O agave, planta típica de regiões áridas e conhecida mundialmente como matéria-prima da tequila mexicana, começa a ganhar espaço no Brasil como alternativa sustentável para a produção de etanol. Pesquisadores e empresas do setor veem na cultura uma oportunidade para transformar o semiárido nordestino em polo de bioenergia.
Por que o agave é promissor?
De acordo com estudos da Embrapa e da empresa Santa Anna Bioenergia, o agave apresenta características que o colocam como forte candidato a complementar a cana-de-açúcar na matriz de biocombustíveis do país:
Alta resistência à seca: é uma planta xerófila, adaptada ao clima árido do sertão nordestino e a regiões desérticas.
Baixo consumo de água: exige muito menos irrigação que a cana.
Alto rendimento de biomassa: pode gerar até 500 toneladas por hectare, o que equivale a cerca de 7.500 litros de etanol por hectare por ano.
Captura de carbono: sua eficiência fotossintética (CAM) garante maior fixação de CO₂ por litro de etanol produzido.
Importância social
Além dos aspectos econômicos e ambientais, o pesquisador da Embrapa Algodão Tarcísio Gondim, destaca que a pesquisa tem uma importante contribuição social. “Essa inovação tecnológica pode contribuir para mitigar desigualdades regionais e enfrentar a precarização das áreas sisaleiras do Nordeste brasileiro. Para isso, vamos utilizar plantas xerófilas – adaptadas a ambientes secos – com múltiplo propósito: produção de etanol, alimentação para ruminantes e captura de CO2 em regiões de baixo Índice de Desenvolvimento Humano (IDH)”, explica.
Embora o ciclo do Agave seja mais longo que o da cana-de-açúcar, sua principal vantagem é a adaptação às condições semiáridas, onde outras culturas não alcançam rendimentos competitivos. “O ciclo do Agave pode levar cerca de cinco anos ou mais para atingir a fase de colheita. No entanto, o escalonamento das áreas de plantio ao longo do período permitirá a estabilização da produção de biomassa para fins energéticos, garantindo competitividade na exploração comercial no Semiárido. Para que isso se concretize, é necessário investir em estudos para avançar na padronização de cultivares, no manejo da cultura, nos tratos culturais, na fertilidade do solo, na mecanização do cultivo e no processamento integral da biomassa”, explica Gondim.
Projetos em andamento
A Embrapa, em parceria com a Santa Anna Bioenergia, testa variedades como o Agave tequilana (usado na tequila) e o Agave sisalana (do sisal). Estão sendo implantadas Unidades de Referência Tecnológica em municípios da Bahia e da Paraíba para avaliar a adaptação ao solo brasileiro e viabilidade econômica em escala.
O objetivo é escalonar o plantio e garantir uma produção contínua, que possa abastecer usinas e gerar impacto socioeconômico na região.
Potencial de expansão
Pesquisas indicam que, com 3,3 milhões de hectares de agave, o Brasil poderia produzir até 30 bilhões de litros de etanol por ano — volume semelhante ao atual obtido com a cana. O país teria cerca de 85 milhões de hectares disponíveis para o cultivo no semiárido.
Esse avanço teria impacto direto na matriz energética:
Redução da dependência da cana e do milho como matérias-primas.
Fortalecimento do RenovaBio, com geração de mais créditos de carbono.
Estímulo à geração distribuída de energia em áreas hoje excluídas do mapa energético.
Benefícios sociais e ambientais
Além da contribuição ambiental, o cultivo do agave pode gerar emprego e renda em regiões marcadas pelo êxodo rural e pela vulnerabilidade hídrica. Também abre espaço para a agricultura familiar, com contratos de fornecimento para usinas.Outro ponto destacado por especialistas é a possibilidade de o agave ajudar a reverter processos de desertificação, já que mantém cobertura vegetal permanente e pode ser cultivado em consórcios agroflorestais.
Um olhar para o futuro
Se confirmado o potencial, o agave poderá se tornar um novo marco na bioenergia brasileira, transformando o semiárido em protagonista da transição energética. O Brasil, que já é referência mundial em etanol de cana-de-açúcar, pode agora ampliar sua liderança apostando em uma cultura adaptada às condições extremas e em sintonia com a sustentabilidade.
Canal-Jornal da Bioenergia