Agência Brasil

Brasil se destaca com veículos de menor pegada de carbono no mundo

Um levantamento inédito conduzido pela Anfavea, em parceria com o Boston Consulting Group (BCG), coloca o Brasil em posição de liderança global na descarbonização do setor automotivo. De acordo com o estudo, os veículos produzidos e utilizados no país apresentam a menor pegada de carbono do mundo quando analisado todo o ciclo de vida — da extração das matérias-primas ao descarte final.

A pesquisa, intitulada “Caminhos da Descarbonização: a pegada de carbono no ciclo de vida do veículo”, avaliou automóveis, caminhões e ônibus fabricados no Brasil e comparou suas emissões a modelos equivalentes comercializados na União Europeia, Estados Unidos e China. É a primeira vez que um estudo brasileiro analisa de forma completa o impacto ambiental em todas as etapas de produção e uso, o que inclui insumos, montagem, distribuição, operação e fim de vida do veículo.

Segundo os autores, o resultado confirma uma vantagem histórica do país: matriz elétrica 90% renovável e matriz energética com metade de fontes renováveis. Esses fatores reduzem significativamente as emissões tanto na fabricação quanto no uso dos veículos, incluindo híbridos e elétricos recarregados com energia majoritariamente limpa.

A presença maciça de carros flex e o uso disseminado do etanol também ajudam a explicar o desempenho superior do Brasil. Para veículos leves, os modelos nacionais abastecidos com etanol — sejam híbridos ou a combustão — registram emissões menores do que as de elétricos importados de mercados dependentes de energia fóssil. Na China, por exemplo, veículos elétricos apresentam pegada de carbono mais alta que automóveis brasileiros movidos a etanol, devido à dependência de carvão na geração elétrica.

No caso dos pesados, como caminhões e ônibus, o estudo mostra que mais de 90% das emissões ocorrem durante o uso. Isso reforça o papel dos biocombustíveis como solução imediata para reduzir gases de efeito estufa no transporte rodoviário, segmento em que a eletrificação ainda avança de forma restrita e concentrada em trajetos urbanos.

A análise também evidencia que a mobilização pela descarbonização precisa alcançar toda a cadeia. A fabricação de baterias — responsável por quase metade das emissões dos veículos eletrificados — e a produção de insumos para os modelos a combustão são apontadas como etapas estratégicas para novos cortes de CO₂. “A redução futura depende de ganhos de eficiência em cada elo da cadeia, da produção ao descarte”, afirma Masao Ukon, diretor-executivo e sócio-sênior do BCG.

O presidente da Anfavea, Igor Calvet, destaca que o estudo reforça a importância de integrar diferentes tecnologias. “Biocombustíveis seguem essenciais para uma estratégia imediata de descarbonização, enquanto a eletrificação se expande. O Brasil já tem uma base sólida e pode avançar ainda mais ao aperfeiçoar processos industriais, insumos e reciclagem”, diz.

A partir de 2027, o Programa Mover passará a exigir o cálculo da pegada de carbono no ciclo de vida como critério para concessão de incentivos à indústria automotiva. Para os especialistas, esse será um passo decisivo para direcionar investimentos e acelerar a transformação tecnológica do setor.

Com trajetória consolidada em bioenergia, frota flex robusta e matriz elétrica majoritariamente limpa, o Brasil aparece como um dos países mais bem posicionados para liderar a transição para uma mobilidade de baixo carbono — e exportar conhecimento, tecnologia e modelos de sucesso para outros mercados.

Canal-Jornal da Bioenergia

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