Erros na pulverização das lavouras geram danos ao meio ambiente

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Defensivos como os fungicidas, herbicidas e outros insumos, a exemplo dos fertilizantes e produtos verdes, têm sido algumas das armas na guerra contra as pragas, contribuindo para o aumento da produtividade. Entretanto, o uso incorreto pode provocar o aparecimento de efeitos colaterais perigosos ao meio ambiente não alvo, até mesmo para a vida humana.

Segundo o especialista em tecnologia de aplicação de defensivos, adjuvantes e agricultura de precisão, professor Titular do Departamento de Engenharia Rural da FCA/Unesp, de Botucatu (SP), Ulisses Antuniassi, cada tipo de produto requer cuidados específicos para utilização. Na aplicação dos herbicidas, por exemplo, há o risco de deriva durante a pulverização e intoxicação de lavouras vizinhas. O uso errado dos fungicidas pode causar danos ao meio ambiente. Já durante a aplicação de inseticidas há o risco de intoxicação de insetos úteis às plantas, como as abelhas.

O engenheiro agrônomo responsável pelo Laboratório de Tecnologia de Aplicação de Agrotóxicos (LTA) da Embrapa Meio Ambiente, Aldemir Chaim, explica que a maioria dos agrotóxicos utilizados atualmente são aplicados por meio de uma diluição líquida denominada calda, que é transformada em gotículas pelos pulverizadores.  “Um fator extremamente importante para o sucesso do tratamento fitossanitário de diferentes culturas é a calibração dos pulverizadores. O objetivo da calibração é colocar a quantidade correta de agrotóxico no alvo com o menor consumo de calda. Se houver uma deposição eficiente, o controle será mais efetivo e o número de aplicações poderá ser reduzido”, explica.

A presença de um engenheiro agrônomo durante a aplicação também é fundamental. Além de operadores treinados e o uso de equipamentos de segurança individual (EPI), Antuniassi ressalta que até mesmo as condições climáticas podem ser determinantes para uma aplicação eficiente.

Durante os períodos de secas prolongadas há o estresse hídrico nas plantas, o que reduz a atividade biológica, prejudicando a absorção do produto pelas folhas e partes ativas. Já as chuvas fortes, quando ocorrem logo após a pulverização, podem ocasionar a lavagem e arraste do produto das folhas e das áreas de absorção pelas raízes. Temperaturas abaixo de 15 ºC e acima de 30 ºC, assim como umidade relativa do ar abaixo de 55%, proporcionam menor absorção do produto. A pulverização também deve ser evitada enquanto as plantas apresentarem as folhas muito molhadas após uma chuva ou devido ao orvalho.

Outro ponto que deve ser avaliado pelo responsável pela aplicação é a velocidade e direção do vento. Aplicações de produtos com ventos acima de 10 km/h devem ser evitadas. O engenheiro da Embrapa observa que o horário da aplicação  também é um fator considerável. “Ela deve ser feita nas horas mais frescas do dia, isto é, pela manhã e ao entardecer”, orienta.

Se a aplicação for aérea, os cuidados devem ser aumentados. Segundo Antuniassi, além do corpo técnico terrestre, deve-se também ter um técnico executor de aplicação agrícola. O especialista observa a necessidade de faixas de segurança para a aplicação. Para perto de áreas urbanas deve-se ter distância mínima de 500 metros, já de cursos de água ou de redes de captação de água esse espaço deve ser de no mínimo 250 metros.

As embalagens dos produtos devem receber uma atenção especial. A legislação em vigor obriga o recolhimento das embalagens vazias e entrega das mesmas  em unidades de recebimento autorizadas pelos órgãos ambientais.

Mas antes do recolhimento, o agricultor deve tomar alguns cuidados. É obrigação do usuário de agrotóxicos proceder a tríplice lavagem das embalagens rígidas. Através deste procedimento, as embalagens devolvidas pelos usuários às centrais e postos de recebimento poderão ser recicladas; caso contrário, serão consideradas contaminadas e remetidas para incineração.

As embalagens não laváveis devem permanecer intactas. As embalagens vazias devem ser acondicionadas em saco plástico padronizado, que deve ser fornecido pelo revendedor. Dentro do prazo de até um ano, essas embalagens deverão ser entregues em um posto de recebimento cadastrado. O agricultor deverá receber um comprovante de entrega que deve ser guardado com a nota fiscal do produto. Caberá ao fabricante ou seu representante legal providenciar o recolhimento de todo o material depositado no posto de recebimento.

Como evitar a contaminação ambiental

– Não manusear produtos fitossanitários no interior ou nas proximidades de residências, escolas, crianças ou pessoas não envolvidas no trabalho e perto de fontes de água ou beira de córrego/ rio/ canais.
– Nunca prepare a calda em ambiente fechado. Proceda à preparação da calda em local ventilado.
– Efetuar sempre a regulagem do seu equipamento e calibração da pulverização.
– Não pulverizar quando o vento estiver muito forte. Evitar a deriva.
– Usar sempre equipamentos de proteção individual (EPIs).
– A temperatura e a umidade relativa do ar influenciam na evaporação das gotas, na movimentação das massas de ar e na sustentação de gotas no ar. Assim, para evitar perdas por evaporação, as aplicações devem ser realizadas nas horas mais frescas do dia, isto é, pela manhã e ao entardecer.
– Toda água de lavagem de equipamentos de aplicação e de proteção individual deverá ser descartada em local que não ofereça risco ao meio ambiente (aproveitar e repassar linhas da cultura tratada).
– Durante o preparo da calda, efetuar a tríplice lavagem da embalagem e destinar para o descarte correto.
– Observar rigorosamente o intervalo entre a última aplicação e a colheita (período de carência).
– Recomenda-se manutenção de faixas de isolamento dentro das áreas cultivadas (de 1,5 a 2,0 m) ou plantio de ‘quebra-vento’ para minimizar a deriva (caso houver) e para servir de obrigo dos organismos considerados inimigos naturais.

Canal-Jornal da Bioenergia

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