O secretário de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento de Goiás (Seapa), Pedro Leonardo, detalha como o estado se posiciona entre os principais polos nacionais de etanol, biodiesel e bioeletricidade, destacando políticas públicas, incentivos fiscais e programas estratégicos que fortalecem a cadeia da bioenergia, promovem sustentabilidade, inovação e integração lavoura-pecuária-bioenergia.
Confira a entrevista com o secretário Pedro Leonardo sobre o protagonismo de Goiás na bioenergia.
Canal – Jornal da Bioenergia: Como o senhor avalia hoje a participação de Goiás na produção de matérias-primas para biocombustíveis no Brasil?
Pedro Leonardo: Goiás ocupa posição de protagonismo. Em 2023/24, produzimos cerca de 14 milhões de toneladas de milho e 20,4 milhões de toneladas de soja, bases da nossa bioenergia. Na cana 2024/25, o estado colhe aproximadamente 78,5 milhões de toneladas, sustentando etanol e bioeletricidade. Com essa oferta, permanecemos entre os maiores polos nacionais para etanol de cana e de milho e entre os quatro principais estados em produção de biodiesel, com avanço da capacidade de abastecimento industrial para biocombustíveis. Goiás também ocupa a 3ª posição nacional na produção de etanol, com 5,6 bilhões de litros contando atualmente com 44 instalações de produção, garantindo o suficiente para atender tanto ao mercado estadual quanto à comercialização nacional.
Canal: Quais são as principais culturas voltadas para esse mercado atualmente no estado?
Pedro Leonardo: As principais culturas voltadas à bioenergia em Goiás são a soja, destinada à produção de biodiesel; a cana-de-açúcar, utilizada para etanol e bioeletricidade; e o milho de segunda safra, voltado ao etanol. Essas culturas garantem o abastecimento industrial e a previsibilidade da produção para as usinas, reforçando a posição de Goiás como um dos principais polos nacionais de bioenergia.
Canal: O governo estadual tem incentivado a diversificação das matérias-primas destinadas à bioenergia? De que forma?
Pedro Leonardo: A Política Estadual de Incentivo à Transição Energética (Lei nº 22.579/2024) e o Programa Goiás Mais Energia Rural (Lei nº 23.434/2025) ampliam o uso de matérias-primas para bioenergia, incluindo resíduos orgânicos e industriais, como gordura animal e óleo de cozinha usado, culturas perenes como a macaúba, além do aproveitamento de biogás, biometano e hidrogênio verde. Incentivos fiscais específicos (Lei nº 23.168/2024 e Decreto nº 10.712/2025) fortalecem a cadeia do biogás, enquanto o Programa Estadual de Bioinsumos (Lei nº 21.005/2021) promove alternativas de base biológica, reduzindo insumos químicos e melhorando o balanço de carbono na produção agrícola.
Canal: Existem programas específicos em Goiás para fomentar a produção agrícola voltada aos biocombustíveis?
Pedro Leonardo: O Goiás Mais Energia Rural prioriza bioenergia no campo; o Programa Estadual de Bioinsumos estruturou o CEBIO com investimento aproximado de R$ 8,5 milhões e o FCO Rural/FCO Verde financiam irrigação eficiente, geração distribuída e projetos de biogás/biometano.
Canal: Há incentivos fiscais ou linhas de crédito diferenciadas para os produtores que atuam nesse segmento?
Pedro Leonardo: Temos crédito via FCO Rural/FCO Verde, com prioridade para energia limpa nas linhas Verde, com condições diferenciadas de juros, prazos e carência. Entre 2024 e julho de 2025, o FCO Rural
superou R$ 103,9 milhões aprovados no estado. No plano fiscal, os programas estaduais de transição energética permitem enquadramentos e priorizações setoriais vinculados a projetos de bioenergia e eficiência.
Canal: Como o governo estadual está articulado com o governo federal para aproveitar o avanço do RenovaBio e de outros programas estratégicos para o setor?
