Foto: Sílvio Ávila/Mapa

Inovação e tecnologia avançada são aliadas da alta produtividade

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Há algum tempo o segredo do sucesso da lavoura não é apenas uma terra arada, semente, chuva e sol. A receita foi se adaptando ao longo dos anos e a tecnologia está cada dia mais presente o campo – mesmo que pareça invisível a olhos nus. Melhoramento genético e biotecnologia, por exemplo, eram palavras inexistentes no vocabulário agrícola há algumas décadas. Hoje, são corriqueiras e fundamentais na rotina dos produtores que querem alcançar sucesso na safra.

Por ano, bilhões são investidos para produção de alimentos. De acordo com o estudo do Boston Consulting Group and AgFunder, em 2015 foram gastos 25 bilhões de dólares em todo o mundo para desenvolver tecnologias agrícolas – valor distribuído por grandes companhias e também novas startups.

Entre as tecnologias laboratoriais atuais, os maiores avanços no que se refere à cana-de-açúcar, soja e milho são no desenvolvimento de insumos para nutrição e proteção de plantas, por meio do desenvolvimento de resistência às principais moléstias que atacam os cultivos (resistência genética) e resistência a seca (introdução de características de outras espécies). Além disso, há também o constante desenvolvimento de defensivos químicos e biológicos mais eficientes e com menores impactos negativos ao ambiente, além de fertilizantes foliares de aplicação no solo com maior eficiência na nutrição das plantas.

Gustavo Libardi, especialista em Agricultura de Precisão da Yara Brasil, aponta ainda a combinação de inovações tecnológicas, como a utilização de sensores de cultura com fontes de fertilizante mineral de última geração, que mostram-se eficientes na melhoria da nutrição de plantas, no incremento da produtividade de grãos e na redução do impacto ambiental devido à maior recuperação de nitrogênio.

De acordo com o analista técnico da Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás (Faeg), Alexandro Alves, a principal vantagem do uso de tecnologia no campo é o aumento da produtividade e mitigação de custos. “A tecnologia está cada vez mais presente nas áreas produtivas, seja agricultura ou pecuária, potencializando a produção, facilitando a logística e proporcionando uma melhor gestão. Na parte de comercialização, de igual forma, a tecnologia disponível da porteira para fora facilita, em muito, a vida do produtor rural, dando condições de acompanhar, de forma precisa, a produção até o comprador final.”

Conforme explica o analista, diferente do que ocorria antigamente, hoje o produtor tem se atentado mais aos detalhes da lavoura, pois são estes que fazem toda diferença no final do processo produtivo. “A agricultura de precisão é um exemplo. Os detalhes contidos nesse sistema são minuciosos e, ao final, a observância dos mesmos faz com que a tecnologia seja aplicada de forma correta e o resultado é visível.”

A tecnologia já está presente e vai continuar fazendo parte da vida do agricultor moderno. É no que acredita Luís Ignácio Procheow, coordenador técnico da Nutrientes para a Vida, organização cuja missão é educar e informar o público sobre os nutrientes das plantas e a responsabilidade em alimentar o planeta. “O mundo se torna cada vez mais competitivo. O administrador tem que acompanhar o que esta acontecendo, buscando novas tecnologias, novas variedades, rotação, adubação e maquinário.” As consequências são grandes e lógicas. “Quem não acompanhar o desenvolvimento tecnológico tem chances altas de ter sucesso reduzido, pelo menos em atividade em larga escala.”

Gustavo Libardi concorda com este ponto de vista. “A Organização das Nações Unidas (ONU) estima que a população será de 9,7 bilhões até 2050. Para isso, até lá será preciso aumentar em 70% a produção agrícola. A estimativa é de que, nos próximos 50 anos, será mandatório produzir mais alimentos do que foram produzidos nos últimos 10 mil anos. Como fazer isso usando o mesmo palmo de terra? Por meio do uso da tecnologia no campo.”

