COP30 encerra em Belém com avanços e desafios que seguem na mesa

Após quase duas semanas de negociações intensas, a COP30 terminou neste sábado (22), em Belém, com um pacote robusto de decisões e a sensação de que as discussões climáticas ganharam novo fôlego. Os 195 países presentes aprovaram, por consenso, 29 documentos — um feito destacado pela presidência brasileira do evento. O conjunto ficou conhecido como Pacote de Belém.

As decisões abarcam temas centrais da agenda climática global, como financiamento, adaptação, justiça social, comércio e tecnologia. No entanto, o aguardado Mapa do Caminho para a redução estrutural da dependência mundial de combustíveis fósseis — prioridade defendida pelo Brasil — não avançou o suficiente para entrar na lista final de consensos.

Fundo Florestas Tropicais para Sempre
Um dos grandes destaques da conferência foi a criação do Fundo Florestas Tropicais para Sempre, um novo modelo de financiamento internacional destinado a recompensar países que preservam suas florestas. Diferente das tradicionais doações, o fundo funciona como um mecanismo de investimento: recursos aplicados são remunerados com taxas compatíveis ao mercado, ao mesmo tempo em que ajudam a manter a floresta em pé.
A iniciativa já conta com o apoio de 63 países e mobilizou US$ 6,7 bilhões.

Financiamento para adaptação
Outro ponto relevante do Pacote de Belém foi o compromisso de triplicar, até 2035, os recursos destinados à adaptação climática. Os países também reforçaram a necessidade de ampliar o apoio financeiro às nações em desenvolvimento. O documento batizado de “Mutirão” projeta que o financiamento global para ação climática deve alcançar pelo menos US$ 1,3 trilhão por ano até 2035. A conferência terminou com 122 países apresentando suas novas Contribuições Nacionalmente Determinadas, as NDCs — planos nacionais de redução de emissões. O ciclo de atualização segue o Acordo de Paris, firmado em 2015.

Meta Global de Adaptação
A COP30 também recebeu 59 indicadores voluntários que servirão para medir o progresso da Meta Global de Adaptação. Eles abrangem setores essenciais, como água, agricultura, saúde, ecossistemas, infraestrutura e modo de vida, com transversalidade em finanças, tecnologia e capacitação.

Transição justa e inclusão
Os documentos aprovados reforçam a importância de considerar as pessoas no centro da transição climática. Populações vulneráveis devem receber atenção prioritária, e desigualdades precisam ser enfrentadas. Pela primeira vez, afrodescendentes foram mencionados explicitamente nos textos climáticos da ONU.
Além disso, foi aprovado o novo Plano de Ação de Gênero, que amplia a participação e o protagonismo de mulheres indígenas, negras e rurais.

Ambição coletiva
A agenda de implementação das metas ganhou dois novos instrumentos:

Acelerador Global de Implementação, voltado ao apoio prático à execução das NDCs.
Missão Belém para 1,5°C, iniciativa que pretende elevar a ambição global em mitigação, adaptação e investimentos. Uma COP voltada à prática O governo brasileiro classificou esta edição como a “COP da Implementação”, destacando que várias ações concretas já estão em andamento. Entre elas:

Iniciativa FINI, voltada a destravar US$ 1 trilhão em projetos de adaptação nos próximos três anos;
Aporte de US$ 1,4 bilhão da Fundação Gates para apoiar pequenos agricultores;
Plano de Ação de Saúde de Belém, com US$ 300 milhões para fortalecer sistemas de saúde resilientes ao clima;
Apoio de dez países ao Acelerador Raiz, para recuperar terras agrícolas degradadas.
O roteiro global para reduzir a dependência de combustíveis fósseis — defendido pelo presidente Lula — não foi aprovado por falta de consenso unânime. Ainda assim, a proposta seguirá em debate pelos próximos meses, sob liderança do Brasil, que permanece na presidência da COP até novembro de 2026. Segundo a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, o Mapa do Caminho ganhou respaldo de mais de 80 países e teve forte apoio da comunidade científica e da sociedade civil. A expectativa é que cada nação desenvolva sua própria estratégia, assim como ocorre com as NDCs, considerando seus contextos sociais e econômicos.

Canal-Jornal da Bioenergia

Veja Também

Governo de Goiás e Prefeitura de Aparecida avançam com novo eixo viário

O Governo de Goiás e a Prefeitura de Aparecida de Goiânia deram mais um passo …