Pedro Leonardo: O Governo de Goiás mantém articulação contínua e estratégica com o governo federal, visando harmonizar políticas e maximizar sinergias. O estado participa ativamente do RenovaBio, garantindo que produtores e usinas possam gerar e negociar CBIOs, convertendo os benefícios em valor ao longo de toda a cadeia produtiva. Também acompanha o ProBioQAV, com foco no SAF, explorando o potencial de Goiás para produção futura. Em alinhamento com ANP, MME e outros órgãos federais, Goiás participa de fóruns e grupos de trabalho para assegurar conformidade regulatória, qualidade dos biocombustíveis e otimização dos programas federais, garantindo ambiente de negócios estável e previsível.
Canal: A produção de etanol de milho vem crescendo em Goiás. O governo enxerga espaço para novas plantas ou para a integração lavoura-pecuária-bioenergia?
Pedro Leonardo: Há espaço para novas plantas full, flex e full-flex, com uso de milho de 2ª safra e integração à pecuária por meio do DDG/DDGS (subprodutos da produção de etanol de milho, sendo ambos grãos secos de destilaria, mas com diferenças na composição). Anúncios recentes de investimento privado em etanol de milho no estado reforçam o potencial de expansão e modernização da base industrial. O milho por si tem um maior poder de produção, com uma tonelada rende mais de 400 litros de etanol.
Canal: No caso da cana-de-açúcar, ainda há espaço para uma expansão sustentável sem comprometer o meio ambiente ou outras culturas?
Pedro Leonardo: O foco é elevar produtividade com variedades, manejo e agricultura de precisão, ampliar a cogeração com bagaço/palha e direcionar expansão para áreas já abertas ou pastagens de baixa produtividade, preservando vegetação nativa. A safra 2024/25 sinaliza oferta robusta de cana no estado, com 63,3 milhões de toneladas.
Canal: Em relação à rotação de culturas, há políticas públicas para estimular o uso estratégico da terra com foco em bioenergia?
Pedro Leonardo: O ABC+GO orienta rotação, sistema de plantio direto e integração lavoura-pecuária (ILPF), com ênfase em braquiárias e leguminosas para saúde do solo. O FCO Verde e o Goiás Mais Energia Rural apoiam investimentos produtivos que combinam grãos, cana e bioenergia no mesmo território.
Canal: O senhor vê potencial para Goiás se consolidar como um polo de bioinsumos ou de bioeconomia voltada à energia limpa?
Pedro Leonardo: O Programa Estadual de Bioinsumos (Lei nº 21.005/2021) e o Centro de Excelência em Bioinsumos (CEBIO) ampliam a produção e o uso de biofertilizantes, biopesticidas e inoculantes, fortalecendo sistemas agrícolas mais sustentáveis e reduzindo a dependência de insumos químicos. Goiás também se destaca na bioeconomia voltada à energia limpa, com produção de etanol de milho e de cana, e potencial para SAF, além de biogás, biometano e bioeletricidade, integrando inovação tecnológica e valorização da cadeia produtiva.
Canal: Como o governo tem apoiado os produtores a enfrentar os impactos das mudanças climáticas, como secas ou incêndios?
Pedro Leonardo: O Governo de Goiás adota práticas visando a segurança hídrica e a resiliência produtiva, com pesquisa de cultivares resistentes à seca e a pragas, incentivo a práticas agrícolas sustentáveis como plantio direto, rotação e consorciação de culturas, e gestão eficiente da água com base em monitoramento de secas. Além disso, há ações integradas de prevenção e combate a incêndios, com aceiros, monitoramento por satélite e torres de detecção, e conscientização das comunidades sobre o manejo do fogo, fortalecendo a conservação do Cerrado e a segurança alimentar do estado.
Canal: Quais medidas estão em andamento para garantir segurança hídrica e sustentabilidade nas lavouras voltadas à bioenergia?