Para atender a essa demanda, o profissional do campo busca cada vez mais novas tecnologias que proporcionem aumento de produção, porém, de forma sustentável e economicamente viável. O gerente de Comunicação e Inteligência Competitiva da Ourofino Agrociência, Everton Molina Campos, explica que é necessário que o profissional se qualifique para utilizar essas novas ferramentas. “A percepção sobre trabalhos realizados em laboratórios são cada vez mais valorizados. Logicamente que ainda existe resistência por parte do setor e, por essa razão, é imprescindível que as empresas estejam próximas ao agricultor, levando tecnologia de ponta, capacitando e, até mesmo, demonstrando os resultados desses trabalhos em campo.”

Economia

Atualmente, enquanto a população cresce em progressão geométrica, é difícil falar em produção de alimentos em larga escala sem se mencionar o melhoramento genético de plantas. A alta produtividade é o grande objetivo da atividade. Mesmo proporcionando bons resultados no campo, nítidos a cada safra, a tecnologia precisa ser economicamente viável ao produtor. “Podemos dizer que, apesar de largamente utilizada hoje nos campos produtivos, a tecnologia ainda é um pouco cara quando analisamos os custos de produção. Temos observado que, apesar dos avanços, a produtividade se estagnou nos últimos anos. Assim, as empresas precisam se atentar, pois tecnologia que não funciona cai em desuso”, explica Alexandro Alves. “A tecnologia empregada no melhoramento de plantas ainda é um processo caro, mas há exemplos muito baratos e de sucesso, como é o caso das variedades de cana-de-açúcar desenvolvidas pelos programas universitários de melhoramento genético (Rede Interuniversitária para o Desenvolvimento do Setor Sucroenergético – Ridesa), mostrando que parcerias públicas dão resultado, e muito bons, por sinal”, conclui.

A tecnologia e o domínio da sua gestão por meio dos robôs, computadores, sensores e digitalização é inexorável. É inimaginável planejar o futuro sem o uso desse conhecimento. É como analisa José Luiz Tejon Megido, Conselheiro Fiscal do Conselho Científico Agro Sustentável (CCAS). “A agricultura de precisão, palmo a palmo, planta a planta, animal a animal, desde a irrigação até colheita, reunindo toda a cadeia produtiva num Big Data do agronegócio, irá representar a luta vital de colocar mais fatores controláveis dentro de tantos aspectos incontroláveis que temos nessa atividade.” Sendo assim, Tejon entende que tudo isso irá representar captura de valor do potencial genético e eliminação do desperdício, permitido a democratização e o acesso a milhões de empreendedores no mundo do agronegócio, exatamente porque haverá instrumentos para que todos possam gerenciar e ter êxito nas atividades do agronegócio. “Deixará de ser para poucos, e passará a ser para muitos.”

Novidades

Para os próximos meses, sem dúvidas, a principal novidade no que se refere a cana-de-açúcar é o desenvolvimento da primeira variedade transgênica do mundo, aprovada recentemente pela Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio), para uso comercial no Brasil. A Cana Bt, que utiliza tecnologia já presente em outras culturas, foi desenvolvida pelo Centro de Tecnologia Canavieira (CTC) e passou por uma rigorosa avaliação sob os aspectos ambiental e de saúde humana e animal. A variedade é a resistente à principal praga da cultura, a broca (Diatraea saccharalis).

No caso dos grãos e cereais, a transgenia também tem se desenvolvido bastante, sobrepondo algumas tecnologias já obsoletas. Já há produtos como soja e milho mais resistentes a alguns tipos de pragas e resistência a déficit hídrico. “Há muita coisa nova a caminho, sempre com foco em melhorias na produtividade e capacidade de enfrentar melhor as intempéries climáticas e ataques de patógenos e vetores”, diz Alexandro Alves.

