FIEG: Com China desacelerando, Índia pode ser a bola da vez

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Com público recorde, a Federação das Indústrias do Estado de Goiás (Fieg), por meio do Centro Internacional de Negócios (CIN) e do Conselho Temático de Comércio Exterior (CTComex), realizou em 13/09 o 10º Encontro Internacional de Comércio Exterior (Eice). Mais de 400 participantes lotaram o auditório João Bennio, na Casa da Indústria, em Goiânia, para discutir o tema Comércio Internacional: Desafios e Oportunidades no Mercado Globalizado. O encontro contou com palestras dos economistas Ecio Costa e André Galhardo, que analisaram a atual conjuntura nacional e internacional e as chances que o País possui de atrair novos investimentos diante da tendência nearshoring (encurtar as cadeias de produção, aproximando os elos para perto dos países de origem). Houve ainda um painel da Apex Brasil, com oportunidades para os produtos brasileiros nos mercados sul-americano e europeu.

Na abertura do evento, o presidente da Fieg, Sandro Mabel, destacou os ativos e vantagens competitivas que Goiás possui e que podem ser explorados no contexto do comércio exterior. “O Estado é rico em recursos naturais, como a agroindústria, mineração e produção de alimentos, que têm um grande potencial de exportação. Entretanto, para aproveitar essas oportunidades, é essencial que o governo, as empresas e a sociedade civil trabalhem juntos para superar os desafios.”

A estratégia foi reforçada pelo presidente do Conselho Temático de Comércio Exterior da Fieg, William O’Dwyer. “Há mais de uma década, a Fieg mantém a chama do comércio exterior acesa em Goiás, mostrando que a internacionalização é acessível para todos, independentemente do porte da empresa. Hoje, a marca made in Goiás já é reconhecida lá fora. O sucesso na exportação não é medido somente pelo produto, mas também pela referência de quem o produz.”

REFORMAS ESTRUTURAIS
O economista Écio Costa, que conduziu a palestra magna nesta edição do Eice, destacou a importância das reformas estruturais para a melhoria do ambiente de negócios no Brasil, aumentando a competitividade do País para atração de novos investimentos. “Se a gente não consegue produzir para atender ao mercado interno, como vamos pensar em exportar. Essa cultura exportadora para pequenos negócios passa pela desburocratização do processo.”

De acordo com o economista, a indústria é o setor que mais sente o impacto do Custo Brasil. A alta carga tributária interfere na competitividade, impacta a produtividade e encarece insumos, o que acaba prejudicando a jornada do empresário que busca expandir negócios além-fronteiras e a concorrência com produtos importados.

Écio Costa ressaltou ainda movimentos no cenário internacional que indicam a Índia como a bola da vez, sobretudo com a desaceleração da segunda maior economia do mundo. “A Índia cresce com ritmo chinês”, afirmou.

Com exceção do ano de 2020, que marcou o início da pandemia, o país asiático apresentou crescimento do PIB de 9,1%, em 2021, 7%, em 2022, e números parciais de 2023 indicam que o crescimento já beira os 7%. Até o final do ano é esperado ainda que a população indiana ultrapasse a chinesa, com 1,42 bilhão de pessoas. “Temos muito que avançar e ampliar negócios com a Índia e os empresários precisam estar atentos às oportunidades.”

O especialista salientou o potencial do Brasil de continuar crescendo com o complexo do agronegócio. “O Brasil é a Arábia Saudita do agronegócio. Eles têm petróleo, nós temos água”, afirmou, destacando nosso desempenho no comércio exterior na produção de commodities.

Outro ponto abordado por Écio Costa foi a atual dinâmica nearshoring, onde empresas movimentam-se para aproximar sua produção com transferência de atividades de negócios para países mais próximos geograficamente. “O Brasil precisa melhorar sua governança e pode crescer a passos largos, caso promova uma abertura comercial para atração de mais negócios.”

A opinião foi compartilhada pelo economista André Galhardo, da consultoria Análise Econômica, no painel A Nova Configuração Geopolítica Global e as Oportunidades para o Brasil. “Desde o mandato do Trump [ex-presidente dos EUA], acompanhamos um processo de desglobalização, com maior protecionismo econômico. Hoje, mais de 60% das empresas querem trazer para perto sua produção.”

