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Entrevista: Antonio de Pádua Rodrigues-Diretor Técnico da Unica

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Membro da equipe da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica) desde 1990 onde exerce o cargo de Diretor Técnico desde 2003. Foi coordenador de Administração e Finanças do Programa Nacional de Melhoramento da Cana-de-Açúcar (Planalsucar) e Supervisor Administrativo-Financeiro dos projetos financiados pela Secretaria de Tecnologia Industrial (STI) do Ministério da Indústria, Comércio e Tecnologia (MICT). Em 1983, implantou junto aos fornecedores de cana o Sistema de Pagamento de Cana por Teor de Sacarose (SPCTS).  É formado em administração de empresas pela Faculdade de Administração de Empresas, Serviço Social e Educação de Americana (SP), com especialização em Administração de Projetos na Faculdade de Economia e Administração (FEA) da Universidade de São Paulo.

Renovabio traz esperanças

Como será este ano para o setor sucroenergético?

Depende da oferta de cana-de-açúcar. Durante a moagem de 2016 vários fatores comprometeram a produtividade agrícola e a qualidade da matéria-prima. Por exemplo, tivemos a questão do envelhecimento do canavial, aumento da incidência de doenças e pragas, forte estiagem no início da safra e as geadas. Esses fatores fizeram com que o setor perdesse uma oferta de cana na ordem de 40 milhões de toneladas.

Para 2017/18, teremos uma safra com uma oferta menor de cana, mas há a perspectiva de mantermos a mesma produtividade da safra passada. No cenário de uma menor oferta de cana-de-açúcar, o açúcar continua como produto forte. Na última safra, 46 % da cana região Centro- Sul foi destinado para a produção de açúcar. Mas a produção de açúcar não deve crescer devido à redução de oferta de matéria-prima.

Outro produto continua sendo o etanol. Em destaque o etanol anidro, espera-se que se mantenha a produção ou que tenha um pequeno incremento. Já a oferta de etanol hidratado deve ser reduzida. Em resumo, os preços serão iguais ou um pouco melhores aos da safra 2016/2017, mas são dependentes da política de preços da gasolina no mercado interno. Mas as perceptivas são altamente positivas.

O Renovabio é a redenção do setor?

A expetativa é altamente positiva. O Brasil assumiu um compromisso na Cop 21 – de reduzir as emissões de CO2, tem uma meta de o país ter que consumir 50 milhões de litros de etanol na matriz de combustíveis de ciclo octo até 2030. Além disso, o Brasil tem que resolver o problema de abastecimento dos nossos veículos, seja com gasolina ou etanol. No atual cenário não há incremento de gasolina, a não ser que tenha a decisão de importar gasolina, mas existe pouca possibilidade em curto prazo de investir neste produto no país. O mesmo acontece com o etanol, neste momento não há perspectiva de expansão.

O Renovabio traz a perspectiva, em longo prazo, que permite a credibilidade ao investidor. Para se expandir uma indústria precisa-se 12 a 15 anos para amortizar o capital e, quando se planta cana, o investimento demora cinco anos. O ano de 2030 está próximo. Se a decisão for tomada agora, os resultados vão começar a aparecer em três ou quatro anos. Assim, para se atingir a meta em 2030, precisa-se de toda a segurança no investimento da expansão e de conhecer efetivamente a verba. A perspectiva do Renovabio é exatamente criar estes instrumentos que deem credibilidade e segurança a expansão, ao investimento.

Em março termina o trabalho do Renovabio, que posteriormente vai para uma consulta pública. Em seguida serão buscados todos os caminhos regulamentares na legislação. A grande espera para 2017 é que se conclua toda a questão referente a expansão do setor, via as regras, a regulação, as políticas públicas que o Renovabio vai trazer.

Haverá ampliação da área plantada e renovação dos canaviais este ano?

Sim, mas para manter o que já existe. Nos últimos anos a área de plantio foi reduzida, principalmente a área de cana de 18 meses. O canavial foi se envelhecendo e a área de colheita foi aumentando. Em 2017 pode acontecer ao contrário. Tem-se um contingente maior de plantio, só que em curto prazo terá uma redução na área de colheita na safra 2017/2018.

Estes são um dos fatores que podem indicar uma menor oferta de cana, por que terá menor área de colheita, uma vez que as empresas vão voltar a investir em cana de 18 meses. Sem dúvida isso vai trazer uma recuperação da produtividade agrícola e gerará efeitos para a safra 2018/2019.

A situação do endividamento das usinas tende a melhorar ?

Penso que sim por uma combinação de fatores. O primeiro são os preços, existem perspectivas que remuneram efetivamente a atividade. O segundo é o processo de aumento de produtividade, que significa a redução dos custos de produção. Com a recuperação da produtividade agrícola, mesmo que tenha o aumento de alguns itens de custo, estes acréscimos podem ser neutralizados dentro da produtividade. Não temos o potencial de trabalhar com 75 a 77 toneladas de cana por hectare, mas com uma média de 85. Ora, temos ganhos de produtividade, com uma safra mais curta, com maior concentração da qualidade da matéria-prima.

 

Canal-Jornal da Bioenergia

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