Foto Embrapa Agroenergia

Biogás: uso de dejetos do beneficiamento do dendê

Pesquisa desenvolvida pela Embrapa Agroenergia encontrou uma maneira de reduzir a quantidade de dejetos das usinas de beneficiamento de dendê, que resulta em água limpa para reutilização, fertilizantes e biogás. A medida promete reduzir os custos do produtor e minimizar os danos ao meio ambiente. O projeto Dendepalm começou a ser efetivado em 2015 graças ao financiamento da Agência Brasileira de Inovação (Finep).

O POME – palm oil mill effluent (efluente da extração do óleo da palma) – é resultado do processamento dos cachos de dendê e é utilizado como fertilizante. Porém, seu uso pode ser muito maior, originando o biogás, biofertilizante e água de reuso por meio de um único processo utilizando microrganismos: a biodigestão. O POME é composto basicamente de 95% de água e 5% de matéria orgânica, ideal para produção do biogás, já que os microrganismos que fazem a biodigestão utilizam a água como meio para crescerem e alimentam-se da matéria orgânica, liberando metano e gás carbônico.

Produção

O dendê tem grande potencial de integrar a cadeia produtiva do biodiesel. A produtividade de óleo por hectare chega a ser 8 a 10 vezes maior do que a da soja. De acordo com a pesquisadora da Embrapa Agroenergia, Sílvia Belém, há incentivo do governo federal para produção de óleo para biodiesel e a ideia do Dendepalm é aproveitar os resíduos desse processo. “Quando se aumenta a produção, aumenta-se também a quantidade de resíduos, mas a ideia é aumentar a cadeia.”

Na pesquisa em questão, há um processo fermentativo, assim como é feito para originar o etanol. Entretanto, a complexidade é maior, já que não utiliza uma única espécie de microrganismo, mas algumas delas em conjunto. Após obtido o biogás, restam água, sais minerais e microrganismos. Os sais minerais viram fertilizantes para a própria plantação e a água de reuso é empregada novamente na extração de óleo.

Atualmente a água industrial é tratada numa lagoa anaeróbica e depois levada para uma lagoa aeróbica. Após esse processo, ela é utilizada para irrigação. Para as indústrias de processamento de dendê, a vantagem da pesquisa está ligada não só à redução de resíduos, mas à possibilidade de aproveitamento do biogás obtido para autossuficiência energética.

Aplicação

Inicialmente os pesquisadores se dedicaram à construção do reator e, em seguida, à biodigestão. Ao final, o resíduo líquido será convertido em biogás e  água. “A ideia é extrair do resíduo orgânico água que possa ser aproveitada não só na irrigação, mas em outras correntes, e também o fertilizante, que é toda a parte de orgânicos”, explica Silvia.

O que se pretende com a pesquisa não é implementar biodigestores nas usinas de beneficiamento de dendê para produção do óleo, mas melhorá-las, substituindo lagoas por biodigestoras. Sem a utilização de bactérias haverá menos resíduos ao final do processo. Futuramente também se pretende produzir o metano, que é um combustível. “Pretendemos cobrir toda a cadeia do dendê, para torná-la mais limpa e autossustentável.” Assim, busca-se aproveitar a parte do efluente líquido que não era aproveitada hoje. “Esse efluente não tem uso nenhum, na verdade ele é um problema para usina. Por isso visamos torná-lo fonte de energia”, complementa Silvia.

Com o andamento dos estudos, os pesquisadores deverão divulgar os resultados cientificamente. “Queremos mostrar, por meio de cálculos de eficiência, que é possível aplicar o que estamos fazendo. Poderemos apresentar reduções na conta de energia para que o usineiro saiba o quanto ele está perdendo financeiramente”, diz Silvia. O que se procura agora são parceiros, com os quais é possível, inclusive, amadurecer a pesquisa em conjunto.

 

Ana Flávia Marinho-Canal-Jornal da Bioenergia

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