Palavra de Especialista: A realidade americana e fronteira brasileira do etanol de milho

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O crescente consumo de combustíveis no Brasil trouxe para o etanol um desafio de produção nos últimos anos, o qual até 2013 limitava-se basicamente na cana-de-açúcar como matéria-prima industrial. Segundo a União da Indústria da Cana-de-Açúcar (UNICA), a produção total de etanol no Centro-Sul brasileiro encerrou a safra 2015/16 (mensurada entre abril/15 a março/16) com mais de 28,2 bilhões de litros, maior volume histórico da região. Para atender a demanda potencial do combustível renovável que surgirá até 2020, a entidade prevê a necessidade de 100 novas usinas de etanol, oportunidade até então barrada pela crise que vive o setor nos últimos anos, com baixos investimentos e reduzidos incentivos governamentais.  Buscando aproveitar esse mercado potencial, algumas unidades produtoras se espelharam na indústria norte-americana, a qual utiliza como matéria-prima para produção do etanol o milho, sendo hoje o principal produtor mundial do biocombustível. Segundo a associação dos produtores de etanol de milho dos EUA (RFA, Renewable Fuels Association) a produção de etanol do país saltou de 6,14 bilhões de litros em 2000 para 56,06 bilhões de litros em 2015, um crescimento vertiginoso de quase 16% a.a., enquanto no Brasil o crescimento foi de apenas 7% a.a., saindo de 10,6 bilhões para aproximadamente 30,2 bilhões de litros, provenientes apenas da cana-de-açúcar. Já a produção de etanol utilizando o milho como matéria-prima, segundo a UNICA, ainda traz números bem simbólicos para a região Centro-Sul, sendo de apenas 84,88 milhões de litros na safra 2014/15 e 141,05 milhões de litros na 2015/16 (finalizada agora em março), ou seja, apenas 0,46% da produção total de etanol no Brasil.

Sabe-se que a produção de etanol à base de milho está ainda em desenvolvimento e apresenta para o país um mercado potencial para incremento de produção. Uma das vantagens para as usinas é a disponibilidade do milho o ano todo (safra e safrinha), podendo este ser utilizado para a produção no período de ociosidade industrial na entressafra de cana-de-açúcar, o que permitiria uma melhor estabilização do fluxo de caixa, não só em função do etanol, mas dos subprodutos (atendendo a indústria de ração animal, por exemplo). Outro ponto importante é que o milho possui a vantagem de estocagem (diferentemente da cana-de-açúcar que deve ser processada de imediato), podendo assim até manter a produção em dias de elevadas precipitações, que atrapalham a colheita da cana. Ressalta-se, contudo, a necessidade de investimento, desenvolvimento de uma cadeia de fornecedores e planejamento industrial/financeiro para a viabilidade do negócio.

Murilo F. Aguiar

é Consultor em Gerenciamento de Risco – Açúcar & Etanol da INTL FCStone

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