Galhardo pontuou que nesse processo de nearshoring, considerando o acirramento da guerra comercial entre Estados Unidos e China, as empresas buscam se antecipar ao trazer a produção para mais perto. “Nesse contexto, América Latina e África podem se beneficiar nessa atração de investimentos. Se eu for apostar em dois países para absorver essa migração de produção, seria no Brasil e no México, atualmente as duas maiores economias da América Latina”, avaliou, ao observar que, no México, existem limites, como mão de obra, câmbio, capacidade de produção e infraestrutura; enquanto no Brasil há minerais estratégicos, o que o torna uma alternativa mais interessante.

Para ele, além da neutralidade política, o Brasil possui diferenciais competitivos estratégicos, como os insumos demandados pela nova indústria. Entretanto, é preciso que o País continue trabalhando pelas reformas estruturais e cumprimento das metas de inflação. “Não dá pra contar somente com a desvalorização cambial para tornar a produção competitiva. Precisamos fazer nosso dever de casa, melhorar o ambiente de negócios, para não perder o bonde do crescimento.”

Considerando a economia de Goiás, Galhardo destacou a mão de obra qualificada, a conexão entre o agro e a indústria, as jazidas minerais, com insumos que a nova indústria precisa para crescer e se desenvolver, como diferenciais nessa atração de novos investimentos.

O 10º Encontro Internacional de Comércio Exterior (Eice) foi correalizado com o Sebrae, com patrocínio do Grupo Porto Seco Centro-Oeste e DHL, além de apoio dos Correios, da Apex Brasil e Fecomércio.

O evento contou com presença do secretário estadual de Indústria e Comércio, Joel Sant’Anna Braga; do secretário estadual de Agricultura e Pecuária, Pedro Leonardo; do diretor de Administração e Finanças do Sebrae Goiás, João Carlos Gouveia; do diretor de Relações Internacionais da Fecomércio, Marcelo Gomes; do diretor de Operações do Grupo Porto Seco Centro-Oeste, Everaldo Fiatkoski; do superintendente estadual dos Correios em Goiás, Henrique Almeida; e de representantes diplomáticos da Bélgica, Alemanha, Portugal, China, Líbano e Gana.

PAINEL APEXBRASIL
Dentro da programação do Eice, foram discutidos ainda os erros e acertos no processo de exportação, com cases de mercados da América do Sul e Europa. A mesa-redonda foi mediada pela representante Regional Centro-Oeste do Escritório ApexBrasil Goiânia, Cíntia Faleiro, com participação do gerente-geral da ApexBrasil em Bogotá, Marcello Martins, e da trade-officer do Escritório da ApexBrasil na Bélgica, Magdalena Smorczewska. Os empresários Rodolfo Vieira (Brasil Direto) e Sara Silva (Bioline) falaram sobre a experiência que tiveram nesse processo de internacionalização, detalhando as dificuldades que enfrentaram e as oportunidades que surgiram ao se lançar no comércio exterior.

“O aprendizado é diário. Precisamos nos adequar e adaptar o produto para o mercado colombiano, mas tivemos toda uma rede de apoio da Apex para encontrar parceiros e programas que nos auxiliaram nessa regionalização da operação”, afirmou Sara Silva, gerente de Exportações da Bioline, empresa de Anápolis, do setor de medicamentos, que hoje exporta para países da América Latina e do Oriente Médio.

A trade-officer Magdalena Smorczewska destacou que uma estratégia de exportação não pode ser ancorada somente no câmbio. “A Europa é um mercado estável, que preza por relações comerciais de médio e longo prazo. É preciso investir em certificações, que abrem um leque de oportunidades, diferenciando o produto da concorrência”, destacou, ressaltando que o Brasil tem muito a oferecer, principalmente nos setores de alimentos e bebidas, moda e produtos de beleza.

A representante da Apex na Europa sustentou também que é imprescindível o conhecimento do idioma inglês, bem como a adaptação de embalagens. Além disso, uma estratégia de divulgação nas redes sociais para suporte na divulgação pode contribuir com o sucesso do produto no mercado internacional. Fieg

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