Brasil reaproveita quase 12% dos resíduos para geração de energia renovável e produção de biometano

O Brasil ainda explora pouco o potencial energético dos resíduos sólidos urbanos, mas já dá sinais de avanço. Dados do Panorama dos Resíduos Sólidos no Brasil 2025, divulgado pela Associação Brasileira de Resíduos e Meio Ambiente (ABREMA), mostram que 11,7% de todo o lixo gerado no país em 2024 foi reaproveitado na chamada reciclagem bioenergética — processo que transforma resíduos orgânicos em energia e combustíveis renováveis, como o biometano.

O estudo revela que o país produziu 81,6 milhões de toneladas de resíduos sólidos urbanos no ano passado, volume 0,75% superior ao de 2023. Isso equivale a uma média de 384 quilos por habitante ao ano, cerca de um quilo de lixo por dia.

A reciclagem bioenergética considera resíduos de origem animal e vegetal, como restos de alimentos e podas de árvores. Desse total, 6,57 milhões de toneladas (8%) foram utilizadas para geração de eletricidade, principalmente a partir do aproveitamento do biogás gerado na decomposição dos resíduos. Outras 2,6 milhões de toneladas (3,2%) deram origem ao biometano, combustível renovável apontado como estratégico para a transição para uma economia de baixo carbono.

O biometano pode substituir combustíveis fósseis em veículos, processos industriais, residências e até na cogeração de energia elétrica. Segundo a ABREMA, se todas as cidades com mais de 320 mil habitantes destinassem seus resíduos a aterros sanitários equipados com plantas de biometano, o país poderia produzir ao menos 2,86 milhões de metros cúbicos normais por dia — volume 525% superior à capacidade atualmente autorizada.

Com melhor aproveitamento da infraestrutura existente, o Brasil teria condições de suprir cerca de 5% da demanda nacional de gás natural, hoje estimada em 58,4 milhões de Nm³/dia pelo Ministério de Minas e Energia (MME). Além disso, 285 mil toneladas de resíduos (0,35%) foram destinadas à compostagem e produção de adubos, e outras 43 mil toneladas à fabricação de Combustível Derivado de Resíduos Urbanos (CDRU).

“Os dados mostram o quanto o Brasil ainda tem espaço para ampliar a geração de energia sustentável. Cada aterro sanitário funciona como um poço de petróleo verde. O país pode se tornar, na energia renovável, o que a Arábia Saudita é hoje para o combustível fóssil”, afirma Pedro Maranhão, presidente da ABREMA.

Destinação melhora, mas lixões persistem

O levantamento aponta que 93,7% dos resíduos gerados no país são coletados. Ainda assim, 28,1 milhões de toneladas — o equivalente a 40,3% do total — continuam sendo destinadas a lixões ou a outros locais ambientalmente inadequados. Em contrapartida, 41,6 milhões de toneladas (59,7%) seguiram para aterros sanitários licenciados, estruturas adequadas para o aproveitamento bioenergético.

Apesar de uma leve melhora em relação a 2023, quando 41% dos resíduos coletados ainda iam para lixões, o cenário segue preocupante. Em 2024, ano em que todas as formas de destinação irregular foram oficialmente proibidas no país, estima-se que quase 3 mil lixões ainda estejam em operação.

A desigualdade regional também se reflete na destinação do lixo. As regiões Sudeste e Sul apresentam os melhores indicadores, com 71,3% e 69% dos resíduos encaminhados a aterros sanitários, respectivamente. Já o Norte registra o pior desempenho: apenas 38,7% do lixo coletado tem destinação adequada.

Reciclagem tradicional avança pouco e depende do trabalho informal

A reciclagem mecânica de resíduos secos — como metais, papel, vidro e plástico — também evoluiu lentamente. Em 2024, 7,1 milhões de toneladas foram recicladas, o equivalente a 8,7% do total gerado no país, apenas 0,4 ponto percentual acima do índice do ano anterior.

Do volume reciclado, 64,8% foram coletados por trabalhadores informais, sem vínculo com os serviços públicos, enquanto apenas 35,2% resultaram da coleta seletiva municipal. “Quase dois terços da reciclagem no Brasil ainda dependem do trabalho informal dos catadores. Isso reforça a necessidade de incluí-los nas políticas públicas de gestão de resíduos”, destaca Maranhão.

Queima de resíduos ainda é realidade

A queima de lixo a céu aberto, prática ilegal e comum em áreas rurais sem coleta regular, ainda persiste. Em 2024, cerca de 4,4 milhões de toneladas de resíduos — 5,4% do total gerado — foram queimadas, índice ligeiramente inferior ao de 2023.

Além de ilegal, a prática provoca danos ambientais, riscos à saúde e contaminação do solo e da água, além de favorecer a proliferação de vetores de doenças.

“A ABREMA tem atuado, com apoio do Ministério Público e dos Tribunais de Contas, para acelerar o fechamento de lixões. Apesar dos avanços, ainda há um longo caminho a percorrer. As leis já existem; o desafio é garantir que sejam cumpridas”, conclui Pedro Maranhão. (Canal – com informações da Abrema)

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