A energia eólica, que já foi considerada uma das grandes apostas para a matriz energética brasileira, vem enfrentando uma série de desafios neste ano de 2025. A energia da força dos ventos, apesar de seu papel essencial na transição energética, vive uma fase de turbulência. O curtailment (corte na geração) tem sido aplicado com mais frequência para evitar sobrecarga na rede elétrica. Só em 2024, estima-se que o setor perdeu R$ 1,6 bilhão com cortes de geração. Usinas não são compensadas financeiramente, o que desestimula novos investimentos.
O que é curtailment
Curtailment é o termo usado para descrever o corte ou limitação da geração de energia em usinas, mesmo quando há condições ideais para produzir. No Brasil, esse fenômeno tem afetado principalmente as fontes renováveis como a solar e a eólica. corre quando a produção de energia excede a capacidade da rede de transmissão ou a demanda do sistema. Mesmo com vento forte ou sol intenso, o Operador Nacional do Sistema (ONS) pode ordenar que usinas reduzam ou interrompam a geração. É como ter uma fábrica funcionando a todo vapor, mas sem caminhões suficientes para transportar os produtos.
Consequências
Elbia Gannoum, presidente da Associação Brasileira de Energia Eólica (ABEEólica), afirma que 2024 foi o pior ano da história da eólica no Brasil, devido ao curtailment. Ela defende que a ANEEL deve “cumprir a lei” e ressarcir os geradores pelos cortes, como previsto na legislação de 2004. Ela acrescenta: “se os geradores tiverem que precificar o risco de curtailment antecipadamente, isso tornará a energia mais cara para o consumidor.”
Já Rodrigo Mello, diretor do Senai-RN e do Instituto Senai de Inovação em Energias Renováveis, criticou o uso do curtailment como uma “ferramenta de gestão simplista” e disse que empresas chegaram a perder até 70% da geração anual por causa dos cortes.
Por que isso acontece?
O curtailment é decorrente de uma infraestrutura limitada, já que as linhas de transmissão não acompanham o ritmo de expansão das usinas renováveis. Em momentos de menor consumo, o sistema não consegue absorver toda a energia gerada. Isso porque há falta de armazenamento. O Brasil ainda não tem sistemas eficientes para guardar o excedente de energia. Essa falta de linhas de transmissão adequadas, impede que a energia gerada chegue ao consumidor. Além disso, a geração distribuída solar já ultrapassou a eólica em potência instalada no Brasil: 36 GW vs. 33 GW. A facilidade de instalação e incentivos fiscais tornam a solar mais atrativa para consumidores. Neste contexto, em 2024, houve uma redução de 31% na instalação de novas usinas. Empresas como AES e General Electric encerraram operações no Brasil. Há ainda o problema da falta de marcos regulatórios claros, especialmente para eólicas offshore, dificultando a expansão.
Canal-Jornal da Bioenergia