Futuro

As necessidades do produtor e do consumidor nos próximos anos serão atendidas com muito mais tecnologia agregada e valor no produto final. O uso de áreas cultiváveis, inclusive, poderá ser menor, atendendo ainda ao futuro do crescimento populacional e avanço das cidades “Sem dúvida que o gene design ou a edição gênica irá dar outro salto gigantesco no foco da pesquisa e na busca com precisão de soluções agroindustriais e dos desejos dos consumidores finais. Daqui 10 anos, uma soja, milho, arroz, suíno, frango, cana, seja o que for sob a pesquisa da biotecnologia, irá oferecer muito mais de seus ingredientes úteis e aproveitáveis do que extraímos hoje. Haverá necessidade de menos áreas, com muito mais produtividade do lado de fora e do lado de dentro de cada grão. antecipa Tejon.

Mais produção de alimentos com maior e melhor proteção ao meio ambiente. De acordo com Gustavo Libardi, esse é o caminho, que agora é potencializado via tecnologia e inovação. “A melhoria da genética vegetal e animal é decisiva para produzir mais – além de superar uma série de dificuldades, como escassez de terra e água, solos com baixa fertilidade e ocorrência de pragas.” O especialista entende que a tecnologia otimiza a atividade humana e supre as limitações físicas.” A automatização de processos realiza, de forma precisa, tarefas repetitivas – coletando informações para melhorias futuras. Em geral, os benefícios são preservação do meio ambiente e aumento da produtividade.”

Ou seja, para o futuro, a tendência é que o produtor continue em busca de informações para o sucesso no campo. “Os produtores, independentemente do tamanho da sua propriedade, estão cada vez mais tecnificados e sabem avaliar o valor agregado do investimento em tecnologia. Não apenas em máquinas, mas entendem que é preciso escolher a melhor semente, o melhor fertilizante, os melhores insumos, além de buscar a orientação de um agrônomo em todas as etapas do processo”, diz Gustavo Libardi.

Molina afirma que a tendência é que a biotecnologia e as novas tecnologias sejam mais exploradas nos próximos anos. “O uso da biotecnologia cresce aceleradamente e muitas empresas e institutos de pesquisa já colhem resultados interessantes. Por isso, o desafio de conseguir trabalhar comercialmente esses produtos diminui a cada ano.“ Ele destaca um aspecto importante dessa tendência: inovação incremental. “Isso é extremamente importante, pois atualmente a maioria das empresas multinacionais desenvolvem formulações para atender o mercado global. Ou seja, esses produtos são desenvolvidos em centros de pesquisas localizados no Hemisfério Norte, onde as condições edafoclimáticas são completamente diferentes das que encontramos no Brasil. Essa condição tem impacto na performance dos produtos que hoje são comercializados nacionalmente”, conclui.

Agricultores e consultores bem informados conhecem a importância de acompanhar o processo e usar a tecnologia a seu favor, não deixando de lado as análises laboratoriais. “Na nossa área de atuação, tudo se inicia pela análise do solo para poder construir o que deve se aplicado e como o solo deve ser manejado para o desenvolvimento da cultura. Nesse sentido, o produtor deve estar sempre se informando e utilizando um conjunto de técnicas disponíveis para cada situação”, explica Procheow. De acordo com o especialista, aqueles produtores que não estão acompanhando as tendências e informações disponibilizadas ficam alheios a uma situação mais favorável.

Quanto à questão financeira, Procheow destaca que sempre existe aquela que é a melhor situação dentro das características especificas que o agricultor se encontra. “O agricultor sempre tem as melhores alternativas para buscar e modificar gradativamente e incorpor tecnologia e conhecimento às suas atividades.”

Alexandro Alves acredita que a biotecnologia e demais recursos utilizados no campo certamente serão mais explorados nos próximos anos. Isso se dará devido ao mercado volátil, imprevisibilidades, intempéries climáticas, ocorrências de pragas e doenças entre tantas outras ocorrências às quais as lavouras estão susceptíveis. “Esses são exemplos de como o setor sofre com variações. Portanto, fazer a coisa certa desde o começo e alcançando os resultados é fundamental em qualquer atividade agropecuária, garantindo assim a continuidade do negócio no longo prazo.”

 

 

  Ana Flávia Marinho – Canal-Jornal da Bioenergia

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