Foto: Divulgação John Deere

Opinião/O tarifaço ontem e hoje: histórico e perspectivas para o setor florestal

Sempre é bom olharmos para trás e relembrar o histórico que nos trouxe até os dias de hoje no setor florestal. No dia 2 de abril de 2025, os Estados Unidos anunciaram a aplicação de tarifas recíprocas a praticamente todas as importações, incluindo uma tarifa base de 10% sobre produtos importados do Brasil. Três dias depois (05/04), a medida passa a vigorar e desperta apreensão entre os exportadores florestais.

O setor de produtos florestais logo percebeu os primeiros efeitos: produtos como madeira serrada, molduras, portas e painéis dependem fortemente do mercado norte-americano, e a introdução da tarifa de 10% representou um aumento de custo direto para os produtos brasileiros.

No entanto, esse choque foi apenas o começo. Em 30 de julho de 2025, o governo dos EUA elevou o patamar, aplicando uma tarifa de 50% sobre diversos produtos florestais brasileiros, medida que entrou efetivamente em vigor no dia 6 de agosto.

Com essa elevação, muitas empresas iniciaram medidas de contenção, como redução de estoques, suspensão temporária de exportações e adoção de férias coletivas. Tudo isso na tentativa de preservar empregos diante da queda abrupta da demanda.

Até agosto, estimava-se que 1,4 mil trabalhadores paranaenses já estavam em férias coletivas e 100 demissões foram confirmadas em empresas do setor de madeira processada logo nos primeiros dias após o tarifaço entrar em vigor.

No Paraná, entidades como a APRE e a Fiep  já relatavam cortes e risco iminente de até 10 mil demissões caso o momento perdurasse por mais dois meses, o que pode se efetivar até o final do ano caso a tarifa não seja revertida.

A escalada tarifária desencadeou uma crise setorial de grandes proporções. Empresas exportadoras competitivas no Brasil veem seus preços perderem atratividade frente a concorrentes de outros países, além de muitas exportações terem sido pausadas para readequar contratos.

O aumento repentino de tarifas também expôs fragilidades da cadeia produtiva, como a dependência do mercado americano de certos produtos e a falta de alternativas logísticas rápidas para escoamento da produção.

O governo federal brasileiro estima que o impacto agregado na economia será de uma retração de 0,2 ponto percentual no PIB entre agosto de 2025 e dezembro de 2026, e já identifica que setores específicos, como madeira e móveis, sofrerão mais fortemente. Algumas poucas medidas compensatórias foram anunciadas, mas elas não mitigam o efeito de um aumento de alíquota de 10% para 50%.

Em resposta, entidades do setor vêm articulando medidas de curto e médio prazos junto ao governo federal, aos governos estaduais e até diretamente em Washington, como é a louvável iniciativa da entidade parceira ABIMCI (Associação Brasileira da Indústria de Madeira Processada Mecanicamente).

A Associação Sul-Brasileira de Empresas Florestais (ASBR), da qual a APRE Florestas faz parte, também está nessa força-tarefa. A entidade mantém uma consultoria em Brasília para monitorar as decisões executivas, por meio do consultor Fernando Castanheira. Assim, é possível promover articulações e abrir negociações de um setor estratégico e de forte representatividade para a economia brasileira e geração de empregos. É uma iniciativa inclusive de visibilidade de um setor que está presente na vida de muitos brasileiros e que precisa ser ouvido.

Desde o início da crise tarifária, a APRE Florestas tem atuado de forma ativa e intensa:

Em 4 de agosto de 2025, divulgou uma nota pública alertando para os riscos imediatos da tarifa de 50% sobre produtos florestais, destacando que o Paraná, onde muitos dos exportadores estão concentrados, seria fortemente afetado.
Participou de debates com lideranças do setor, reforçando a urgência da negociação entre Brasil e EUA. Em diversas entrevistas à imprensa, destacamos o fato de que já superamos outras crises e podemos sair mais fortes, desde que haja ação coordenada.
Participou ativamente em audiências públicas estaduais, como na Assembleia Legislativa do Paraná, para mobilizar apoio político institucional para medidas de mitigação.
Apresentou junto ao governo do estado do Paraná pleitos para minimizar os efeitos sobre o caixa das empresas.
Por meio dessas ações, a APRE buscou não apenas alertar sobre os impactos, mas também apresentar alternativas para redirecionamento de mercados, renegociação com compradores estrangeiros e apoio emergencial para empresas exportadoras.

Para que o setor sobreviva, é urgente avançar em três frentes:

Negociação diplomática direta com os EUA: a reversão ou modulação das tarifas impostas depende em grande medida de entendimento bilateral.
Diversificação de mercados e clientes: reduzir a dependência do mercado americano, sobretudo para os produtos mais vulneráveis à tarifa, o que é uma tarefa complexa e de longo prazo.
Apoio institucional emergencial: medidas fiscais, crédito especializado, prorrogação de obrigações fiscais e ajuda direta às empresas exportadoras.
Seja qual for o desfecho, é fundamental que o governo brasileiro e as entidades representativas atuem de forma integrada, com estratégia clara e pressão diplomática. Esperamos que o diálogo entre o presidente Lula e o presidente Trump, recentemente iniciado, seja o ponto de partida para que a tarifa de 50% seja revista ou ajustada, e que as empresas possam recuperar competitividade sem sacrificar empregos nem investimentos.

O “tarifaço” ainda está em curso e, da parte das entidades, cada uma está atuando em prol do setor florestal. Cabe ao Brasil responder com firmeza, estratégia e união.

Fabio Brun é presidente da Associação Paranaense de Empresas de Base Florestal (APRE Florestas).

 

 

 

 

 

Veja Também

Fieg/ ESG ganha protagonismo em Goiás e passa a ser critério de competitividade

O workshop “Infraestrutura e o Avanço do ESG no Desenvolvimento”, promovido pela Fieg por meio …