Nos últimos anos, o gás de cozinha tornou-se um elemento importante no universo das alternativas técnicas e ambientalmente eficientes para substituir os processos da indústria que se baseiam na lenha, sobretudo considerando as novas políticas ambientais em suas múltiplas dimensões. Para se ter noção, de acordo com o Balanço Energético Nacional, da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), a indústria brasileira consome mais de 23,9 milhões de toneladas de lenha por ano.
Todo esse volume poderia facilmente ser reduzido a partir do uso de gás liquefeito de petróleo (GLP), especialmente considerando seu alto poder calorífico, sua queima limpa e sua baixa emissão de poluentes, atributos que dialogam com as novas demandas ambientais de conservação.
Lenha ainda domina processos agroindustriais no Brasil
Embora tenha ocorrido uma série de avanços tecnológicos no campo brasileiro, a substituição da lenha ainda enfrenta algumas barreiras ligadas diretamente à superestrutura econômica que moldam as relações de produção. Atualmente, muitos produtores mantêm sistemas térmicos que se baseiam em biomassa sólida. Essa escolha se dá ora por técnicas de manejo tradicionais, ora pela percepção de que os custos iniciais são mais baixos. Todavia, essa dependência produz desafios, como a necessidade de autorização do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) para o uso da lenha, os altos índices de emissão de CO2 e a baixa eficiência energética.
O uso de lenha em caldeiras e secadores agroindustriais é responsável por uma parcela expressiva das emissões do setor, afetando as dinâmicas e as interações dos ciclos naturais na relação terra e atmosfera. Além disso, a queima irregular compromete a uniformidade térmica, dificultando o controle da temperatura e prejudicando a qualidade do produto final. Embora a lenha ainda domine os processos agroindustriais no Brasil, o GLP se apresenta como uma fonte de energia limpa, segura e de maior eficiência, ou seja, um elemento capaz de prover a estabilidade operacional, além de reduzir significativamente os impactos ambientais atrelados a essa atividade produtiva.
Estima-se que o ganho de produtividade pode chegar a até 30% em relação à lenha, resultado direto do melhor desempenho térmico e do controle de temperatura mais preciso. Esse movimento representa maior aproveitamento em termos de energia, além de diminuir o desperdício de combustível, variáveis que, de uma forma ou de outra, acabam afetando os custos e a competitividade no setor.
Poder calorífico e controle térmico como diferenciais técnicos
Pode-se dizer que o desempenho do GLP como combustível agrícola se deve principalmente ao seu alto poder calorífico, que atinge cerca de 11.000 kcal/kg, tornando-o mais eficiente do que a lenha. Isso porque a lenha gira em torno de 3.500 kcal/kg.
Dessa forma, a diferença permite atingir rapidamente altas temperaturas, garantindo controle térmico rigoroso em processos industriais e reduzindo o tempo de operação. Outro ponto técnico relevante é a queima limpa do GLP. Esse gás não gera fuligem, resíduos sólidos ou odores, evitando a contaminação dos produtos agrícolas, como grãos e sementes, além de minimizar a necessidade de manutenção dos equipamentos em curto e longo prazo. Outro aspecto elementar é o controle de temperatura, que se torna muito mais preciso, evitando o superaquecimento e os danos térmicos, preservando a integridade dos alimentos e reduzindo perdas pós-colheita.
Quando se observa todas essas características do GLP, torna-se inviável não reconhecer que se trata de uma fonte de energia estável e previsível que gera vantagem competitiva frente a combustíveis com maior variação térmica, como lenha e gás natural. Esse combustível também pode ser armazenado em botijões ou tanques pressurizados, com transporte facilitado mesmo em regiões mais distantes dos grandes centros urbanos – um elemento importante para o processo logístico, por exemplo.
Aplicações práticas em diferentes culturas agrícolas
Na agroindústria, a secagem dos grãos é uma das aplicações mais expressivas do GLP, dado que o processo exige controle rigoroso da temperatura para remover a umidade sem comprometer as propriedades físicas dos grãos. Existem dois principais tipos de secagem artificial de grãos. Na secagem contínua, o produto passa uma única vez pelo secador, entrando úmido e saindo seco, ideal para grãos com umidade de até 18%. Já na secagem intermitente, indicada para grãos mais úmidos, o ar quente é aplicado em intervalos, proporcionando um processo mais gradual.
Na totalidade ambos os métodos utilizando GLP asseguram eficiência térmica. Além da secagem, o gás de cozinha é amplamente utilizado em outros processos agroindustriais que exigem controle térmico preciso, como torrefação de café, desidratação de frutas e processos de pasteurização. No fim, o relatório “Global Farmers Insights 2024”, da consultoria McKinsey, mostra que os agricultores brasileiros estão cada vez mais atentos à adoção tecnológica e à sustentabilidade como fatores estratégicos no setor. Nesse caso, a substituição da lenha pelo GLP representa uma transformação estrutural na agroindústria.
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