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Desconstruindo preconceitos: a sustentabilidade do setor

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*por Renata Camargo

Falar em sustentabilidade no setor sucroenergético não se trata apenas de divulgar investimentos em recuperação de vegetação nativa, redução de consumo de água, melhor aproveitamento de subprodutos e de eficiência energética, eliminação antecipada do uso do fogo e mecanização da colheita. Assim como em todo agronegócio brasileiro, trata-se de um trabalho de desconstrução de preconceitos.

Dizem que “não basta ser sustentável, é necessário parecer ser”, mas quando se trata do setor sucroenergético, essa máxima vai além do ser e do parecer ser. Na prática, o que se observa é um esforço constante de comunicação, afinal, estamos falando de um setor com mais de 500 anos de história.

Nos últimos 15 anos, o setor sucroenergético, em especial no Centro-Sul do país, eliminou voluntária e antecipadamente a queima da palha da cana-de-açúcar como método agrícola pré-colheita, substituindo a colheita manual pela colheita mecanizada. Nessa nova dinâmica, os focos de incêndio representam prejuízos ambientais e econômicos reais a serem evitados e combatidos. No entanto, ainda hoje, os incêndios, muitos deles originados nas beiras de rodovia em função de bitucas de cigarro ou garrafas de vidro lançadas por motoristas, são atribuídos equivocamente às usinas e fornecedores de cana.

O caso da eliminação da queima nos mostra como é difícil “parecer ser”. As dificuldades em se comprovar a sustentabilidade de um setor produtivo ou de uma empresa específica não são exclusividade do setor sucroenergético e impactam diretamente a sua saúde financeira.

Nesse contexto, o mercado financeiro introduziu um novo paradigma para a qualificação das empresas e segmentos econômicos: o ESG. Atualmente, é impossível falar em sustentabilidade sem mencionar os critérios ESG (sigla da língua inglesa para Environmental, Social and Governance que pode ser livremente traduzida por “boas práticas ambientais, sociais e de governança corporativa”).

Aí, você se pergunta: mas o conceito de sustentabilidade já não incorpora os critérios ESG? Na verdade, o olhar trazido pelos critérios ESG pode ser considerado como uma evolução do famoso tripé da sustentabilidade (social, ambiental e econômico), pois, agora, as empresas e setores produtivos sabem quais são os indicadores que o mercado financeiro reconhece como sendo padrões de sustentabilidade. Parâmetros esses que irão garantir acesso a melhores linhas de financiamento reconhecendo, assim, o seu diferencial perante concorrentes que não adotam as mesmas boas práticas nas cadeias produtivas.

De maneira resumida, o mercado financeiro passou a buscar indicadores ambientais, sociais e corporativos para identificar o “parecer ser”, permitindo a qualificação diferenciada e o reconhecimento de quem realmente é sustentável.

O reconhecimento do “parecer ser” do setor sucroenergético também pode e deve ser verificado pelas certificações e programas setoriais, a exemplo do RenovaBio, do Etanol Mais Verde, do Bonsucro, ou mesmo a própria aderência aos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas (ODS).

Evoluir e continuar produzindo alimento e energia limpa e renovável tem sido o compromisso do setor sucroenergético brasileiro. O aproveitamento dos subprodutos da cana para produção de energia elétrica e biogás, a fertirrigação com vinhaça, bem como os investimentos realizados em recuperação e proteção do meio ambiente, em requalificação de mão-de-obra e adoção de melhores práticas de governança também são indicadores importantes que garantem a sustentabilidade do setor sucroenergético.

Apenas no estado de São Paulo, nos últimos 15 anos, foram mais de 46 milhões de mudas de vegetação nativa plantadas, mais de 200 mil hectares de mata ciliares protegidas, mais de 400 mil trabalhadores requalificados, sem mencionar os 22,6 mil GWh de energia elétrica produzidos a partir do bagaço da cana.

Ser sustentável é o que move a inovação no setor sucroenergético, agora, o maior desafio é garantir esse reconhecimento em território nacional e internacional, demonstrando que muito além do “parecer ser” e das frases de impacto, a sustentabilidade do setor é algo que se pratica diariamente, com o comprometimento de todos, seja nas cidades, no campo e na indústria.

*Renata Camargo é coordenadora de Sustentabilidade da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (UNICA). Artigo publicado no site da revista Globo Rural.

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