Por Alexandre Pierro
O setor de energia se encontra em um momento de inflexão. Por um lado, impulsionado, cada vez mais, por uma demanda sustentável, segura e eficiente. Mas, por outro, ainda enfrentando obstáculos que dificultam essa materialização – indo desde empecilhos regulatórios, à falta de uma verdadeira cultura inovadora nessas empresas que impulsione esse movimento. Diante deste gap nítido entre a visão e realidade, apenas uma mudança cultural profunda pautada em uma governança robusta poderá propor caminhos estratégicos para essas metas, pavimentando um futuro energético bem mais resiliente e inovador.
Em 2024, dados divulgados pela Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE) identificaram que o Brasil consumiu 3,9% mais energia elétrica do que em 2023, ultrapassando, pela primeira vez, a marca de 70 mil megawatts (MW) médios. Para este ano, as expectativas, segundo o Ministério de Minas e Energia (MME), são de um cenário de maior crescimento neste consumo e mudanças significativas nos preços do petróleo, aspectos que influenciam, diretamente, o planejamento estratégico dessas empresas para que atendam essa demanda mantendo a preservação ambiental.
A própria ENEL, nesse sentido, obriga as empresas nacionais deste setor que direcionem 1% de seu faturamento do ano anterior em iniciativas de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação (PD&I), como parte do programa da Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), que responde à Lei 9.991/2000. A ideia é, justamente, financiar o desenvolvimento de tecnologias, processos, equipamentos e produtos inovadores que contribuam para uma sociedade mais moderna, sustentável, com maior qualidade nos serviços prestados e com responsabilidade social.
Porém, em muitos casos, essa obrigação faz com que muitas empresas direcionem esse dinheiro de forma equivocada, em projetos que não vão para frente nem geram qualquer tipo de valor frente a esse objetivo, tomando apenas tempo e recursos que não agregam em nada positivo. Resultados, esses, que estão diretamente ligados à falta de uma verdadeira governança de inovação incorporada no mindset corporativo que direcione essas decisões em planejamentos mais assertivos e benéficos.
Ideias brilhantes, que contribuam com o desenvolvimento de soluções financeiramente eficazes e que também sustentem a preservação do ecossistema, podem surgir de diversas formas, assim como serem aplicadas através de diferentes metodologias. Mas, se não houver nenhuma sistemática por trás deste processo de testagem, experimentação e validação, as chances de se frustrarem com essas propostas serão, certamente, maiores.
E, é justamente aqui que a governança da inovação no setor de energia entra, sendo crucial para transformar essas ideias em resultados sustentáveis. Ela estabelece a estrutura e processos necessários para gerenciar o ciclo de vida da inovação e sua execução, conduzindo de forma cadenciada para que cada etapa percorrida atinja o resultado esperado e otimizando, com isso, o tempo e dinheiro investidos.
Isso inclui, na prática, uma série de cuidados que influenciam, diretamente, nessa conquista: ter um bom funil de inovação que filtre as propostas que tendem a atingir as metas esperadas; estabelecer uma gestão de riscos que considere potenciais prejuízos ao negócio; prezar pela capacitação dos times para que se qualifiquem em suas tarefas e, acima de tudo, realizar um amplo mapeamento de mercado, identificando quais tendências ou oportunidades fazem sentido ou não para sua realidade e objetivos.
Essa estruturação é o que contribuirá para que toda iniciativa adotada internamente se mantenha alinhada às expectativas de cada empresa e, ao mesmo tempo, às demandas do mercado, definindo uma visão mais clara à longo prazo do que pretendem conquistar e quais soluções serão necessárias para percorrer essa trajetória – tendo uma maior estratégica na alocação dos recursos junto a planos de contingência em casos de desafios inesperados, para que não se prejudiquem ao longo do caminho.
A cada ano, o crescimento econômico internacional, as intensas ondas de calor impulsionadas pelas mudanças climáticas e o próprio cenário macroeconômico exigirão, cada vez mais, a adoção de energias mais renováveis e limpas. E, a melhor forma de permanecer em aderência a esse cenário, sem que qualquer imprevisto macroeconômico impeça este sucesso, será através desta governança de inovação que oriente nas ações que mais façam sentido para cada empresa, para que saibam não apenas aonde querem chegar, mas também o que devem fazer para isso.
Ela será a grande capitã que comandará todos os elementos necessários para que as ideias inovadoras no setor de energia não fiquem apenas no papel, mas se transformem em soluções concretas que contribuam para um futuro mais sustentável, gerando valor tanto para a empresa quanto para a sociedade e o meio ambiente.
Alexandre Pierro é mestre em gestão e engenharia da inovação, engenheiro mecânico, bacharel em física e especialista de gestão da PALAS, consultoria pioneira na implementação da ISO de inovação na América Latina.