O Brasil utiliza hoje apenas uma parcela mínima do seu potencial para produção de biogás e biometano, segundo avaliação da Associação Brasileira de Energia de Resíduos (ABREN). De acordo com o presidente da entidade, Yuri Schmitke, o país aproveita somente 1,5% do potencial nacional de biometano e 5,6% do potencial de biogás, índices considerados muito abaixo do que a infraestrutura e a disponibilidade de resíduos permitiriam.
No caso do biometano, o potencial brasileiro é estimado em 44,1 bilhões Nm³ por ano, mas a produção atual gira em torno de 0,67 bilhão Nm³ anuais, distribuída em pouco mais de 50 usinas. O cenário é semelhante no biogás, cujo potencial anual é de 84,6 bilhões Nm³, enquanto a produção efetiva é de 4,7 bilhões Nm³. Os maiores volumes possíveis estão concentrados nos setores sucroenergético e agroindustrial, responsáveis por mais de 90% da capacidade total.
Potencial do biometano no Brasil

Fonte: divulgação ABREN
Potencial do biogás no Brasil

Fonte: divulgação ABREN
Schmitke ressalta que o biogás e o biometano exercem papel estratégico na transição energética, por serem fontes renováveis, complementares e com alto potencial de descarbonização. Segundo ele, um dos limites atuais para a expansão do biogás é a falta de um preço de referência, que permita contratos de longo prazo e melhore sua competitividade em relação a outras fontes renováveis. Já o biometano desponta como vetor essencial na substituição do diesel e do gás natural fóssil, especialmente no transporte pesado.
Regulações recentes devem impulsionar essa expansão, como o Certificado de Garantia de Origem do Biometano (CGOB) e o sistema de créditos de carbono regulados, que devem garantir rastreabilidade, monetização das emissões evitadas e mais segurança para investidores.
Mesmo assim, o país ainda enfrenta obstáculos históricos na gestão de resíduos. Mais de 40% dos resíduos sólidos urbanos continuam sendo destinados a lixões e aterros controlados, estruturas que deveriam ter sido desativadas há mais de uma década. Enquanto isso, países como China, Japão, Estados Unidos e vários membros da União Europeia já operam cerca de 3 mil usinas de recuperação energética.
Com uma estimativa de instalação de 130 usinas de 20 MW — o equivalente a 3,3 GW de potência instalada e investimentos próximos de R$ 180 bilhões — o Brasil dispõe de um dos maiores potenciais do mundo para converter resíduos em energia. Para a ABREN, superar entraves regulatórios, garantir eficiência operacional e fortalecer políticas públicas são passos essenciais para que o país transforme esse potencial em realidade.
Schmitke reforça que o Brasil vive um “momento decisivo”: ou destrava o setor e colhe ganhos ambientais, energéticos e econômicos, ou continuará preso a modelos ultrapassados de destinação de resíduos. “O potencial é gigantesco. Falta transformar oportunidade em ação”, afirma. (Canal- com informações da Abren)
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