Foto: Fredox Carvalho

Entrevista: José Mário Schreiner-presidente FAEG

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José Mário Schreiner é presidente da Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás (Faeg), presidente do Conselho Administrativo do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar) de Goiás e vice-presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA).

Canal: Como o senhor avalia o cultivo de matérias-primas para a produção de biocombustíveis em Goiás?

José Mário: Goiás hoje figura como um dos maiores produtores de biocombustíveis do Brasil. Apesar dos problemas envolvendo a cadeia produtiva em todo território nacional em 2016, face aos problemas de ordem climática e de competitividade dos produtos, permanecemos no ranking de segundo maior produtor de etanol e terceiro em biodiesel. Já temos mais de um milhão de hectares de produção de cana-de-açúcar, com materiais genéticos altamente produtivos e com excelência em produtividade, apesar de estarmos ávidos na busca dos três dígitos na produtividade, ou seja, acima de 100 toneladas por hectare, o que devemos alcançar, com maior volume, nos próximos três anos. Obviamente, em função da crise que o setor passou nos últimos anos, haverá necessidade de recuperar o tempo perdido, no caso na recuperação de canaviais envelhecidos oriundos da falta de investimentos. No caso do biodiesel, a matéria prima principal continua sendo a soja, apesar de já termos um bom avanço no uso de sebo bovino em virtude de sermos hoje o quarto no ranking nacional em produção de carcaça bovina, o que proporciona uma boa produção dessa matéria prima. Em função da facilidade de obtenção e a participação da agricultura familiar, entendemos que a soja deve continuar ainda a ser a principal fonte de produção do biodiesel.

Canal: Quais têm sido os principais desafios dos produtore?

José Mário: No caso da cana-de-açúcar, sem dúvida o principal desafio é o incremento na produtividade. Os custos estão em curva ascendentes ano após ano e não podemos deixar de ser competitivos assim, a busca pela cana de três dígitos é o grande desafio para se produzir mais açúcar e mais etanol. No caso do etanol, a alavancagem na produção pode dar mais segurança ao abastecimento interno e segurança de fornecimento para os compradores internacionais, já que a demanda existe. Hoje, mais de 90 países têm programas de uso de etanol em sua matriz energética e as questões ambientais é o mote da vez.

No caso dos grãos, em especial soja e milho, os desafios são grandes e em diversas áreas. No lado produtivo, dentro das fazendas, podemos destacar o desafio de seguir aumentando a eficiência das lavouras, incrementando a produtividade das lavouras e buscando a redução no uso de insumos (fertilizantes, defensivos). Este desafio está ligado diretamente a rentabilidade dos cultivos, já que os custos de produção estão evoluindo significativamente nos últimos anos, estreitando as margens de renda dos produtores rurais. Fora das porteiras, os desafios também são enormes e afetam praticamente todas as cadeias produtivas. Problemas como os altos custos e condições ruins de transporte, falta de armazenamento nas propriedades rurais, falta de seguro rural efetivo, juros financeiros elevados, insegurança no setor rural são os que mais preocupam, aliados a todos os riscos climáticos e fitossanitários enfrentados nas lavouras do estado.

Canal: Quais novas tecnologias têm sido empregadas nas lavouras em Goiás?

José Mário: No caso da cana-de-açúcar a biotecnologia tem sido o divisor de águas na produção. Materiais genéticos cada vez mais produtivos e adaptados à região dos cerrados têm sido utilizados. Resistência à seca, pragas e doenças tem sido largamente pesquisada e já utilizada em campo saindo da fase de testes. A transgenia finalmente chegou a cultura e, assim como nas culturas da soja, milho, algodão, deve ocupar largamente as áreas produtivas no futuro. Muito ainda há no que avançar para que isso se torne disponível ao produtor da forma mais viável possível, já que os custos desses materiais transgênicos são consideráveis. Acreditamos no papel fundamental das empresas privadas no desenvolvimento dessa tecnologia, porém, precisamos também apoiar as nossas entidades públicas, como Ridesa e Embrapa, que têm papel extremamente relevante na produção da gramínea no Brasil e no mundo. Não podemos deixar de falar ainda na agricultura de precisão, cada vez mais presentes em todas as etapas produtivas, desde o preparo do solo até a colheita, com altíssimo nível de automação.