Pedro Leonardo: O Governo de Goiás garante segurança hídrica e sustentabilidade nas lavouras voltadas à bioenergia por meio da adoção de sistemas irrigados de alta eficiência, como gotejamento, microaspersão e pivô central com tecnologias de precisão, combinados ao plantio direto e à conservação do solo com curvas de nível, terraços e proteção de nascentes e matas ciliares. O Programa Mecaniza Campo fornece maquinários para preparo do solo, enquanto ações de recuperação de pastagens degradadas aumentam a produtividade forrageira e a sustentabilidade da pecuária familiar. O monitoramento contínuo das bacias hidrográficas, com telemetria e sensoriamento remoto, permite gestão adaptativa e transparente dos recursos hídricos, fortalecendo a produção de bioenergia com eficiência ambiental.
Canal: O senhor acredita que Goiás pode se consolidar ainda mais como referência nacional ou internacional em produção sustentável de energia renovável?
Pedro Leonardo: A base agrícola e industrial, aliada às leis estaduais de transição energética, ao ABC+GO e ao avanço do RenovaBio, nos coloca em posição de consolidar liderança em etanol, biodiesel e biogás/biometano, além de avançar em SAF (Sustainable Aviation Fuel, ou Combustível de Aviação Sustentável) e hidrogênio em parceria com universidades e setor privado.
Canal: Como a Secretaria da Agricultura tem trabalhado em parceria com usinas, cooperativas e universidades para avançar em produtividade e inovação no setor?
Pedro Leonardo: A produção de bioenergia em Goiás é estratégica para a sustentabilidade do setor agropecuário e o fortalecimento da agroindústria. A agenda está alinhada à Estratégia Goiás Carbono Neutro 2050, promovendo práticas de baixa emissão com base no Plano ABC+GO. A integração de sistemas de produção agropecuária com fontes renováveis, como biogás, biodiesel e bioeletricidade, vem sendo incentivada por meio de políticas estaduais como o Programa Goiás Mais Energia Rural e o Programa Estadual de Bioinsumos. A proposta é gerar energia limpa, valorizar resíduos agroindustriais e ampliar a competitividade das cadeias do agro.
Canal: Há algum esforço coordenado para agregar valor ao setor por meio da produção de DDG, biogás ou bioeletricidade? Qual é a visão da Secretaria para Goiás nos próximos 10 anos em relação à bioenergia?
Pedro Leonardo: Goiás adota um esforço coordenado para agregar valor à cadeia da bioenergia, transformando subprodutos em coprodutos de alto valor, como DDG para nutrição animal, biogás e biofertilizantes a partir de resíduos agroindustriais, e bioeletricidade gerada da biomassa da cana-de-açúcar. Essa estratégia integra economia circular, inovação tecnológica e sustentabilidade, alinhada à Estratégia Goiás Carbono Neutro 2050. A visão da Secretaria é consolidar o estado como hub de bioenergia e bioeconomia, diversificando a matriz de matérias- primas, expandindo tecnologias de ponta em biorefinarias, promovendo descarbonização acelerada, fomentando o mercado de carbono e atraindo investimentos e empregos qualificados, tornando Goiás referência nacional e internacional em produção sustentável e inovação no setor.
Canal: Para fechar, quais números do agro goiano o senhor destacaria hoje como base dessa estratégia?
Pedro Leonardo: Hoje, Goiás conta com uma base agrícola sólida que sustenta a produção de bioenergia, demandas internas, exportações e coprodutos. Na safra 2023/24, foram produzidos 20,4 milhões de toneladas de soja e 12,5 milhões de toneladas de milho. Esses volumes garantem escala, previsibilidade e fornecimento contínuo para etanol, biodiesel, bioeletricidade e subprodutos como DDG/DDGS. O estado também avança em integração lavoura-pecuária- bioenergia, irrigação eficiente, recuperação de pastagens e adoção de práticas sustentáveis, fortalecendo cadeias produtivas resistentes.
(Canal- Jornal da Bioenergia)