Reprodução/Jornal da Band

Trem movido a etanol em fase de testes

O Brasil avança em uma inovação que pode redefinir o transporte ferroviário: o trem movido a etanol. O projeto, atualmente em fase de validação técnica, busca substituir até metade do diesel utilizado nas locomotivas, sem comprometer potência nem eficiência. A primeira etapa ocorre em centros de pesquisa na Europa, onde especialistas realizam calibrações e testes de segurança com foco na compatibilidade dos materiais, no sistema de injeção e no comportamento do motor adaptado para operar com biocombustível. A meta é concluir essa fase de bancada e iniciar, nos próximos meses, os ensaios em campo.

O plano prevê a adoção progressiva da tecnologia até 2028, com início em corredores ferroviários das regiões Centro-Oeste e Sudeste — áreas com ampla oferta de etanol. A escolha reduz riscos de abastecimento e facilita o monitoramento de desempenho, consumo e emissões durante a operação real.

Adaptações e engenharia
O projeto combina ajustes no motor a diesel original com um novo sistema de injeção e ignição assistida, que permite o uso flexível de etanol hidratado. As alterações incluem vedação especial nas linhas de combustível, sensores e bicos injetores revalidados, além de tanques híbridos capazes de alternar com segurança entre diesel e etanol. O gerenciamento eletrônico do motor tem papel crucial, garantindo partidas seguras, estabilidade térmica e resposta imediata nas retomadas, mesmo em trechos de grande inclinação.

Testes e validação
Na fase laboratorial, são medidos o consumo específico, a durabilidade dos componentes e as emissões. Em seguida, os protótipos seguirão para testes dinâmicos em vias férreas, com monitoramento em tempo real de tração, temperatura e estabilidade. A comparação entre locomotivas convencionais e híbridas ajudará a medir ganhos efetivos de desempenho.

Logística e segurança
Para viabilizar o uso do etanol, o projeto prevê bases de abastecimento próximas à ferrovia e infraestrutura dual — capaz de atender tanto diesel quanto o biocombustível. Equipes de operação e manutenção passam por treinamento especializado, com protocolos que incluem manejo seguro e controle de qualidade do combustível.

Sustentabilidade e economia
A substituição parcial do diesel por etanol deve reduzir as emissões líquidas de gases de efeito estufa e material particulado, reforçando as metas de descarbonização do setor ferroviário. Além do ganho ambiental, há expectativa de redução nos custos operacionais, especialmente nas rotas onde o etanol é mais competitivo.

Experiências internacionais
Embora o Brasil seja pioneiro na aplicação do etanol em larga escala na ferrovia, iniciativas semelhantes começam a surgir em outros países. No Japão e na Índia, pesquisas avaliam o uso de misturas com biocombustíveis em locomotivas, enquanto nos Estados Unidos há estudos com etanol e biodiesel em linhas regionais de carga leve. A Europa, por sua vez, tem priorizado o hidrogênio e a eletrificação, mas acompanha de perto o desempenho do etanol brasileiro como solução de transição sustentável — especialmente em regiões onde o biocombustível é mais acessível.

Desafios e próximos passos
Os principais desafios envolvem a durabilidade dos componentes, a regularidade do fornecimento e a homologação para operação comercial. Se comprovada a viabilidade técnica e econômica, o projeto poderá ser expandido também para trens de passageiros, oferecendo uma alternativa mais limpa e estratégica ao transporte sobre trilhos. O trem movido a etanol representa um passo firme rumo a uma ferrovia mais sustentável — um caminho em que o Brasil, maior produtor de biocombustíveis do mundo, pode ser protagonista e referência global em transporte verde.

Canal-Jornal da Bioenergia

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