Nos grãos, a tecnologia tem evoluído significativamente nos últimos anos. No lado dos insumos, os maiores avanços são observados nas sementes, com melhoramento genético entregando produtos com potencial produtivo cada vez maior e com ciclo menor, facilitando a implementação de mais de uma safra por ano. Também nas sementes, a biotecnologia (transgenia) tem facilitado o manejo de pragas e doenças, com a criação de plantas resistentes a herbicidas e ao ataque de algumas espécies de pragas. Em termos de tecnologia, destacamos também os avanços nas máquinas agrícolas, quem com uso de ferramentas avançadas de mapeamento, registro de informações e aferição de dados colaboram para um manejo cada vez mais eficiente nas lavouras. Também podemos destacar o avanço nos defensivos agrícolas, quem tem se tornado cada vez menos tóxicos ao meio ambiente e a saúde, com grande incremento no uso de produtos biológicos. Mais recentemente, podemos destacar também a chegada de inúmeros softwares que colaboram na gestão e manejo das propriedades rurais e das lavouras.

Canal: De que forma a tecnologia vem contribuindo com a produção no campo?

José Mário: O uso de materiais genéticos mais produtivos e adaptados aliados ao uso das ferramentas de agricultura de precisão em uma parte considerável das lavouras tanto de produtores independentes quanto de usinas, tem proporcionado um nível de excelência na produção no campo, porém, assim como em outras culturas, está altamente sujeita às intempéries climáticas, e isso tem sido a principal causa de quedas na produtividade e consequentemente na produção como um todo. O uso cada vez mais forte das tecnologias ligadas à mecanização também é item de grande importância na produção. Hoje em Goiás, quase 100% da cana é colhida mecanicamente, o plantio já chega a mais de 90% e em todas essas fases, a evolução nas atividades é notória, com colheitas monitoradas e cada vez mais eficientes com bom nível de corte e soqueiras com excelente capacidade de rebrota, menor uso de mudas no plantio e qualidade no plantio proporcionando canaviais com stands mais homogêneos.

Canal: Quais deverão ser os investimentos para os próximos anos para a produção de soja, cana e milho?

José Mário: Um dos problemas que afeta grandemente os canaviais vem do clima, e foi justamente um dos fatores principais que provocou quebra de safra na cana em 2016 e a consequente participação na redução no PIB agropecuário. Mediante a isso, uso de materiais genéticos mais resistentes e produtos ligados aos aspectos fisiológicos das plantas tenderão a estarem cada vez mais presentes nos campos de cana-de-açúcar nos próximos anos. Um item fundamental para uma boa produção de cana começa no planejamento e nisso é contemplado um bom índice de renovação de canaviais, que pode variar de 15 a 18%, e já nessa prática deverá haver a implantação de novas variedades mais produtivas e mais resistentes em substituição aos materiais mais antigos, problemáticos e mais sujeitos a problemas com clima, pragas e doenças. No caso do milho e da soja avançar na integração da agricultura e pastagem, para ampliar a área de plantio aproveitando a áreas ociosas e degradadas; na irrigação para elevar a produtividade e dar mais estabilidade à produção e em infraestrutura de armazenagem a nível de propriedade e no transporte, rodovias, ferrovias e hidrovias para redução de custo e aumento da competitividade do setor.

Canal: Como avalia o desenvolvimento do agronegócio pós impeachment? Quais as expectativas com o governo para o próximo ano?

José Mário: No caso do setor sucroenergético as interlocuções com o governo no pós-impeachment devem melhorar, haja visto, a antipatia que o governo anterior detinha com o setor. Um ponto muito importante e que afetou muito a usinas de álcool foi o controle de preços da gasolina e que neste governo já vem sendo adotado preços realistas que permitem o setor de etanol, também adotar preços remuneradores.  Acreditamos que isso deverá ocorrer a partir da melhoria da imagem do industriais principalmente a ideia de serem geradores de empregos, renda para o município, crescimento desenvolvimentista, não são mais suficientes. Todos os itens que compõe a cadeia produtiva são importantes e aqui falamos dos produtores rurais e arrendantes de terras. É inadmissível que um dos principais componentes da cadeia produtiva, no caso do produtor rural, dando condições plenas para que efetivamente a unidade industrial funcione com fornecimento de matéria prima, seja penalizado com falta de pagamentos e seus contratos serem desonrados. A expectativa para o próximo governo é de que haja maior participação de todos os componentes da cadeia produtiva na construção de políticas conjuntas, através das comissões, câmaras temáticas e instancias do legislativo federal, especialmente o produtor rural.

Em relação aos demais setores do agronegócio as expectativas são favoráveis, principalmente em relação ao mercado externo, dado a maior abertura que este governo está dando a política externa. Já em relação ao mercado interna a recuperação dever ser mais lenta os volumes de crédito podem ser mais restritos, mas uma possível reforma trabalhista e tributária, bem como a volta das licitações para concessões na infraestrutura estão sendo vistas com grande expectativa pelo setor.

 

Canal-Jornal da Bioenergia

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