Menos secagem, menos biomassa: conservação de grãos é aliada da nutrição animal e da sustentabilidade no agro

Com ciência aplicada à conservação, novas tecnologias permitem armazenar grãos com maior umidade, reduzindo perdas nutricionais, consumo energético e a biomassa da produção animal

Armazenar grãos com qualidade e segurança é um dos grandes desafios da produção agropecuária brasileira, especialmente quando se considera que boa parte da safra de milho e farelo de soja é destinada à alimentação animal. O que antes dependia fortemente de processos como a secagem intensa, hoje já conta com soluções tecnológicas capazes de manter o grão íntegro mesmo em condições de umidade mais elevadas. A ciência aplicada tem trazido ferramentas eficazes, como conservantes à base de ácidos orgânicos, que inibem a contaminação fúngica e prolongam a vida útil dos grãos no armazenamento — reduzindo não apenas perdas nutricionais, mas também o consumo de energia e as emissões de carbono na cadeia.

O Brasil ainda enfrenta sérios gargalos estruturais no pós-colheita. A capacidade estática de armazenagem é insuficiente para a demanda: são cerca de 211 milhões de toneladas disponíveis para uma safra que deve ultrapassar os 330 milhões em 2025, segundo dados da Conab. Isso significa que parte considerável dos grãos acaba armazenada de forma improvisada — a céu aberto, em caminhões ou aguardando transporte nos portos — o que favorece contaminações, perdas e desperdícios.

“Num país continental como o Brasil, armazenar com segurança e qualidade é importantíssimo, já que após a colheita o nosso foco é a preservação do padrão atingido pelo grão até o momento de sua colheita, buscando sempre a segurança alimentar e redução de perdas”, explica Matheus Dario, engenheiro agrônomo e Coordenador Comercial para o segmento de grãos da Kemin. “Se 50% do milho e 80% do farelo de soja produzidos em solo brasileiro são destinados para alimentação animal, queremos que nossos plantéis recebam a melhor matéria-prima disponível.”

Entre os principais aliados da conservação está a redução do tempo e da intensidade da secagem — processo utilizado para diminuir a umidade dos grãos e evitar sua deterioração. “A secagem utiliza diferentes fontes de calor, sendo a lenha a mais comum nas unidades de armazenamento. Quando queimo essa biomassa, ela libera CO² para a atmosfera. Um grão que é armazenado com umidade mais alta não precisa passar tanto tempo por esse processo, o que reduz a queima de biomassa”, aponta Matheus.

Nesse cenário, soluções como o Myco CURB GT, desenvolvidas pela Kemin, contribuem para armazenar grãos com maior segurança e menor impacto ambiental. “É um produto líquido à base de ácidos orgânicos que protege os grãos da contaminação fúngica e ajuda a conservar suas características físicas e nutricionais mesmo com maior umidade. A aplicação é simples, segura e eficiente em diferentes ambientes, como armazéns, fábricas de ração, indústrias de etanol e cooperativas”, completa.

Além da questão ambiental, o impacto de um grão mal conservado vai diretamente para o desempenho do plantel e para os custos da fábrica. A presença de fungos como Aspergillus, Penicillium e Fusarium pode gerar micotoxinas altamente prejudiciais à saúde animal, afetando o crescimento, a imunidade e até a reprodução. “Estudos mostram que a presença de zearalenona em suínos pode causar aborto e ausência de cio. Já a toxina T-2 em aves reduz a produção de ovos, causa lesões orais e queda de peso”, afirma o especialista.

Também do ponto de vista nutricional, grãos mal armazenados perdem proteína e amido, exigindo maior volume de matéria-prima para manter o desempenho alimentar — o que encarece a produção e impacta a eficiência. “Ao conservar melhor o grão, evitamos perdas, melhoramos a sanidade e a qualidade nutricional da ração. Isso reflete em melhor conversão alimentar, menores custos e maior desempenho animal”, reforça Dario.

O engenheiro agrônomo  ressalta ainda que o setor está se movendo, mas que há muito o que avançar. “Nos últimos anos, o mercado tem voltado seus olhos para o setor de armazenagem buscando principalmente a melhora de seus produtos e a redução de custos. Mas ainda há um grande trabalho a ser feito, especialmente no campo da sustentabilidade.”

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