completa que a diferença neste ano será pequena.

“O crescimento é pouco para o açúcar. E começou com ATR baixo e que não recuperou”, argumenta Rocha sobre o Açúcar Total Recuperável (ATR) – o que representa a capacidade da cana de ser convertida em açúcar ou etanol. Para ele, que também é presidente do Fórum Nacional Sucroenergético, a produção corre o risco de não ser tão melhor quanto a do ano passado pelo clima seco e é preciso aguardar.

“Nós ainda não alcançamos a safra passada até o início de setembro. Temos de lembrar que a safra passada foi inferior a de 2015/2016”. Para o diretor e presidente da Jalles Machado, Otávio Lage de Siqueira Filho, do meio desta safra para frente o etanol deve ter maior crescimento, o açúcar pode ter uma diminuição devido a diferença de preço e a expectativa ainda é positiva porque, no ano passado, houve quebra intensa e seca grande.

“A quebra de safra foi de quase 18% e isso foi ruim para a empresa, mas com o preço melhor conseguiu direcionar para o açúcar e isso ajudou a fazer receita e manter o faturamento com menos produtos. Este ano, a gente tem safra maior porque choveu mais”, diz ao afirmar que a previsão da Jalles é de moer 4,6 milhões de toneladas de cana enquanto foram 4 milhões de toneladas em 2016.

Geração de emprego

Com 37 usinas de açúcar e etanol, a produção canavieira gera cerca de 100 mil postos de trabalho em Goiás. No Brasil, o setor é responsável por 1 milhão de empregos em 30% dos municípios brasileiros, segundo dados da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica). Com previsões positivas, a expectativa para abertura de novas vagas também cresce. “Os que mais geram empregos são os municípios com maior participação de ICMS e movimenta toda a cadeia produtiva, hotéis, oficinais, concessionárias, empresas que vendem adubo e fertilizantes”, detalha André Rocha.

Com produção de cerca de 10 milhões de toneladas, Quirinópolis é a cidade que se destaca no setor, como explica o presidente da Sifaeg. “O Sudoeste do Estado produz mais, mas também há muita produção no Vale do São Patrício, Santa Helena, Itumbiara, Jataí, Chapadão do Céu”, enumera. Foi atrás do aquecimento do setor em Goianésia, por exemplo, que veio o operador de máquinas agrícolas Fábio dos Santos Tenório, de 30 anos, depois de oito meses desempregado em Maceió (AL).

“Vim com minha família em janeiro, fiz um curso no Senar (Serviço Nacional de Aprendizagem Rural) e em menos de um mês consegui oportunidade como terceirizado”, comemora. Ele conta que ao ouvir de familiares que a região estava aquecida na área que ele trabalha desde 2006 resolveu apostar e se surpreendeu. E ele quer mais, se esforça agora para conseguir vaga em uma usina para ter maior estabilidade.

“Cheguei tarde, quando o quadro para o plantio já estava fechado, mas com a safra melhor as chances aumentam”. Para Tenório, o emprego ainda veio com remuneração maior e também com mais responsabilidades, o que por meio do treinamento que participou foi possível adquirir segurança maior para encarar. “A forma de trabalhar aqui é diferente e é preciso sempre aprender mais, saber os cuidados com a máquina, com o meio ambiente, noções que não se aprende no dia a dia.”

Qualificação

Ao mesmo tempo que há oportunidades, o setor sucroenergético também exige atualização constante. Consciente disso, o operador de motobomba Dione Pereira Vasconcelos, de 29 anos, também está entre os exemplos de quem busca se aprimorar. Ele participou recentemente de treinamento realizado pelo Senar de Operação e Manutenção de Sistemas de Irrigação por Aspersão e 30 dias depois estava empregado.

Conseguiu atuar em uma área diferente da que trabalhava e comemora o fato de que com mais conhecimento as oportunidades aumentam também. “Sem isso, estaria sem trabalho e eu moro em Goianésia e não queria ter de sair daqui”. Para uma cadeia complexa, a gerente de Formação Profissional Rural (FPR) do Senar Goiás, Samantha Andrade, explica que são oferecidos cursos de curta, média e longa duração e que têm mudado histórias como as de Fábio e Dione.

“Há cursos com teor de aperfeiçoamento voltados para produtores e trabalhadores que têm conhecimento mínimo e têm os de qualificação para quem não tem conhecimento na área”, explica. Para participar, os interessados podem procurar parceiros do Senar Goiás em mais de 140 sindicatos rurais, cooperativas ou associações em diversos municípios.

Os cursos vão desde a parte de plantio manual à mecanização. No portfólio há segurança do trabalho, sistema de aplicação de defensivos e até operação de drone para mapear áreas e no futuro fazer pulverização. Samantha afirma que as usinas exigem o constante aperfeiçoamento do trabalhador e o maior fluxo é de janeiro a abril. “Onde tem maior produção há maior demanda. Ao se capacitar, o trabalhador vai ao sindicato e tem certificado para entrar em uma área nova ou permanecer onde estava”.

Inovações justificam resultados

O aumento da produtividade é seguido por diversas inovações implementadas no setor sucroenergético em Goiás. Segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), há redução de áreas de expansão para a cultura de cana-de-açúcar, mas a utilização de novas variedades mais resistentes tem auxiliado nos resultados já alcançados.

“Temos hoje um bom índice de implementação de tecnologia de ponta e variedades sendo desenvolvidas aqui”, diz o analista técnico do Ifag e Faeg, Alexandro Alves.

“Produzimos novas variedades adaptadas ao clima do Cerrado”, completa o presidente dos Sindicatos da Indústria de Fabricação de Açúcar e de Etanol do Estado de Goiás (Sifaeg/Sifaçúcar), André Rocha. Segundo ele, outro ponto positivo que tem auxiliado os produtores é o uso de irrigação.

 

Sistema Faeg

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